Sobre Havana

abr/2017

 

Fidel está morto? Havana está viva, quente e eloqüente. Extremamente movimentada, a madrugada da cidade revela uma vida insuspeita. Longos deslocamentos a pé reúnem pessoas em diversos pontos, em frente a teatros magníficos, boites, cafés cantantes. De dia, calçadas repletas, feiras, filas. Havana é vaidosa e do luxo de seu barroco-espanhol espreita-se a vida íntima das casas que se estendem nos portais de suas ruas abrigadas de sol e chuva, onde se movem pessoas falantes, curiosas, espertas. Um lugar perfeito para um flâneur. Caminhar, perder-se, encontrar-se. É exótica e familiar, é linda, triangular, invadindo um azul denso de um Caribe particular. Não há praias em Havana, o longo cais do Malecon abriga muitas outras práticas. É um espaço amplo, de bate-papo, de pescaria, de tragos de rum, de comércio clandestino. Escambo, esmola, truques, fotografias. Toda gente o freqüenta, famílias, jovens, prostitutas, gays e travestis que fazem da balaustrada um ponto de encontro e de notoriedade dos novos tempos que se anunciam. Turistas por toda parte só realçam o cosmopolitismo de uma cidade-ícone percebida em chevrolets, riquixás, ônibus decaídos e táxis tipo cupê. Verdadeiramente musical exibe pianos e batás. Menos mestiça que Salvador, os brancos são significativos. Os negros também e vê-se pessoas de todas as cores em todos os tipos de trabalho, tantas vezes interrompido por panes de eletricidade, incêndios, mansidão, tabacaria. Havana é pobre e luxuosa, é mística e guarda sua santeria em recinto familiar. Altares de xangô disputam espaço com televisores arcaicos, móveis kitch e altíssimos tetos de pé direito abrigam jóias decorativas. Havana é ousada, desconcertante, imprevista, uma cidade atemporal feita para ver e estar.

 

 

Goli Guerreiro

Goli Guerreiro

Colunista

Pós-doutora em antropologia, curadora e escritora. Tem 6 livros publicados. Trabalha sobre repertórios culturais contemporâneos em diversos formatos: palestras, oficinas, mostras iconográficas, consultoria e roteiros para audiovisual.

Mais artigos

Acolhimento e Fé: O Poder de Unir Corações

Acolher é um ato de empatia e humanidade que transcende qualquer crença religiosa. Independentemente de nossa fé ou das doutrinas que seguimos, todos temos a capacidade de oferecer e receber acolhimento, um gesto que está no cerne do que significa ser humano. A fé,...

ler mais

Que rei é esse? O onipresente consumidor.

Você que é gestor, preste atenção nos dados a seguir -> “Cerca de 62% dos líderes de CX sentem que estão atrasados em fornecer as experiências mais instantâneas que os consumidores esperam” (CX Trends 2024 by Zendesk).  Oferecer experiência em tempo real e a todo...

ler mais

Ansiedade, estresse e correria – entre Chronos e Kairós

A experiência da ansiedade só é “divertidamente” nos filmes da Disney. Na vida real, cobra um pedágio altíssimo e requer maturidade emocional e resiliência. É sintomático que a animação “Divertidamente 2”, do estudio Pixar, tenha atingido um estrondoso êxito e muitos...

ler mais

“Não espere ficar tudo bem pra ser feliz!”

Você já pensou o quanto de autorização pessoal pra ser feliz você se oferece? Quando é que, finalmente, você vai poder dizer: “Ah! Agora eu posso!” Se você ficar esperando estar tudo bem na sua vida pra poder celebrar, sorrir, curtir e agradecer, vai passar parte dela...

ler mais

Consumo insustentável na sociedade do excesso

Recentemente, fui convidado pelo Instituto Multiversidad Popular, em Posadas, na capital da Província de Missiones, na Argentina, para falar para os alunos de curso de pós-graduação. A missão da “Multi”, como a instituição é carinhosamente conhecida, é difundir...

ler mais

junte-se ao mercado