Janeiro é o momento de consultar as pitonisas

jan/2018

A mídia é quem alimenta essas bobagens, desde tempos remotos quando um repórter se dava ao trabalho de ouvir Madame Beatriz e outras cartomantes e elas, sabendo isso, desde novembro do ano anterior já preparavam suas previsões que quase nunca se confirmavam, a não ser aquelas do tipo “um político importante vai morrer este ano” e obvio que isso ocorria. E isso bastava para no ano seguinte entrevistar de novo.

Mais tarde a mídia deixou para trás as pitonisas que foram perdendo credibilidade para ouvir outros futuristas que jogavam o Tarô, ou, liam os búzios, e assim e conscientes da fragilidade dessas previssões, mesmo assim a mídia insiste em ouvir todo fim e início do ano essas pessoas, antigamente chamadas de espertalhões; hoje como nada cobram, pelo menos para os veículos, o que vale é aparecer no jornal, ou, na TV. Bom para eles

Convenhamos que esse é o se papel e não tem culpa de serem consultados. O problema é da mídia que se esforça em ser cada vez mais banal e nem há necessidade disso que banal já é. Se ainda se publicam horóscopos nos jornais, um verdadeiro absurdo considerando que estamos no século XXI, por que não ouvir e publicar as previsões dos “futuristas”? Farinha do mesmo saco. Os jornais atendem o público que os compra. Se o horoscopo tem leitores e vende, por que não? Que dirá antecipar os fatos, melhor ainda.

Como eu já andei metido nesse engodo (aos 17 anos como foca de um jornal em Bogotá, minha cidade natal, uma das minhas funções era inventar o horóscopo, quando este não chegava em tempo, o que era frequente) tenho credibilidade e muita para fazer previsões sobre 2018. Aguardem aí enquanto olho a borra do café, fiz tão ralo que nem borra ficou, mesmo assim já estou enxergando coisas:

No mercado publicitário duas agências de propaganda fecharão as portas e surgirá uma nova que terá um profissional de criação à frente dela. A borra me diz que teremos uma recuperação dos negócios e que o mercado imobiliário voltará a anunciar, mesmo que devagarinho. A bendita borra escorrendo pela xicara me mostra uma imagem indefinida que parece muitas coisas. Significa que tudo pode acontecer em 2018, melhor ter cabeça fria para nada disso acontecer.

Deixei para o final o fundo da xicara. Sinceramente não sei se devo contar, ou não, o que vejo. Vamos nessa: haverá demissões em importantes agências da terrinha; funcionários não terão reajuste salarial em função da crise que ainda perdura; muita gente boa passará o ano se lamentando, dizendo que os negócios vão de mal a pior. Maus presságios, como se vê.

Fico por aqui que, de tanto mexer, a borra do café acabou. Significa que quando 2018 acabar estaremos desejando um 2019 melhor e quando este acabar um 2020 melhor e assim por diante. Sinal de uma eterna insatisfação. Faz sentido. Afinal não somos publicitários, somos masoquistas.

Nelson Cadena

Nelson Cadena

Colunista

Escritor, jornalista e publicitário.
Mais artigos

Sou culpado de abandono de redes sociais, eu confesso!

Quem nunca abandou uma plataforma de mídia social, que me dê o primeiro “deslike” (estou usando liberdade poética para expressar minha ironia). Antes de adentrar no texto, alguns dos meus motivos para “desencanar” de algumas redes sociais: falta de criatividade da...

ler mais

SEPARAÇÃO não é um BICHO PAPÃO (não deveria ser)

A lei do divórcio (6.515/1977), sancionada em 26 de dezembro de 1977, foi responsável por mudanças profundas na sociedade brasileira. Antes dela, o casamento era pautado pelo vínculo indissolúvel, e, por isso, muitas pessoas se mantinham juntas, mesmo quando...

ler mais

Por um letramento histórico e racial na propaganda

Adoro passear na cidade e observar as propagandas que estão em todos os lugares. Dos outdoors duplos e triplos que visam impactar de forma estratégica seu público-alvo, aos cartazes de quando andamos nas ruas em pequenos centros comerciais. Gosto de observar o que as...

ler mais

Comporte-se e liberte-se!

São muitas variáveis que percorrem o entorno dos consumidores e, quando se trata de entender seu comportamento, testar opções pode ser mais adequado considerando um ambiente em constantes mudanças. Além das análises tradicionais que, atualmente, muitos softwares de...

ler mais

Se o seu algoritmo é branco, a culpa é sua

Em setembro deste ano assisti a uma palestra da atriz e apresentadora Regina Casé, direcionada para uma turma de artistas, criativos, formadores de opinião e empresários de todo o país. Entre ponderações, risadas e provocações, uma fala me atiçou à reflexão: não cabe...

ler mais

junte-se ao mercado