Entrevista: Pedrinho Figueiredo – Fixer

nov/2021

“A observação prática diária, semanal e a troca constante de informações se tornaram imperativos no cotidiano profissional de quem tem a comunicação por ofício “                                                                                                                                                                                  

Sabe o significado de um fixer? Num breve resumo, é aquele profissional que resolve quase tudo e tem alta capacidade de conexão de pessoas. Inclusive, é uma profissão cada vez mais comum na classe A brasileira e já começa a cair nas graças de clientes baianos. Um dos mais requisitados deste público e apresenta esta profissão para os associados e leitores da ABMP é Pedrinho Figueiredo. Além de jornalista, administrador, consultor em marketing de relacionamento, produtor executivo e gestor operacional da carreira de Regina Casé, atriz e apresentadora, ele também é fixer, e um dos maiores desse mercado no país.

Em meio a este mix de atividades que acrescentam umas às outras, nessa entrevista, ele dá detalhes e exemplos de como equilibra e soma as atribuições, em meio às instabilidades econômicas e sociais no país. O consultor dá ainda dicas de boas práticas para os artistas em tempos de redes sociais e cancelamento e reflete sobre como o mercado de serviços para pessoas da alta sociedade está posicionado na capital baiana.

 

ABMP: Você se identifica como um fixer, o tipo de profissional que auxilia empresas, projetose pessoas no que for preciso, seja no campo de logística ou até mesmo de compartilhar informações. Como é esta profissão, na prática, e aceitação dela no Brasil?

PF: Eu costumo dizer que esse é um tipo de trabalho inerente às pessoas que tem grande capacidade comunicativa. Além de administrador, eu também sou jornalista, o que facilita o processo. É algo desenvolvido, em certa medida, de maneira involuntária por quem circula muito, interage muito e possui uma rede de contatos em diversas áreas. É preciso ser vigilante e estar sempre atento para que os limites éticos e legais sejam respeitados. Na prática, o que fazemos é conectar pessoas e empresas a serviços, idéias e facilitadores.

Vamos a um exemplo prático: recentemente, um amigo me pediu ajuda para adquirir um casal de elefantes para um zoológico particular, localizado no interior de São Paulo. Fizemos algumas ligações para criadores da América Latina, África e bingo! Os animais devem desembarcar por aqui no segundo semestre do próximo ano. É mais que um serviço de concierge, são construções de relacionamentos e conexões duradouras de modo a se atingir o objetivo de ambas as partes. É a terceirização de obrigações. Um lobby legal e positivo.

 

 

ABMP: Lázaro Ramos, historicamente, é ator. Hoje pode ser reconhecido como escritor e diretor. Outro exemplo é o Galvão Bueno que, além de narrador esportivo, possui uma marca de vinhos e é a nova estrela do mercado publicitário nacional. A Regina Casé tem esse perfil multipapéis também. Como você define as estratégias de carreira e rotina de personalidades tão versáteis, muitas destas que você agencia?

PF: Por questões contratuais, eu não posso falar publicamente sobre rotinas e estratégias profissionais de pessoas próximas ou as que assessoro. Porém, digo que hoje, as figuras públicas precisam se reinventar a cada hora. A velocidade das informações, as mudanças de padrões e paradigmas são cada vez mais constantes. É preciso estar atento ao mercado, mas também ao seu redor. A observação prática diária, semanal e a troca constante de informações se tornaram imperativos no cotidiano profissional de quem tem a comunicação por ofício.

 

ABMP: Há tempos, o trabalho de gestão de uma carreira era focado em três pilares: conteúdo, assessoria de imprensa e publicidade. Com esse tripé indo bem, o mundo era o limite. Hoje tem a questão das redes sociais e até comportamental do artista, que são levados muito em conta para o público e potenciais parceiros. Reflita um pouco sobre os desafios de ser celebridade/influencer/famoso nos tempos atuais.

PF: Até pouco tempo atrás, existiam basicamente dois tipos de artistas e formadores de opinião: os da música e os da televisão. Hoje, com o advento das redes sociais, a expansão desse mercado é flagrante. Ao meu ver, um dos pontos cruciais é a exposição/posicionamento dos artistas/influencers nas mídias sociais. Todo cuidado é pouco ao abordar assuntos sensíveis a determinados grupos. Afinal, toda vez que uma celebridade é associada a uma marca há uma transferência de responsabilidade, autoridade e familiaridade entre personagem e produto ou serviço.

Um estudo recente realizado por neurocientistas alemães apontou que o uso de indivíduos conhecidos em campanhas publicitárias desencadeia, de maneira inconsciente, estímulos afetivos nos consumidores. Portanto, é de fundamental importância que artistas, agentes, contratantes e agências selecionem de maneira criteriosa, aqueles que serão associados às suas marcas e produtos. Imagina um vegetariano estrelar uma campanha de uma indústria frigorífica? Esse case já até ocorreu no mercado brasileiro. Mas o dano hoje, dada a velocidade de aspersão de informação nas redes sociais, é muito maior. Cautela e consciência são palavras de ordem. O artista deve lucrar com o seu trabalho, mas deve ter a sua reputação e imagem cuidadas a todo o momento. O “fazer por fazer” pode destruir, em minutos, uma carreira construída a duras penas e muito trabalho.

ABMP: Falando agora sobre o mercado de luxo no qual atua, com clientes seletos que a própria função de fixer viabiliza, você roda o país em prospecção de novos negócios. Salvador, inclusive, é uma das suas rotas mais constantes. Qual sua impressão sobre este mercado na capital baiana, quanto à oferta e demanda de produtos, serviços e projetos destinados a esse público?

PF: Eu acredito muito no mercado soteropolitano. Porém, existe um debate antigo entre empresários acerca do consumo sazonal de produtos e serviços de luxo em Salvador. Trocando em miúdos e resumindo bem, é como se o consumidor de alto poder aquisitivo da cidade gastasse os seus recursos consumindo produtos e serviços fora daí – ou o fazendo de maneira sazonal, durante a alta estação, por exemplo.

Os defensores dessa teoria (eu sou um deles), concluem que o dinheiro escapa do mercado ou se concentra em determinada época do ano. Em contrapartida, os investimentos públicos e privados realizados nos últimos anos, principalmente nas áreas de infraestrutura e cultura, projetaram Salvador mundialmente. E ainda há expectativa de aquecimento do mercado.

Podemos tomar como exemplo dessa mudança, a chegada do Hotel Fasano e o surgimento de empresas e profissionais que prestam serviço de concierge voltados para o público AA. Acredito que, para serem efetivas, as estratégias de fomento do incremento de serviços e produtos premium em Salvador devem focar na permanência do potencial do consumo na cidade. É preciso convencer de que a cidade oferece aqueles produtos e serviços antes buscados em outros mercados. É um processo lento, mas que já registra cases de sucesso.

 

ABMP: O que o público de classe A espera de um serviço? O comportamento mudou durante a pandemia?

PF: Durante a pandemia, o mercado de luxo brasileiro foi o que registrou menor arrefecimento de acordo com dados do Euromonitor International. Foram observadas diversas mudanças de comportamento, uma delas foi um maior consumo de produtos e serviços premium dentro do Brasil, por conta das restrições impostas pelo coronavírus, como viagens, por exemplo.*

Na época das medidas mais privativas, o alto poder aquisitivo do mercado de luxo brasileiro ficou escancarado. Aliás, foi possível conhecer uma faceta dos consumidores de alto padrão que até então era desconhecida. Quem dispõe de capital, não deseja ser privado de nada. Mas como a privação era um fato, cabia buscar alternativas para que essa privação fosse adaptada. Produtos de lojas de grife foram enviados para as residências dos clientes. Assim também funcionava com os restaurantes estrelados. O meu fornecedor de vinhos, que é um dos maiores do Brasil, praticamente zerou o estoque. Os maiores escritórios de arquitetura e lojas de móveis e decoração não davam conta dos pedidos, pois, ao ficar mais tempo em casa, as pessoas começaram a investir mais no lar. Os aviões privados não paravam em solo, pois os vôos comerciais estavam escassos e existia a necessidade de deslocamento por parte de famílias e profissionais. Ainda não temos dados concretos, mas, talvez o ano pandêmico de 2020 tenha sido um dos mais lucrativos para o segmento de serviços e produtos de alto padrão.

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