Cinema africano?
De longe, o cenário cultural da Nigéria não sugere uma indústria cinematográfica vigorosa, mas ela existe. Nollywood é a terceira maior do mundo perdendo apenas para Hollywood (EUA) e Bollywood (Índia). Isso em termos de faturamento, pois em termos de títulos, fala-se em torno de 2000 por ano. É muito DVD, sim porque não há salas de cinema em Lagos, Ifé ou Abuja (a atual capital do país). Os produtores distribuem seus filmes diretamente aos milhares de videoclubes e videolocadoras do País e também nos camelôs, encarregados de abastecer os potenciais 155 milhões de consumidores. É um cinema de massa, pois as narrativas têm estética local podendo atrair todas as etnias que compõem o país – as maiorias étnicas são iorubá, igbo, e hauçá – os filmes são falados em idiomas locais. “Nós contamos nossas próprias histórias. Não estamos trabalhando para a América”, diz o diretor Ikenna, da Yorubá Movies.
Com orçamento mínimo gasto em cerca de dez dias de filmagem, os DVDs têm público garantido nos EUA e Inglaterra países com imensas comunidades nigerianas. Nollywood é um fenômeno do início dos anos 1990 e não para de se desenvolver. Em 2003, Osuofia in London teve recorde de vendagem dando origem a Osuofia 2 rodado em 2004, o filme foi visto em grande parte do continente africano, além de ter alcançado público expressivo na Europa e nos Estados Unidos. Nollywood é um mercado independente, único, que faz suas próprias regras e consegue a grande façanha de fazer com que o audiovisual chegue a quem se destina, superando o grande entrave que enfrenta a produção brasileira e baiana.
Talvez uma mirada atenta às estratégias africanas possa inspirar o Brasil a fazer com que nossos filmes alcancem amplas plateias que, ignorando o que é produzindo aqui, segue alimentando o domínio de Hollywood. Temos desperdiçado recursos e a possibilidade de construir um imaginário cinematográfico brasileiro. A Bahia pode olhar para o retrovisor, conhecer a força da história do nosso cinema e ao mesmo tempo ampliar o repertório de referências. Desviar o foco dos países centrais com uma tradição cultural, um mercado e uma infraestrutura distantes da nossa realidade a fim de conquistar o que o cinema nigeriano conquistou: público.
Goli Guerreiro
Colunista
Pós-doutora em antropologia, curadora e escritora. Tem 6 livros publicados. Trabalha sobre repertórios culturais contemporâneos em diversos formatos: palestras, oficinas, mostras iconográficas, consultoria e roteiros para audiovisual.
Mais artigos
“Na caverna que você teme entrar, encontra-se o tesouro que busca.”
Você já se perguntou o que torna um personagem um verdadeiro herói? A resposta pode estar em um padrão antigo, que atravessa culturas e épocas: a Jornada do Herói. De Luke Skywalker a Harry Potter, passando por Cinderela e além, todos eles compartilham uma trajetória...
Davi: um símbolo de representatividade e superação no BBB24
A vitória de Davi no Big Brother Brasil 24 representa um marco importante para a representatividade do país. Davi, um jovem negro, mostrou que é possível que pessoas de diferentes origens tenham espaço e voz na mídia e na sociedade. Sua vitória não apenas quebra...
Entre o subterrâneo e o submerso: o que está à mostra numa relação a dois?
Foi unânime a reação das pessoas, pelas redes sociais, diante da cena (humilhante de assistir), em que um participante de um reality show tem suas roupas jogadas na piscina, por outra participante. Não se tratava de um par amoroso, mas, vale a reflexão sobre quantas...
O conhecimento é inovador e ilimitado
Todos sabem o quanto sou apaixonada pela temática de inovação e empreendedorismo. Além disso, nos últimos anos me interesso cada vez mais em participar de eventos nessa área, a fim de buscar refletir sobre o estado da arte de todas as áreas. Um evento de inovação...
Desafios de branding para empreendedores
Eu sou consultar e empreendedor e por isso enfrento desafios grandes em relação à construção das minhas marcas (Objeto Dinâmico, essa não existe mais, a Branding Dinâmico – consultoria, a Baitech agência focada em tecnologia, e a Bait agência 360º). Obviamente, em...
O que é preciso saber sobre uso de IA na propaganda eleitoral em 2024
Em todo ano com eleições, é comum que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) lance normativas atualizando ou definindo as regras de tudo que concerne o período eleitoral. Entre os temas que são regrados, está o da propaganda eleitoral. A Resolução nº 23.732/2024...
junte-se ao mercado