Cinema africano?

jul/2017

De longe, o cenário cultural da Nigéria não sugere uma indústria cinematográfica vigorosa, mas ela existe. Nollywood é a terceira maior do mundo perdendo apenas para Hollywood (EUA) e Bollywood (Índia). Isso em termos de faturamento, pois em termos de títulos, fala-se em torno de 2000 por ano. É muito DVD, sim porque não há salas de cinema em Lagos, Ifé ou Abuja (a atual capital do país). Os produtores distribuem seus filmes diretamente aos milhares de videoclubes e videolocadoras do País e também nos camelôs, encarregados de abastecer os potenciais 155 milhões de consumidores. É um cinema de massa, pois as narrativas têm estética local podendo atrair todas as etnias que compõem o país – as maiorias étnicas são iorubá, igbo, e hauçá – os filmes são falados em idiomas locais. “Nós contamos nossas próprias histórias. Não estamos trabalhando para a América”, diz o diretor Ikenna, da Yorubá Movies.

Com orçamento mínimo gasto em cerca de dez dias de filmagem, os DVDs têm público garantido nos EUA e Inglaterra países com imensas comunidades nigerianas. Nollywood é um fenômeno do início dos anos 1990 e não para de se desenvolver. Em 2003, Osuofia in London teve recorde de vendagem dando origem a Osuofia 2 rodado em 2004, o filme foi visto em grande parte do continente africano, além de ter alcançado público expressivo na Europa e nos Estados Unidos. Nollywood é um mercado independente, único, que faz suas próprias regras e consegue a grande façanha de fazer com que o audiovisual chegue a quem se destina, superando o grande entrave que enfrenta a produção brasileira e baiana.

Talvez uma mirada atenta às estratégias africanas possa inspirar o Brasil a fazer com que nossos filmes alcancem amplas plateias que, ignorando o que é produzindo aqui, segue alimentando o domínio de Hollywood. Temos desperdiçado recursos e a possibilidade de construir um imaginário cinematográfico brasileiro. A Bahia pode olhar para o retrovisor, conhecer a força da história do nosso cinema e ao mesmo tempo ampliar o repertório de referências. Desviar o foco dos países centrais com uma tradição cultural, um mercado e uma infraestrutura distantes da nossa realidade a fim de conquistar o que o cinema  nigeriano conquistou: público.

Goli Guerreiro

Goli Guerreiro

Colunista

Pós-doutora em antropologia, curadora e escritora. Tem 6 livros publicados. Trabalha sobre repertórios culturais contemporâneos em diversos formatos: palestras, oficinas, mostras iconográficas, consultoria e roteiros para audiovisual.

Mais artigos

Davi: um símbolo de representatividade e superação no BBB24

A vitória de Davi no Big Brother Brasil 24 representa um marco importante para a representatividade do país. Davi, um jovem negro, mostrou que é possível que pessoas de diferentes origens tenham espaço e voz na mídia e na sociedade. Sua vitória não apenas quebra...

ler mais

O conhecimento é inovador e ilimitado

Todos sabem o quanto sou apaixonada pela temática de inovação e empreendedorismo. Além disso, nos últimos anos me interesso cada vez mais em participar de eventos nessa área, a fim de buscar refletir sobre o estado da arte de todas as áreas. Um evento de inovação...

ler mais

Desafios de branding para empreendedores

Eu sou consultar e empreendedor e por isso enfrento desafios grandes em relação à construção das minhas marcas (Objeto Dinâmico, essa não existe mais, a Branding Dinâmico – consultoria, a Baitech agência focada em tecnologia, e a Bait agência 360º). Obviamente, em...

ler mais

junte-se ao mercado