O pequeno príncipe de Maraú
Essa Bahia tem é história. Arrumando o baú, achei parte da transcrição da entrevista feita com Onília pela jornalista Liliane Reis, quando estávamos gravando Dom Pepê em Maraú e procurávamos pistas do pouso do escritor Saint Exupéry naquelas paragens. Na península corria o boato que uma mulher nativa chamada Onília tinha tido um romance com o aventureiro escritor e fomos atrás desta história. Para minha surpresa ao chegar na casa simples de Onília encontramos uma cadeira de avião na varanda e para ficar ainda mais intrigante a coisa, antes de começar a entrevista, ela foi lá dentro e voltou com um exemplar do “Pequeno príncipe” em francês, com dedicatória de uma prima do piloto, que também esteve em Campinhos, atrás de rastros do escritor, buscando memórias.
Liliane – É o Pequeno Príncipe em francês?
Onília – É, a prima dele que me mandou.
Liliane – Como é que é o nome dele ?
Onília – Antoine Exupéry.
Fiquei admirado, com a pronúncia de Onília, uma pessoa humilde com a pronúncia perfeita quando se tratava de falar o nome do escritor, alguém deve te-la treinado a pronunciar corretamente. A entrevista continuou e já se notava lapsos de memória em
Onília :
Liliane – Quantos anos a senhora tinha?
Onília – Eu acho que tinha uns 20, mas não pensava em negócio de namoro, essas coisas. Eu saía com ele as vezes de tarde, quando eu me endireitava, saia com ele preso na mão. Eu disse a prima dele que eu me arrependo de não ter ido com ele.
Liliane – A senhora já voou de avião?
Onília – Demais
Liliane – E ele lhe convidou alguma vez para entrar no avião dele
Onília – Convidou sim. Ele se dava muito com minha mãe, atrás da filha (risos ). A prima dele queria me levar. Eu não quis. Eu devia ter ido, mas o pior é que chegava lá e só via o retrato dele, porque ele já tinha ido pra sepultura, né! E ele me deixou, só podia ter me deixado pela morte, e eu não tive coragem de ir com ele, eu era muito bobinha. Também foi um azar danado, nunca mais arranjei ninguém.
Me lembro que fiquei bastante intrigado com esta história e procuramos mais pistas e o quebra cabeça foi se armando. Descobrimos que antigamente tinha em Campinhos uma pista de pouso de areia e uma casa que funcionava como uma pequena base de apoio para aviação, para quando os pequenos aviões ficassem impedidos de pousar em Salvador. O caso era o seguinte, a pista do aeroporto de Salvador era de barro e quando chovia era impraticável o pouso por causa da lama. Avde Campinhos era de areia, quando chovia não tinha problema. Fomos até o local aonde era o alojamento e a pista e conversamos com o senhor que tinha comprado a área, era da região e sabia de toda a história.
Liliane – Era uma casa de apoio para aviadores?
Homem – Era uma casa de apoio. Aqui tinha uma campo de aviação que foi muito utilizado na época da segunda guerra, quando o aeroporto de Salvador, que era de barro, não dava para pousar, eles pousavam aqui.
Liliane – Saint Exupéry ?
Homem – Sim , o escritor. A casa que ele ficava era aquela ali ( apontando ) . Ele tinha uma mesa um pouco mais baixa que as convencionais, porque ele era baixinho. Eu sei aonde está essa mesa. Está em Barra Grande , mas não posso contar aonde. Ela tem uma plaquinha que esconde o nome dele. Você tira a placa e embaixo tem o nome dele. Era uma mesa que ele mandou fazer só para escrever. No final da Guerra ele foi embora e acabou morrendo num acidente de avião na África.
Achei a história tão fantástica e verdadeira que prossegui a pesquisa por um tempo, busquei alguém que tivesse conhecido Onília na época e encontramos um antigo caseiro de uma pensão aonde os franceses comiam e as pistas se tornaram mais reais quando ele falou de Onília : “ Onília era metida, se vestia igual as moças da cidade e não dava bola para os nativos, só queria saber de conversar com os gringos”.
A partir daí levei a história a Tania Gandon, historiadora, e ela ficou bastante impressionada, pois era praticamente uma confirmação de uma de suas teses, aonde ela descreve como contra espionagem, os voos de Exupéry pela costa brasileira, incluindo sua passagem pela Bahia.
Em novas pesquisas achamos novos rumores do pouso dele na Península e diz a história ou a lenda, que ele ele classificou esse pedaço de terra como local precioso para descanso, para grande amores e grandes festas. ESSA BAHIA TEM É COISA.

Sérgio Siqueira
Colunista
Formado em Administração de Empresas pela Ufba com especialização em programação visual , marketing institucional , propaganda e eventos. Gerente de Criação e Produção e desenvolvimento de projetos e campanhas institucionais e culturais da Rede Bahia.
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