Papel ou não papel. Não é essa a questão.
Estamos em março de 2017 e, olhando aqui para o papel em branco, me lembrei dos meus primeiros dias de aula na faculdade. Era março de 1996 e, numa aula de Teoria da Comunicação, um profético professor sentenciou: “O papel vai acabar”. E me lembrando ainda de McLuhan e seu “O meio é a mensagem”, vejo que temos levado isso tão a sério que muitas vezes esquecemos o que realmente somos: criadores de conteúdo. Uma campanha, um jingle, um post, uma websérie, tudo é conteúdo. Estamos vivendo essa crise institucional, essa discussão off/on, noline.
Que formato terão as agências? Vão continuar existindo? É óbvio que temos que evoluir com a forma, com o meio, mas a essência permanece e não pode nunca ser esquecida: precisamos não só chegar, mas ficar no coração e na mente das pessoas. O destino, o objetivo é o mesmo, o que mudou e vai continuar mudando sempre é o caminho.
Hoje escuto no Spotify as mesmas músicas que eu esperava tocar no rádio com a fita em rec-play-pause. Ah, e o vinil voltou. Fazer Branded Content é mais antigo que andar pra frente. Novo é só o nome. Galinha Pintadinha virou febre com as cantigas que minha avó cantava. Ganhou roupa nova, com clipes animados e chega por download na appstore. Mas Pai Francisco continua entrando na roda tocando seu violão. O filme mais lindo e mais premiado de 2016 é nada mais, nada menos que… um musical. Se La La Land fosse lançado há 30 anos, seria lindo do mesmo jeito e daqui a 30 continuará sendo. Já pensou se os produtores simplesmente pensassem: “Um musical, em 2016??”
A natureza humana é a mesma. Não viramos ETs. A curiosidade que dá audiência ao BBB é a mesma que se perguntou: “Quem matou Odete Roitman?” e a mesma que, há mais de um século, se questiona se Capitu traiu mesmo Bentinho.
Velho é achar que tudo o que conhecemos não vale mais nada e a resposta está em alguma mirabolância que ainda não conhecemos. Essa supervalorização da forma em detrimento do conteúdo só estimula a mediocridade e o conteúdo raso, afinal ele não é importante e vai ser descartado, mesmo, né?
Não! Vamos parar de viver com medo de que o papel acabe. E daí se acabar? Melhor que morrem menos árvores. Dá pra ler Dom Casmurro no Kindle. Não importa como o papel se apresenta. O que importa é que a página em branco me olha desafiadora todas as manhãs. E eu continuo com medo dela.
Lívia Diamantino
Convidado
Diretora de Criação da SLA Propaganda. É redatora publicitária desde 1998. Formada em Publicidade e Propaganda pela Universidade Católica do Salvador e MBA em Marketing pela UNIFACS. Entre 2005 e 2008, lecionou disciplinas de Redação Publicitária e Planejamento em cursos de graduação de Publicidade e Propaganda.
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