Máscaras de uma vida fragmentada
Antes de toda essa loucura de pandemia começar, quando eu ouvia alguém falar a palavra máscara a primeira coisa que vinha à minha mente era aquela música do Chico Buarque de Hollanda, “Noite dos Mascarados”, que diz mais ou menos assim: “Quem é você? Adivinha, se gosta de mim. Hoje os dois mascarados procuram os seus namorados perguntando assim. Quem é você? Diga logo. Que eu quero saber o seu jogo”…. E por aí vai.
Mas aí, em 2020, fomos obrigados a acoplar um acessório em nossas vidas: a máscara. Não por opção, mas por sobrevivência. Mas claro que o brasileiro não seria obrigado a usar um item sem poder customizá-lo, não é mesmo? Em meio a tantas perdas e incertezas, e sem poder se despir deste artefato de segurança, a máscara se tornou uma forma de as pessoas se comunicarem, de mostrarem ao mundo suas emoções, pensamentos, insatisfações, o que havia no íntimo.
Passamos a ver um festival de estilos, cores e estampas circulando pelos quatro cantos. Desde cachorrinhos e ilustrações fofas até símbolos de clubes, partidos políticos, santos católicos e até orixás. Passamos a pensar: “qual o mood de hoje?” e isso começou a determinar o estilo da máscara que iríamos vestir.
Mas nos últimos tempos, lendo notícias sobre a flexibilização ou não obrigatoriedade do uso de máscaras como medida de proteção ao enfrentamento da Covid 19, me deparei com o Projeto de Lei 5412/20, apresentado pelo deputado Heitor Freire (PSL-CE) à Câmara dos Deputados. O PL traz a argumentação de que pretende preservar as liberdades individuais e estimular o voluntarismo e o direito do cidadão de fazer suas próprias escolhas.
Achei a explicação tão filosófica. E a frase anterior não contém ironia, juro. Achei mesmo filosófica, pois pensei automaticamente na questão das máscaras sociais. Para mim foi impossível me deparar com esse argumento de “preservar as liberdades individuais” e não pensar nas máscaras que utilizamos todos os dias, desde os primórdios da humanidade, máscaras para o ambiente de trabalho, em casa, com os amigos, com o companheiro ou a companheira. É como se fossemos aquele personagem do M. Night Shyamalan no file “Fragmentado”. Mas será que não somos mesmo?
Desde que mundo é mundo, o ser humano possui duas grandes necessidades psicológicas: ser aceito e pertencer a um contexto social. Se não fosse dessa forma, o que seria do marketing e a publicidade? Papo para um outro artigo.
Mas, mesmo precisando ser aceito e pertencer a algo, o ser também que manter a sua essência. Ou, pelo menos, tentar mostrar que sua essência se mantém preservada. Será mesmo? Quantas vezes, no último mês ou na última semana, você usou uma máscara para poder se integrar ou se fazer ouvir? Tem valido a pena? Será que temos feito essa análise ou as máscaras já estão tão afixadas em nossas faces que já não sabemos quem verdadeiramente somos?
Uma frase que frequentemente martela em minha mente quando penso em tudo isso é: “Torna-te quem tu és”, do Friedrich Nietzsche. Sabe por quê? Porque ela me faz lembrar, dia após dia, que se eu não puder ser o que sou, fazer o que acredito, trabalhar com o que me inspira e me motiva, não terei condições de carregar as máscaras que, muitas vezes, preciso. Em algum momento do meu dia terei de me “desfragmentar”.
Sem ingenuidades, as máscaras estão aí e, muitas vezes, não temos como fugir delas. Mas a grande questão que trago para analisarmos aqui é: o quanto estamos dispostos a nos despirmos dessas máscaras que carregamos ou que a sociedade nos coloca para sermos felizes, mostrarmos o que somos, o que desejamos e no que acreditamos? Devemos ainda usar certas máscaras para agradar o outro? Quais são as suas máscaras e o quanto elas estão afetando a sua vida?
Agora que voltamos a nos encarar sem máscaras (dessa vez me refiro às de proteção contra a Covid) e depois de passar por tudo o que passamos – e ainda passaremos -, será que conseguiremos nos enxergar de uma forma mais profunda, para além das aparências e, o principal, respeitando a individualidade de cada um?
Diego Oliveira
Colunista
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