Que roque sou eu?
O que vende mais, ficção ou realidade? Ou a junção de ambos?
Não nego que sou apaixonado pela televisão. E a teledramaturgia está entre minhas paixões. Mesmo antes de contar com as novelas nas estratégias de marketing, elas já me encantavam com a majestosa arte de “reinventar a vida”.
Lembra-se ou ouviu falar sobre QUE REI SOU EU? e ROQUE SANTEIRO?
Novela de Cassiano Gabus Mendes, Que Rei Sou Eu? foi um grande sucesso na tela da Globo no final da década de 80. Em 2012, repetiu o sucesso de audiência quando foi reprisada no canal pago Viva. O ano de 1989 foi uma época de efervescência política. O Brasil estava prestes a eleger um novo presidente da República e há muito tempo não se via tanta liberdade para se falar ou escrever sobre política. O autor soube aproveitar bem o momento e criou a novela, que foi uma sátira à situação política a qual o País atravessava. O reino fictício de Avilan era um país decadente em finais do Século XVIII e se via às voltas com os problemas causados pela morte do rei. O reino precisava de um sucessor, só havia um filho bastardo e este não se deixaria corromper pelos conselheiros da rainha, interpretada por Thereza Raquel. O jeito encontrado pelo malévolo conselheiro Ravengar (Antonio Abujamra) foi colocar um mendigo no trono, enquanto o verdadeiro herdeiro iniciava uma guerra para tomar o poder. A trama foi marcada pelo humor escrachado. O desfile de reis, rainhas, nobres e plebeus na telinha conquistou o público, que conseguia identificar os temas atuais, como corrupção, mudanças na moeda, burocracia, injustiças sociais e a sucessão do poder na trama.
Alguns anos anteriores o Brasil e o mundo conheceram Roque Santeiro, sátira à exploração política e comercial da fé popular, a novela marcou época apresentando a cidade fictícia como um microcosmo da nação brasileira. O município é Asa Branca, onde os moradores vivem em função dos supostos milagres de Roque Santeiro (José Wilker), um coroinha e artesão de santos de barro que teria morrido como mártir ao defender a cidade do bandido Navalhada (Oswaldo Oliveira). O falso santo, porém, reaparece 17 anos depois, ameaçando o poder e riqueza das autoridades locais. Incentivada pelo fazendeiro Sinhozinho Malta (Lima Duarte), a viúva Porcina (Regina Duarte) – que sequer conhecia Roque – espalhou a mentira de que havia sido casada com o santeiro, e acabou se transformando em patrimônio da cidade. Ao conhecê-lo, apaixona-se e a trama ganha muitas emoções!
Imagino que você esteja pensando: “esse cara é mesmo noveleiro!”. Já eu estou refletindo: qual a razão de citar estas duas grandes produções da teledramaturgia nacional? (que inclusive foram traduzidas e transmitidas em inúmeros outros países).
Ambos enredos trazem a realidade para a ficção. Embora as histórias estejam prestes a completar bodas de ouro, elas são muito atuais no que dizem respeito a mostrar “a vida como ele é” dentro do universo do entretenimento. O que ainda é muito atual. E isso só se expandiu ao longo dos anos.
E sobre demais itens das grades de programação? O que é ou não real? Quais são os equívocos na constante busca por audiência?
Fazer o suspense para revelar algo que já está divulgado na internet; fingir que o apresentador concorda com o que está sendo falado; mostrar que no mundo artístico tudo são flores… A internet vem revelando que não se vestem máscaras ou vivem de personagens. Os que se destacam são aqueles que fazem o que gostam, têm repertório sobre o assunto que apresenta e não seguem exclusivamente as orientações no ponto ou teleprompter.
A família perfeita, o ambiente de trabalho perfeito, o casal perfeito estão longe de serem perfeitos! E percebo que as marcas estão compreendendo isso… ou melhor, as marcas estão atentas às pressões da sociedade e passaram a apresentar posicionamentos menos irreais. A própria televisão tem se adequado, trazendo mais pluralidade e diversidade na programação.
Entendo que é necessária a construção de novos atributos para conquistar e reter uma audiência. Fundamental a construção de relacionamentos pautados em propósitos reais.
Mesmo que tenhamos personagens inventados, como Roque Santeiro, a essência precisa ser verdadeira. Do contrário, a sopa de letrinhas das campanhas de comunicação vai esfriar, perderá aroma e saber diante do público que se quer atrair.
Estamos na era do debate, das reflexões, do levantamento de bandeiras que impactam toda a sociedade. Assuntos complexos, como o racismo e manutenção da democracia, tomam ruas e telas. E nós, profissionais da comunicação, temos que fazer o melhor uso possível da criatividade e inovação para propor obras primas como Que Rei Sou Eu? e Roque Santeiro – que souberam falar da realidade com a maestria da ficção.

Diego Oliveira
Colunista
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