Entrevista: Maria Rita Pontes – Superintendente das Obras Sociais Irmã Dulce

jul/2019

Irmã Dulce nos deixou um imenso legado – suas Obras – que demandam muitos recursos materiais e financeiros para sua manutenção, mas também uma missão de manter viva a essência do seu trabalho, expressa através do seu amor a Deus na pessoa do pobre.   

                                                                                                                                                                               

 

 

Com um memorial dedicado a mais famosa freira da Bahia – quiçá Brasil -, santuário e outros atrativos, as Obras Sociais Irmã Dulce já atraíam milhares de visitantes dos mais variados locais de origem.  Desde que o Vaticano anunciou a canonização da beata, em maio deste ano, muito tem se especulado sobre as oportunidades que serão geradas para o turismo religioso.

Apenas no memorial, no mês da confirmação, as visitas cresceram 110% em comparação ao mesmo período do ano passado, totalizando mais de 7.400 pessoas, e isto na baixa temporada.

Nesta entrevista, Maria Rita Pontes, superintendente da instituição e sobrinha da primeira santa nascida brasileira, dá uma luz sobre o cenário e impactos da decisão vinda do Vaticano.

 

  

 

ABMP: Qual a importância do turismo religioso para manutenção da Osid e seus 21 núcleos dedicados ao atendimento gratuito e assistência à população carente?

M.R.P: Ao longo de sua vida, Irmã Dulce sempre focou sua atenção para melhor assistir e cuidar dos pobres, acolhendo a legião de desassistidos com ternura e misericórdia. As nossas ações concretas em prol do fortalecimento do turismo religioso estão sendo direcionadas e alinhadas com nossa missão de amar e servir, de forma que os benefícios oriundos do incremento da visitação dos devotos às Obras Sociais Irmã Dulce transbordem em belos frutos para nossa comunidade, em especial, gerando trabalho, renda e desenvolvimento no nosso entorno, acreditando que a nossa instituição poderá se beneficiar com essa nova vertente que se abre, sendo um dos vetores de sustentabilidade, a exemplo do que observamos em outros destinos religiosos no Brasil e no mundo. 

 

Para isto criamos um grupo de trabalho com representantes da sociedade civil organizada, da Arquidiocese de Salvador, de universidades, do empresariado e do governo, que está atuando com base na metodologia de desenvolvimento de arranjos produtivos locais, a partir da identificação das potencialidades e demandas locais nos setores da economia, das carências sociais e de melhorias urbanas para construir um planejamento estratégico, definindo um plano de ações de curto, médio e longo prazos, buscando a sinergia institucional e a sincronia de ações em prol do desenvolvimento de um trabalho integrado e sustentável.

 

Esta ação também vai ajudar a tornar mais conhecido o trabalho que Irmã Dulce desenvolvia extramuros da OSID, nas comunidades pobres das palafitas dos Alagados, Feira de São Joaquim, Comércio, sua visão de assistência social aos trabalhadores como a criação, em 1936, da União Operária São Francisco – primeira organização operária católica do estado, que depois deu origem ao Círculo Operário da Bahia. 

 

Irmã Dulce nos deixou um imenso legado – suas Obras – que demandam muitos recursos materiais e financeiros para sua manutenção, mas também uma missão de manter viva a essência do seu trabalho, expressa através do seu amor a Deus na pessoa do pobre.

ABMP: Desde a confirmação da canonização de Irmã Dulce, o que mudou na Osid enquanto destino turístico?

M.R.P: Ocorreu um aumento significativo de visitantes ao complexo turístico dedicado a Irmã Dulce (Memorial Irmã Dulce, Santuário da Bem-Aventurada Dulce dos Pobres, Dulce Café e Loja Irmã Dulce) e esperamos que, pouco a pouco, esse movimento se converta em ajuda para a manutenção das Obras Sociais. O anúncio da canonização vem também trazendo uma boa visibilidade tanto nacional quanto internacional.

 

ABMP: A Prefeitura de Salvador anunciou, há poucas semanas, um investimento de mais de R$16 milhões para construir o Caminho da Fé, uma rota de 1,1km que ligará o Santuário da Bem-Aventurada Dulce dos Pobres, em Roma, à Basílica do Senhor do Bonfim, no bairro de mesmo nome. O que representa esta obra para a Osid e o turismo religioso baiano?

M.R.P: Vai dotar a região da infraestrutura urbana necessária para receber o turista e consolidar a vocação do turismo religioso na Península de Itapagipe, região da Cidade Baixa de Salvador. Para o trade turístico, representa a formatação de um novo destino de visitação, com a revitalização paisagística e econômica da região, que será contemplada com novos serviços e equipamentos de lazer e cultura.

 

ABMP: A Bahia já é um estado com a tradição do turismo religioso, seja pela história de Irmã Dulce, igrejas suntuosas de Salvador, romaria de Bom Jesus da Lapa ou ainda pelo monumento em Santa Cruz de Cabrália, que marca a primeira missa celebrada no Brasil. Segundo a Secretaria de Turismo, cerca de 5 milhões de turistas vem ao estado com este propósito. Certamente, somos bons anfitriãos, mas somos também turistas nestes locais? O baiano tem o hábito de visitar templos e memoriais religiosos no próprio estado?

M.R.P: Podemos falar da nossa experiência. Neste momento, percebemos o aumento de visitantes baianos, especialmente do soteropolitano, o que não era comum.

 

ABMP: O público que visita o memorial, o Bonfim e outros pontos “sagrados”, são sempre católicos ou há procura por pessoas de outras crenças ou até ateus?

M.R.P: No nosso caso, a predominância é de católicos, porém recebemos público das diversas religiões, visto que Irmã Dulce é considerada um símbolo da caridade e solidariedade que transcende as questões da religiosidade. Vale ressaltar que atendemos em nossos serviços a todos, independente de religião ou crenças. Como Irmã Dulce sempre afirmava: “Quando nenhum hospital quiser aceitar algum paciente, nós aceitaremos. Essa é a última porta e por isso eu não posso fechá-la”.

ABMP: O que mais difere o turismo religioso do convencional, inclusive na forma de comunicar?

M.R.P: Enquanto o turismo convencional procura passar ao visitante os valores culturais, históricos, naturais, o turismo religioso, além de abordar estas questões, tendo como base a espiritualidade, trabalha com a sensibilidade e emoção do visitante, provocando uma busca interior. Do norte ao sul do Brasil são organizadas festas, peregrinações e rotas religiosas. São milhares de fiéis que buscam, em cada um destes destinos, reforçar sua fé, agradecer por suas bênçãos ou apaziguar seu sofrimento.

ABMP: É preciso ser ainda conservador na comunicação ou modernizar a linguagem é uma forma também de atrair diferentes públicos?

M.R.P: É impossível não trabalhar com as novas tecnologias comunicacionais, principalmente quando queremos atingir os diferentes públicos, e também quando temos como objetivo atingir o público jovem, que dará continuidade ao processo de preservação e consolidação da história da vida e obra de Irmã Dulce.

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