O ativismo dos trending topics
Apesar das postagens nas redes sociais, muitas vezes elas não são acompanhadas de práticas efetivas
As redes sociais são espaços virtuais que amplificam, visibilizam e proliferam as diversas “vozes” existentes, especialmente das minorias. O crescimento paulatino de usuários das principais redes (Instagram, Facebook e Twitter) permitiu que causas há muito tempo pautadas na sociedade conseguissem uma visibilidade, e apoio, mundial. Assuntos que integram os temas de diversidade, pluralismo e inclusão, como o antirracismo, a luta pelo respeito e direitos da comunidade LGBTQIAP+, o feminismo negro, entre outros, estão cada vez mais presentes nas redes através das marcas e de profissionais.
No entanto, é possível dizer que as pessoas e as empresas praticam aquilo que postam e afirmam nas redes sociais? O que elas para fazem em sua práxis para transformar a sociedade e para conscientizar? Aliás, essas empresas e profissionais são conscientes? Trago aqui o exemplo de George Floyd e o “Black Lives Matter” (movimento “Vidas Negras Importam”) para que você compreenda aonde quero chegar.
Em 25 de maio de 2020 morria George Floyd, um homem negro, de 46 anos, asfixiado até à morte por um policial branco, após tentar trocar uma nota falsa de 20 dólares, segundo versão dos militares. Isso ocorreu em Minnesota, Estados Unidos. A brutal morte do homem negro, que proferiu como últimas palavras a frase “eu não consigo respirar”, gerou uma comoção mundial e promoveu uma revolta antirracista global, inflamada pelo movimento “Black Lives Matter” que realizou manifestações por, ao menos, dez dias seguidos.
Nas redes sociais, ‘choveram’ postagens, em feed, story e tweets, de indignação com o ocorrido, pedindo mudanças e declarando “Vidas Negras Importam”. Até mesmo quem nunca havia se pronunciado sobre o tema, ou assuntos relacionados, colocou a foto preta, com a hashtag #blacklivesmatter. A filósofa estadunidense, Ângela Davis, foi extremamente citada por sua afirmação “não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”. Mas e após a inflamação desse levante diminuir, o que as marcas, artistas famosos e demais profissionais fizeram de efetivo para transformar a vida do povo preto? Pense.
Nas favelas e periferias brasileiras morrem diversos jovens, diariamente, pela mão do racismo institucionalizado que é posto em ação efetiva através da polícia militar. Cadê Amarildo? Não sabemos até hoje. E qual a punição dos policiais que mataram 12 jovens negros, no bairro do Cabula, em Salvador, na Bahia? Nenhuma! Por que os corpos negros estendidos nos chãos do nosso país não nos comovem? Por que só aderimos àquilo que vem de fora, ou da Europa ou da maior economia mundial (EUA)? A filósofa Djamila Ribeiro afirma, em seu livro “Quem tem medo do feminismo negro?” (2018), que “vidas negras não importam dentro da lógica racista”.
É verdade! Nos comovemos com um caso que ocorreu em outro país, mas não conseguimos sentir a dor, sofrida diariamente, de quem está tão próximo, ao nosso lado. O que de fato grandes marcas e personalidades fazem para mudar a realidade de jovens pretos das favelas, além das postagens nas redes sociais quando há comoção nacional ou mundial, e no novembro negro? Lhe deixo pensar. E ressalto: de forma alguma quero dizer que casos de racismo internacionais não devam gerar comoção, mas quero chamar a atenção para o fato de que, em muitos casos, nada é feito para alterar a estrutura racista presente em nosso cotidiano, além da vitrine na internet.
Fiz todo esse giro para questionar: de que adianta sua militância se isso não sai das redes sociais? Como essa vitrine transforma efetivamente a vida das pessoas que integram as ideologias que você defende? Era aqui que eu queria chegar! Esse “envolvimento”, por assim dizer, servirá apenas para que seu perfil esteja nos trendings topics. Pois é, o ativismo de rede social não muda a vida das pessoas.
É preciso um olhar sensível, questionador e investigador para problemáticas que estão no âmbito do pluralismo e da diversidade. Entretanto, de nada adianta essa observação significativa se não houver mudanças práticas, seja no ambiente corporativo ou pessoal. Mudar o ambiente significa também estar ao lado de pessoas que estejam de acordo com o que você e/ou sua empresa comunica.
Se auto intitular a favor da diversidade (isso vale para pessoas e empresas) e andar com pessoas, ou apoiar marcas, que corroborem com a perpetuação do preconceito, não orna. A transformação verdadeira só vem a partir de ações efetivas. Que comecem a passos lentos, sim, mas que comecem! Não adianta só postar, estar por dentro do hype, se nada faz para contribuir com a promoção da diversidade e igualdade. Que tal refletir por onde você pode começar?
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Diego Oliveira
Colunista
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