“Não espere ficar tudo bem pra ser feliz!”
Você já pensou o quanto de autorização pessoal pra ser feliz você se oferece? Quando é que, finalmente, você vai poder dizer: “Ah! Agora eu posso!”
Se você ficar esperando estar tudo bem na sua vida pra poder celebrar, sorrir, curtir e agradecer, vai passar parte dela correndo atrás, se perdendo da direção que precisa ir, sem valorizar o quanto você já alcançou.
As pessoas transformaram a felicidade em utopia, esperando chegar o momento em que estariam gozando da plenitude para se autorizarem sentir. Não percebem que vão ficando impedidas de curtir momentos agradáveis, por julgarem serem insuficientemente dignos de comemorações.
Então, o que é mesmo digno de celebração, hoje?
Criaram até o termo “emocionadas demais”, agregando à palavra ‘EMOÇÃO’ uma carga estereotipada, que promove, socialmente, um crivo de pessoas querendo controlar outras, no que se refere às doses aceitáveis para que se sintam emocionadas.
Se sempre existiram pessoas que têm dificuldade em lidar com suas próprias emoções, agora é como se tivéssemos perdido a liberdade de, naturalmente, senti-las. E cada um vai se tornando juiz da felicidade alheia!
E o que isso tem acarretado? Dificuldades sobre o desfrute natural das próprias emoções! Se as pessoas mais travadas são as mais prejudicadas com esse movimento atual, precisamos, urgente, tomar consciência de que NINGUÉM colhe vantagens com isso.
Ao contrário! O que eu tenho atendido de casais que se queixam que o par amoroso tem dificuldade de expressar emoções, vocês nem imaginam! E eu considero que parte dessas angústias são de responsabilidade desse julgamento em torno da dose que é, ou não, aceitável, de “emocionamento” das pessoas diante da vida.
Viramos, então, juízes das emoções dos outros?
Se continuarem por onde estão indo, a felicidade vai se tornando cada vez mais inalcançável, e os pequenos feitos vão perdendo a importância, num movimento de busca incessante por um estado de êxtase, mais fantasioso do que real.
Por exemplo, nas relações de amor, já é comum o comportamento de pessoas que iniciam seus vínculos afetivos investigando o “nível de ‘emocionamento” da pessoa com quem estão se envolvendo, levando a um controle sobre os sentimentos do outro e sobre sua própria maneira e apropriação do seu sentir! Então, qual entrega é possível, se até O SENTIR está no automático?
Quanto a este aspecto, confesso ainda me surpreender com qual a essência da mensagem que é trazida por falas como: “Não curto pessoas emocionadas demais”; “Pra mim, se a pessoa já chega muito emocionada é porque está carente, e eu não dou conta de administrar carência alheia nesse estágio da vida”.
Estão querendo alguém que AME no automático? Como assim?
Viver envolve momentos de amor e de dor, e se as pessoas não compreenderem que todo mundo passa por isso, nesse percurso, que é viver, vai ser perpetuada a expectativa de uma vida sem dificuldades, que é sabido que poucas pessoas têm a sorte e o destino de experimentarem.
Se autorizar a sentir alegria e estar feliz envolve algo maior, no sentido da pessoa administrar as próprias culpas e saber transpor determinadas crenças de menos valia e não merecimento. Quanto de leveza e estado de graça você julga ter recursos emocionais para sustentar? Já pensou sobre isso?
Projetar um parâmetro futuro de felicidade muitas vezes leva a um rigor sobre a forma de avaliar pequenos episódios de alegria que estejam acontecendo no seu momento presente. Quantas pessoas vocês conhecem que arrastam memórias do passado e idealizam novas formas de viver o futuro, sem conseguirem se manter no estado de presença? E quantas coisas essas pessoas estão deixando de sentir porque não se permitem manter-se onde estão?
Agora imagine viver num mundo em que expressar suas emoções passa por um crivo social, que faz com que você seja julgado? A pessoa mais intensa vira alvo e, nessa dinâmica, quem transborda emoção se expõe à análise dos outros. Tem vigorado uma ordem velada sob o entendimento de que quem domar o que sente garante um refúgio contra exposições e consequentes julgamentos.
Saímos da geração da triste realidade do “engula o choro” para uma mais castradora geração do “é inadequado se emocionar”, que traz implícita a mensagem de que é insuportável conviver de perto com o aquele que se permite SENTIR SEM CONTROLE.
Se cada um cuidar do que sente, e parar de querer controlar a forma do outro sentir, será possível compreender que uma pessoa pode (e deve) comemorar uma conquista profissional, ainda que sua vida amorosa não seja aquela que ela sonhou ter; ou pode (e deve) gozar de uma viagem, ainda que não tenha alcançado o padrão financeiro que planejou para si; ou pode comparecer a uma festa, dançar e sorrir, mesmo tendo passado o dia cuidando de um parente que esteja acamado, por motivo de doença. A vida é dinâmica, e alegrias e tristezas podem caminhar juntinhas.
Na realidade, a liberdade daquele que se permite sentir sem controle só agride quem não sabe lidar com suas próprias emoções. Então, termina sendo tudo sobre a pessoa que julga, e muito pouco sobre a pessoa que sente. Dessa forma, se o que você sente mora em você, a entrega disso ao mundo não deveria ser dosada pelo medo do que o outro vai pensar de ti.
Já se deu conta do que VOCÊ está fazendo com o que VOCÊ sente?
Quantas coisas você tem permitido passar despercebidas sobre você, por medo de senti-las como deveria, e terminar sendo julgado?
É muito difícil estar tudo sempre bem, mas isso não é justificativa pra você não observar o que está. Não adianta ignorar suas emoções, pois sua mente conta tudo pro seu corpo. Então, tome posse, já, de tudo o que você sente, e se permita a liberdade de expressar do jeito que você quiser.
A felicidade é uma permissão que temos que nos dar!
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O conteúdo e opinião publicados neste artigo são de inteira responsabilidade do autor ou autora.
Sinara Dantas Neves
Colunista
@acuradoraferida
Doutora e pós doutoranda em Família na Sociedade Contemporânea (UCSaL-BR/ ICS- Universidade de Lisboa – PT);
Mestre em Psicologia (USP); Psicoterapeuta sistêmica (ABRATEF 206-BA); Professora universitária há 23 anos;
Pesquisadora da Conjugalidade; Escritora; Palestrante;
Mãe, amante da sua profissão e apaixonada por gente!
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