O patrimônio cultural da Santa Casa da Bahia
A rica história e cultura de Salvador atravessaram continentes e oceanos até Macau, na China, onde fui convidado a apresentar o patrimônio cultural da Santa Casa da Bahia, durante o XXII Congresso Internacional das Misericórdias, realizado em maio. Foi um momento ímpar voltado a compartilhar de que forma a entidade contribui para a preservação da história da capital baiana e fomenta a cultura na cidade.
A Santa Casa da Bahia, fundada em 1549 – mesmo ano da cidade de Salvador – iniciou suas atividades como Hospital da Caridade e, por 200 anos, foi a única instituição a prestar assistência à população local. De lá pra cá, acumula um legado de 470 anos em ações de solidariedade nas áreas de saúde, educação, cultura e ação social.
Quando o assunto é cultura, a Santa Casa da Bahia atua em frentes que incluem o Museu da Misericórdia, o Centro de Memória Jorge Calmon, o Circuito Cultural do Cemitério Campo Santo e a manutenção de prédios históricos. São locais de grande relevância na conservação e democratização da cultura local, que contribuem na construção da identidade baiana e para a sustentação do turismo local, favorecendo a economia.
Situado no prédio tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 1938, o Museu da Misericórdia recebe em média 40 mil visitantes anualmente, que vão conhecer o acervo composto por cerca de 3800 obras entre pinturas, esculturas, azulejaria, prataria e mobiliário. No local, ainda temos a Igreja da Misericórdia, considerada um marco da arte portuguesa e um dos mais belos monumentos religiosos de Salvador.
Outro destaque deste patrimônio é o Circuito Cultural do Cemitério Campo Santo, maior representante da arte cemiterial do Estado, com mais de 200 obras catalogadas – entre elas, a Estátua da Fé, tombada pelo Iphan em 1966. A Santa Casa da Bahia também é responsável pelo Centro de Memória Jorge Calmon, local que possui acervo documental histórico do século XVII até os dias atuais, com 1.800 livros e mais de 1.000 caixas de documentos, que recebe pesquisadores, historiadores e visitantes de todo o mundo. Sua estrutura contempla um laboratório de digitalização, fundamental para o trabalho de preservação deste importante acervo. Destacam-se ainda os 11 livros de Banguê, reconhecidos pela Unesco no Programa Memória do Mundo, em 2009.
A instituição também mantém outros imóveis de inestimável valor cultural, como o prédio do Hospital Santa Izabel, construído no Século XIX, em estilo neoclássico, tombado pelo IPAC, desde 1984. E o Complexo da Pupileira, construído em 1840, também tombado desde 2002. Lá está localizada a Capela Nossa Senhora das Vitórias, construída no mesmo século em estilo neogótico tardio, um dos últimos exemplares da arquitetura religiosa com alpendre em ferro de Salvador.
Mas o desafio de manter estes espaços é grande. O pouco incentivo público captado é equivalente a apenas 15% do custo mensal do Museu da Misericórdia, por exemplo. Já o Centro de Memória e o Circuito Cultural são 100% mantidos pela Santa Casa da Bahia. Em momentos pontuais, projetos foram aprovados por Leis de Incentivo, mas a captação destes recursos não é simples. Além da grande concorrência com outros projetos culturais de maior apelo, como espetáculos de teatro, shows e o Carnaval, o poder decisório de muitas empresas é fora do estado, favorecendo a aprovação de projetos no eixo Rio-SP.
Nossa expectativa é que esse cenário mude, para que mais entidades, públicas e privadas, sejam sensíveis às questões culturais e históricas. A Santa Casa da Bahia acredita no potencial transformador da cultura e investe nisso como vetor fundamental para o desenvolvimento da nossa sociedade.
Roberto Sá Menezes
Colunista
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