Entre o subterrâneo e o submerso: o que está à mostra numa relação a dois?
Foi unânime a reação das pessoas, pelas redes sociais, diante da cena (humilhante de assistir), em que um participante de um reality show tem suas roupas jogadas na piscina, por outra participante.
Não se tratava de um par amoroso, mas, vale a reflexão sobre quantas cenas, tristes de assistir, vocês já presenciaram entre pessoas que estão vivendo uma história amorosa?
Cenas como: rasgar as roupas; tocar fogo em objetos; quebrar vidros de carros; jogar os pertences pela janela; zunhar; morder; sacolejar ou esmurrar paredes e portas…
Quem está como personagem das cenas, geralmente não tem dimensão da proporção onde o relacionamento chegou. Mas, pra quem está de fora, simplesmente testemunhando, dá um aperto no coração, pela impotência que se sente ao não saber como tirar o casal dessa escalada simétrica, em que, somente 1 dos 2 poderá se retirar.
São expressões de descontrole, que denunciam, justamente, a dificuldade de comunicação existente entre o casal.
Na minha prática clínica com casais, percebo o quanto a competição é um elemento presente nas relações de amor.
Quando o casal vicia estar no vínculo, nutrindo laços competitivos, perdem o ‘time’ de controlarem alguns impulsos, cegos pela energia de disputa. E, aí, o risco de se desrespeitarem também fica eminente, já que, nesse nível, é como se valesse tudo, para garantir a razão.
Enquanto os casais acharem que precisam encontrar “de quem foi a culpa” pelos acontecimentos da sua relação, irão gastar energia em vão, porque, na conjugalidade, não se considera que 1 dos membros foi culpado de nada que envolve os 2, mas, sim, ambos têm responsabilidade por tudo que acontece com o par.
É importante pensar o quanto você se compromete por essa relação, e o quanto seu par tem se responsabilizado, também.
Cada um assumindo suas responsabilidades, fica mais fácil perceberem o quanto devem se comprometer, daquele momento em diante.
Comprometer-se pelo vínculo é missão numa relação de amor. Na verdade, deveria ser!
Quando os 2 não se comprometem, fica sempre algo boiando, ou algo submerso.
E, então, quando alguém é confrontado, tenta, assim como no reality show, se mostrar pior do que fora acusado, como forma de expor sua indignação e chamar atenção para o que, provavelmente, já precisava ser visto antes.
No reality, a participante que jogou as roupas do colega na piscina, fazia, aos berros, alertando que, já que fora considerada baixa, precisava demonstrar ser ainda mais baixa, do que baixa, o que ela chamou de ‘subterrânea’.
Quantos casais vocês já testemunharam ser tão subterrâneos por não terem olhado para o que estava submerso nas suas relações?
Lembrem que somos de uma geração que assistiu as reações de indignação por infidelidade na TV, no cinema e até na porta da casa dos vizinhos!
Sim, isso não resolve as questões conjugais, mas ilustra a incapacidade do casal em não ter construído uma forma eficaz de comunicação, se permitindo permanecer em relações que já tinham acabado, mas não tinham chegado ao fim.
E o pior panorama ainda é aquele em que se busca responsabilizar uma 3a pessoa, descontando nela a decepção da sensação de traição, que, atitudes de deslealdade ao vínculo causam.
A sensação é mais profunda que os danos da infidelidade, e as ações são explicadas pela impossibilidade de olhar pra onde precisa ser visto, e de responsabilizar quem precisava ser responsabilizado e punido.
Elege-se um bode expiatório, muitas vezes desavisado, como depositário das angústias, se há o reconhecimento pessoal de não conseguir sustentar a decisão de se impor diante do cônjuge, e assumirem um término.
Então, assim, as dores continuam submersas, e suas causas permanecem no subterrâneo… e não faltarão estímulos para que aconteçam novas cenas de repúdio, que vão se tornando familiares aos casais, ainda que, absolutamente, não saudáveis/disfuncionais.
Quantos casais vocês conhecem, que vivem assim?
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O conteúdo e opinião publicados neste artigo são de inteira responsabilidade do autor ou autora.
Sinara Dantas Neves
Colunista
@acuradoraferida
Doutora e pós doutoranda em Família na Sociedade Contemporânea (UCSaL-BR/ ICS- Universidade de Lisboa – PT);
Mestre em Psicologia (USP); Psicoterapeuta sistêmica (ABRATEF 206-BA); Professora universitária há 23 anos;
Pesquisadora da Conjugalidade; Escritora; Palestrante;
Mãe, amante da sua profissão e apaixonada por gente!
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