“Gripezinha”, a marca registrada

abr/2020

O Coronavírus já tem uma marca registrada: “Gripezinha”. E não foi criação de nenhum publicitário de renome, pelo contrário, o idealizador do conceito é um cidadão de baixos instintos e pouca cultura, admirador de ídolos de pê de barro, um deles um americano também de baixos instintos e grande fortuna herdada do pai, empreiteiro de duvidosa reputação.

Em 26 de fevereiro esse senhor já dizia aos Estadunidenses que o Corona era “apenas uma gripe”. A fala inspirou ao nosso clone brasileiro, já referido, a oportuna frase da “Gripezinha”; foi quase uma cópia, tudo bem, isso não lhe subtrai a genialidade.

A “Gripezinha” sempre será a marca registrada no Brasil desta crise, mesmo quando a poeira baixar e os cronistas e diretores de cinema juntarem as pontas e registrarem para a posteridade este momento fora da curva, porque fora de qualquer previsão. “Gripezinha”, hoje e “Gripezinha”, sempre. Sem dúvida é um “case” de branding à altura da Coca Cola.

O mercado de comunicação foi uma das vítimas da “gripezinha”, veículos, fornecedores e as agências de propaganda, mas, também, o mercado de live marketing, este com as suas atividades praticamente zeradas, pela sua natureza de prestação de serviços que envolvem entretenimento e ações de ativação. Na Bahia o adiamento da micareta de Feira de Santana e a suspensão do São João nenhum planejador de marketing conseguiria prever. Um Tsunami para os negócios.

O mercado de comunicação já viveu outra grande crise em março de 1990 quando todos os brasileiros tiveram o seu dinheiro sequestrado nos bancos, no limite de 50 reais de saque. O chamado Plano Collor. Era a bala de canhão para debelar uma inflação descontrolada, apostou em tirar a liquidez do mercado como solução. Da noite para o dia as empresas não sabiam como pagar salários e os colaboradores com quanto contar. Foi, porém, uma crise de curta duração, essa sim uma “gripezinha” que não afetou os empregos, não houve paralisia da atividade econômica e logo a normalidade estava restaurada.

A atual “Gripezinha”, o primeiro grande evento catastrófico do mundo globalizado, sem precedentes na história recente da humanidade, forçou um isolamento social atípico com paralisia de quase todas as atividades econômicas. A questão é até quando isso vai durar e o preço a pagar pelos cidadãos e empresas, a curto e médio prazo, dos auxílios governamentais anunciados no montante de centenas de bilhões de reais. Números a perder de conta.  Quando a fatura chegar saberemos o alcance do espirro, nessa hora, sem máscara de proteção.

Enquanto isso, entidades do mercado publicitário (ABAP, Sinapro, ABMP e Central de Outdoor) com gestão da ABAP/Ba, lideraram a campanha “Bahia de Mãos Dadas” com o slogan “Ajude da forma que você puder”, participação especial e generosa de Gilberto Gil; campanha assinada por outras representativas entidades cidadãs e empresariais. Em tempos de “Gripezinha” uma mensagem desse teor, focando na solidariedade e inspirando talentos para soluções de crise é a melhor contribuição que o mercado de comunicação poderia oferecer.

_______________
O conteúdo e opinião publicados neste artigo são de inteira responsabilidade do autor ou autora.

Nelson Cadena

Nelson Cadena

Colunista

Escritor, jornalista e publicitário.
Mais artigos

Pacto afrodescendente

Um dos impactos do Sream Festival 2019, evento promovido pela ABMP em 6/7 de dezembro último, foi o pacto afrodescendente envolvendo as maiores agências de publicidade do Estado em torno de um compromisso de igualdade racial, ou seja, uma maior inclusão da etnia no...

ler mais

Eu odeio a Propaganda

O mundo mudou e está mudando. Todos os dias. E é obvio que a publicidade também muda, dentre outras ferramentas do marketing, está cada vez mais presente na vida das pessoas. Infelizmente. Eu disse e vale ressaltar: INFELIZMENTE. Não sei onde nós vamos chegar. Percebo...

ler mais

A campanha da Previdência: o caro e o barato

Propaganda é cara. Todo mundo sabe e quando digo todo mundo me refiro a quem é da área, ou seja, quem conhece a matéria. Propaganda é cara, sempre foi e nunca deixará de ser, pois no seu objetivo final que é massificação, ou público alvo definido, viabiliza dezenas de...

ler mais

Três aniversariantes

É hora de ascender as velhinhas e comemorar. Três importantes veículos de comunicação da terra comemoram este ano marcos cronológicos de sua fundação: Correio *, TV Aratu e Tribuna da Bahia. O Correio* que nasceu Correio da Bahia, em 15/01/1979, já festeja os seus 40...

ler mais

Janeiro, fevereiro e março

Janeiro foi um mês consagrado ao Deus Janus, daí a sua denominação, divindade das portas e dos portões, é clara a simbologia da porta que abre um novo ciclo. A sua representação iconográfica era curiosa: um Deus olhando para frente e para trás, para o futuro (o ano...

ler mais

A bunda de Papai Noel

Passei a semana olhando a bunda de Papai Noel. Todo mundo olha a barba e a barriga, repara no gorro e na cadeira onde está sentado, olha de soslaio para a decoração em volta, mas ninguém repara na bunda. Para corrigir esse imperdoável desleixo é que fui de shopping em...

ler mais

junte-se ao mercado