Tudo na mão e não se enxerga

jun/2017

Qualquer país gostaria de ter a riqueza e a diversidade cultural do Recôncavo, pois isso seria garantia de divisas com turismo.Fico bobo de não enxergarem isso quando são realizadas as principais festas, pois a maioria das vezes a cultura popular local, que é diferencial, é sempre colocada como coadjuvante, em detrimento a artistas de fora, contratados com altos cachés. Só a culinária, já faz do Recôncavo um objeto de desejo e não sei como os Prefeitos não aproveitam isso e fazem uma grande Feira de Culinária, com a cultura popular da cidade espalhada por vários pontos, em palcos menores, reforçada por desfiles de grupos tradicionais pelas ruas do município. Este é o mix perfeito, O Recôncavo tem Filarmônica, Marujada, Mandús, Nego Fugido, Caretas, Barquinha, Samba de Roda e por aí vai, sem falar nos grandes nomes como Mateus Aleluia, Roberto Mendes, Edson Gomes, Caetano, Bethânia. Por si só o Recôncavo é internacional, e as autoridades não sacaram que por ser regional e único, o Recôncavo é global. Quando fazia curadoria artística da Flica, o primeiro artista que chamei foi Mateus Aleluia, sabia que não ia ser novidade em Cachoeira, por ser ele filho da terra, mas o bom nunca é demais. Tal minha surpresa, quando ele me disse que nunca tinha cantado em Cachoeira. Perguntei como? por que? ele simplesmente me disse : nunca fui convidado! Pois o show dele na Flica foi belo,instigante, assim como foi também o de Roberto Mendes e os mestres do samba chula, assim como foi o Gêgê de Nagô, que teve a participação de Will Carvalho e Lazzo. Chega de esmola para a cultura popular, ela tem que estar em destaque no município, pois está definhando por falta de apoio sério. Hoje nem sequer temos um site, com todas as festas tradicionais do interior, não temos, assim como não temos um site que aborde as nossa manifestações tradicionais. A Bahia não tem ideia da beleza da Festa de Iemanjá de cachoeira que acontece domingo depois do dia 2 de fevereiro, nem da dos Caretas do Acupe, último domingo de outubro e por aí vai. Os estrangeiros que se batem com uma dessas festas, piram, ficam loucos e é notório pelo encantamento, como eles gostariam de ter uma igual, e nós temos as centenas. Os 4 grandes projetos que valorizavam a cultura popular acabaram : Caminhada Axé, Singular e Plural, Domingueiras e Feira dos Municípios e a política cultural de uma maneira geral não sacou ainda que tem que dar prioridade as 2 pontas, a raiz ( matrizes que garantem a riqueza cultural e diversidade) e a vanguarda, o novo que ainda é difícil de arranjar qualquer patrocínio, por ser novo e causar estranhamento. Atenção para estas 2 pontas, Gilberto Gil já dizia, a vanguarda bebe na fonte da raiz. No resto, me lembro que há uns 18 anos atrás, me pediram uma sugestão de um grupo popular para o Perc Pan e sugeri o Zambiapunga, pois bem não foi Gil e nem Naná o destaque aos olhos do estrangeiro, quem estampou capa do caderno cultural do New York Times foi o Zambiapunga.

Sérgio Siqueira

Sérgio Siqueira

Colunista

Formado em Administração de Empresas pela Ufba com especialização em programação visual , marketing institucional , propaganda e eventos. Gerente de Criação e Produção e desenvolvimento de projetos e campanhas institucionais e culturais da Rede Bahia.

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