Antecipação precoce

nov/2018

Vivemos antecipadamente o que deveria ter outro tempo. Tornou-se uma prática tão comum que mal nos damos conta disso. Antecipamos o natal com os shoppings center exibindo as suas decorações de época desde a última semana de outubro; antecipamos o Black-Friday na tentativa de ampliar o que se imagina seja o potencial da data; antecipamos o Réveillon e quando janeiro chegar já estaremos antecipando o Carnaval que em 2019 será em março. E de antecipação em antecipação a vida vai e a vida vêm e toda pressa faz sentido, esse é justamente o problema.

O síndrome da antecipação precoce não tem possibilidade de tratamento e por isso mesmo não tem cura e é tão grave que agora mesmo, três semanas transcorridas da eleição de 2018, já tem gente pensando na de 2020 e em especial na de 2022; gente em euforia e outros sofrendo, estão ai as redes sociais que não me deixam mentir. É mais do que antecipação precoce e nem percebemos que o excesso de expectativas é a própria falta delas.

E assim logo mais estaremos inaugurando um novo ano com poucas perspectivas para a comunicação social que de social não tem mais nada a não ser o nome bonito e hipócrita, tão distante da realidade, que alguém colocou nos distantes anos 60 ou 70 do século passado, se enganado não estou.

Perspectivas sombrias de um lado para o jornalismo político que terá se adaptar à nova realidade da comunicação pelo presidente eleito totalmente direcionada para as redes sociais. E ninguém precisa jogar os búzios para saber que a imprensa e os jornalistas vão receber muitas bordoadas e caneladas de nosso presidente eleito, bem ao estilo Trump que por esses dias distribuiu mais algumas para os repórteres da CNN. Quem mandou provocar o homem, é muito topete.

As coisas podem ser piores para o mercado publicitário e os veículos de comunicação. Seguramente, e isso já foi anunciado, que as verbas de publicidade do governo federal devem diminuir, além da dos governos estaduais que iniciam mandato e precisam mostrar alguma austeridade. As agências de publicidade devem sentir os efeitos na pele e no osso e os veículos de comunicação que dependem muito dessas verbas___ radio e sites de noticias em especial____ vão sentir no fígado.

A publicidade governamental criou um círculo vicioso e pernicioso do qual é difícil sair. Eu programo seu veículo que precisa falar bem de mim governo, ou pelo menos pegar mais leve quando eu governo errar. E eu veículo, sim senhor você tem razão, apoio você o governo desde que você pague minhas contas; o lucro eu vou buscar junto à iniciativa privada.

Outros tempos? Balela. É o mesmo tempo fora do tempo. Fico por aqui e já peço desculpas pela minha previsão precoce.

Nelson Cadena

Nelson Cadena

Colunista

Escritor, jornalista e publicitário.

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