Viver é diferente de estar vivo
Não existe nada que nos leve de forma mais eficaz a uma reflexão da vida, do que a morte.
E eu não entendo muito como existem pessoas adultas que evitam tanto entrar em contato com ela: não frequentam velórios…. pelas mais diversas justificativas… que, no fundo, não compreendo, mas respeito. (ponto).
A morte do outro nos traz automaticamente a uma reflexão em torno da nossa vida. E, quanto mais próxima a nossa idade da idade do morto, mais profundo acontece o mergulho em torno do nosso viver.
Parece que diante de um corpo morto vemos, refletido em nós, a nossa finitude, tão sabida quanto evitada.
O que você está fazendo da sua vida?
Há um tempo, por uma questão de meu próprio envelhecimento, os pais dos meus amigos, e, infelizmente, também os meus amigos, começaram a morrer…(afastando-se, aqui, do fato que começamos a morrer desde o dia em que nascemos).
E a cada velório que participo, somam-se algumas reflexões…
E o eco intermitente dessa frase, que um dia li: Viver é diferente de estar vivo!
Há quanto tempo você está vivendo no automático, deixando que as obrigações de trabalho e de ambição te guiem?
Há quanto tempo você não visita aquele parente, ou telefona para aquele amigo porque o cotidiano te atropela, mas, se souber da sua morte, larga tudo pra estar na despedida?
Há quanto tempo você está pensando em mudar de vida, e quase nada faz em termos de ‘ação’?!
Você tá esperando o quê pra transformar seu destino, investindo numa nova maneira de viver, que te traga uma sensação maior de realização?
Parece que quanto mais dinheiro ganhamos, mais temos boletos! À medida que podemos ter mais, desejamos mais e arriscamos mais, e aí ficamos nesse ciclo viciante de querer aparentar o que, no íntimo, nem importante é pra nós: “vender o que você não é e gastar o que você não tem, pra mostrar pra quem você não conhece o que você nem tem”.
Acho bem importante estar diante da morte do outro, como forma de cairmos na real que precisamos justificar o presente de estarmos vivos, vivendo!
Diante dos corpos mortos, eu consigo perceber que o mais importante de tudo nessa vida é a saúde! Porque, sem saúde, não conseguimos ter paz, e, sem paz, não alcançamos a sensação de felicidade.
Nem o dinheiro é capaz de salvar a gente do adoecimento! Então, não é ele que devemos colocar como grande condutor da nossa vida!
E como saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não somente ausência de afecções e enfermidades, segundo a própria Organização Mundial de Saúde (OMS), precisamos ser os maiores responsáveis por essa garantia!
O quanto você está, realmente, comprometido com seu bem-estar físico, mental e social?
São eles que lhes garantirão qualidade de vida!
Se a gente só leva da vida a vida que a gente leva, cada vez que saio de uma capela de velório, refaço planos; investigo minha saúde física e faço um balanço das minhas companhias, tentando trazer pra perto de mim quem realmente contribua para minha sanidade mental, e afastando quem não me acrescenta.
Cada velório é um balanço!
Afinal, a vida precisa ser recheada de trocas justas: um grande e belo equilíbrio entre o dar e o receber.
Velórios me trazem pra perto da humildade, me afastam da armadilha de qualquer sensação de soberba, me aproximam da obrigatoriedade de fazer mais jus a cada novo dia que for concedido a mim nessa existência.
Eu saio com mais gás pra honrar minha vida, uma vontade de fazer valer em dobro essa existência, e uma exigência pessoal de me comprometer com o que eu acredito ser melhor pra mim.
Me despeço, com dor, e muita saudade, de quem já foi… mas, caio na real de quem ainda está aqui, do quanto precisam de mim, e eu deles… uma vontade danada de viver, enquanto estou vivo!
E você?
Que este texto te toque profundamente… que você não precise perder ninguém, nem sua saúde, pra entender que precisa estar comprometido com o seu viver!
Faltam alguns dias para um novo ano! Bom pretexto pra fazer o seu balanço…
… da/pra vida!
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O conteúdo e opinião publicados neste artigo são de inteira responsabilidade do autor ou autora.
Sinara Dantas Neves
Colunista
@acuradoraferida
Doutora e pós doutoranda em Família na Sociedade Contemporânea (UCSaL-BR/ ICS- Universidade de Lisboa – PT);
Mestre em Psicologia (USP); Psicoterapeuta sistêmica (ABRATEF 206-BA); Professora universitária há 23 anos;
Pesquisadora da Conjugalidade; Escritora; Palestrante;
Mãe, amante da sua profissão e apaixonada por gente!
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