A sub-representação racial no jornalismo impresso e os seus impactos socioculturais e políticos

out/2023

Publicado em maio de 2023, a pesquisa ‘Raça, gênero e imprensa: quem escreve nos principais jornais do Brasil?’, elaborado pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEEMA), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Instituto de Estudos Sociais e Políticos, revelou uma situação desconfortável nos pontos de inclusão e diversidade entre os principais jornais impressos do país.

Com o objetivo de identificar qual o perfil racial e de gênero das pessoas que escrevem nos três principais jornais em circulação, assim como reconhecer os espaços por elas ocupados e quais conteúdos abordados por cada um(a), o estudo revelou, logo “de cara”, que apenas 36,6% das profissionais de jornalismo em atividade nesses veículos, são mulheres.

Ponto de observação: das 1200 pessoas analisadas, apenas 1 pessoa, ou seja, 0,08% da amostra, se identifica como mulher trans.

Ainda mais complexo e preocupante está a distribuição racial por jornal. Segundo a pesquisa, 84,4% dos colaboradores são brancos, seguidos de pardos (6,1%), pretos (3,4), amarelos (1,8%) e indígenas (0,1%). Se afunilarmos essa pesquisa para a equipe editorial, descobrimos que 93% dos(as) editores(as), ou seja: aquelas pessoas que decidem as pautas e publicações, são pessoas brancas.

Assustador em todas as esferas, os números apresentados na pesquisa refletem o quanto a diversidade, por mais que promovida em campanhas e iniciativas nacionais, ainda está longe de ser realidade. Se entendermos que a ausência de equilíbrio de gênero e raça nas esferas do quarto poder, afeta a forma como o contexto da comunicação é construída, compreendemos que no fim, somos todos consumidores de conteúdos escolhidos por homens e homens brancos.

Com impacto direto na forma como a sociedade se reconhece e constrói as suas narrativas, a ausência de diversidade nos mais diversos ambientes – como já citei no artigo ‘Racismo algorítmico e os desafios da inteligência artificial’ ao explicar o efeito da ausência de diversidade entre programadores e desenvolvedores –, provoca a invisibilidade em pautas, estéticas, tecnologia, potências, descobertas e fragilidades de temas centrais e essenciais para os avanços da contemporaneidade.

Pensar sociedade sem entender a exigência de variados discursos, espaços, inclusão e percepções associados à diversidade, é manter-se em estado negação a inovação, perda financeira e fracasso social.

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O conteúdo e opinião publicados neste artigo são de inteira responsabilidade do autor ou autora.

Rodrigo Almeida

Rodrigo Almeida

Colunista

Relações Públicas, Mestre em Gestão e Tecnologia Industrial, Professor Universitário e Diretor da agência CRIATIVOS.

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