Quando um furacão acontece dentro da gente…

set/2025

Às vezes, a gente tem todo o ano muito bem programado dentro da gente. E, ao passar do tempo, “nos tocamos” que nem tudo que planejamos realizar, realmente ocorreu. Nessa hora, então, é preciso ser bem generoso com esse rigor de início de ano, chamando para a consciência o fato de que não temos controle absoluto sobre a vida, e aceitando que nem sempre daremos 100%, principalmente quando não estamos 100%.

Tem momentos em que só conseguimos estar 30%, e esse é o nosso máximo possível naquele dia, então, você está dando seu máximo! Isso é tudo que você pode disponibilizar naquele momento. Sinta esse máximo, observe esse máximo, até chegar um outro dia em que você vai estar nos seus 100% de novo. E vão ter muitos outros dias em que seu máximo será o que você, intimamente, sabe ser seu mínimo, mas, pra quem tá ao seu redor, será o máximo que você consegue entregar, e pode estar sendo o suficiente para a expectativa do que aquela pessoa esperava receber de você, e tá tudo bem. 

É interessante quando, de repente, “um furacão” acontece dentro da gente, e arrasta tudo que tava sendo prioridade para ‘o ultimo lugar da fila’. Nos damos conta de que, realmente, não dominamos nada, e que querer controlar e se cobrar em torno desse controle é ocupar o tempo presente de forma arrogante e rígida consigo mesmo.

A vida já tem toda a rigidez inerente a ela. Não precisamos ser tão carrascos com a gente mesmo! Há juízes severos, em torno de nós, e isso pode ser o estímulo suficiente para sermos mais colo do que chicote, na nossa direção. 

A extrema competição que tem guiado as relações sociais, e a comparação permanente nas redes sociais, encobrem a realidade de quem somos, e nos contamina por uma idealização do que poderíamos estar sendo, nos fazendo buscar algo que, muitas vezes, nem sabemos qual o sentido que tem, mas acreditamos que, dessa forma, talvez experimentaríamos uma maior sensação de pertencimento. 

Sem percebermos, nos sentimos cobrados, nos envolvemos pelas expectativas dos outros sobre nossa vida e, naturalmente, nos forçamos a produzir, a gerar conteúdo, a publicar com frequência e a atualizar as pessoas sobre como estamos, o que estamos fazendo e o que estamos sentindo. Então, nas horas em que somos engolidos por questões que nos invadem, não damos conta de estar tão presente como as pessoas estão habituadas a nos ver.

Quando nos distanciamos dessa rotina contemporânea de estar em interação digital, e ficamos reclusos nas questões da vida real, as pessoas estranham nossa falta de constância e começam a criar hipóteses, sem bases sólidas, enquanto você também se cobra qual o dia que você vai reaparecer, qual o dia em que você vai se sentir novamente inteiro, pra dar conta dessa demanda social.  

Quanto tempo você precisa pra sustentar “os furacões” que aparecerem enquanto você tá vivendo tudo isso? A quem você precisa, primeiro, satisfazer, para se sentir melhor? Pra quê tanta pressa em dar conta das expectativas e projeções sociais, se você ainda não se sente satisfeito com a resolução das questões que invadiram o seu ser, e que se tornaram tão maiores do que todas essas definições sociais nas quais você está submerso, sem perceber?

O mais importante nesse percurso é, também, compreender que a vida continua acontecendo pra todo mundo, e enquanto você vai vivendo seus “furacões”, quem te cerca também está enfrentando os deles. E, por isso, é favorável saber a hora de voltar à(s) sua(s) realidade(s) sem esperar que você tenha vontade, porque quando estamos tomados por turbulências pessoais, a vontade é luxo, e é grande a possibilidade de seguir e, na trajetória, se surpreender com ‘ela’ chegando, e terem um encontro especial, que vai lhe fazer voltar “ao seu normal”, ainda que o “furacão” não tenha passado.

Assuma seus “furacões”, sem se refugiar por muito tempo numa caverna emocional como fuga. Tem uma hora que é preciso aceitar que não dá pra garantir êxito em tudo, mas, voltar a se assistir caminhar é, exatamente, o que poderá elucidar novas possibilidades. 

Vamos?! Te dou as mãos!

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O conteúdo e opinião publicados neste artigo são de inteira responsabilidade do autor ou autora.

Sinara Dantas Neves

Sinara Dantas Neves

Colunista

@acuradoraferida
Doutora e pós doutoranda em Família na Sociedade Contemporânea (UCSaL-BR/ ICS- Universidade de Lisboa – PT);
Mestre em Psicologia (USP); Psicoterapeuta sistêmica (ABRATEF 206-BA); Professora universitária há 23 anos;
Pesquisadora da Conjugalidade; Escritora; Palestrante;

Mãe, amante da sua profissão e apaixonada por gente!

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