Voluntariado e as relações humanas

maio/2018

Desde quando me envolvi com o mundo da filantropia, há mais de 30 anos, na fundação do GACC-BA, passei a compreender o real valor do trabalho desenvolvido por voluntários. De lá pra cá, sobretudo com o envolvimento com outras instituições, tenho a convicção do quão importante é este modelo de doação. O tempo, afinal, é o que temos de mais precioso. E se doar, voluntariamente, a uma causa é um dos gestos mais solidários e bonitos que existem.

A importância dos voluntários para as instituições é imensa. Sobretudo, quando estamos nos referindo a pessoas de fato comprometidas. A atuação em organizações do terceiro setor é muito importante para a sociedade. Afinal, são instituições sem fins lucrativos que contribuem com trabalhos de interesse público.

Tanto no GACC-BA, que atualmente conta com cerca de 300 voluntários ativos, quanto na Santa Casa da Bahia, que tem aproximadamente 200, o papel do voluntário é transformador. De aplicadores de reiki a contadores de história, passando pela tão importante e fundamental atuação voluntária de profissionais na gestão das instituições, seja enquanto dirigentes ou conselheiros.  Os voluntários são indivíduos que reconhecem e acreditam no trabalhado desenvolvido, a ponto de se dedicarem com amor no exercício da solidariedade e o cuidado com o próximo.

E, apesar de serem atividades realizadas muitas vezes no anonimato, o que observamos é que o entusiasmo e o comprometimento com a tarefa não diminuem. Da mesma forma, também não são menores os resultados alcançados, pois, mesmo que intangíveis, são recompensas preciosas para quem exerce e quem recebe. Levar sorrisos para crianças em tratamento, acolhimento para famílias fragilizadas por uma doença ou o alívio lúdico para quem enfrenta uma batalha, é gratificante e renovador.

Neste sentido, diversos estudos realizados na última década demonstram os ganhos pessoais e sociais da atividade voluntária. Uma pesquisa desenvolvida pela Universidade de Harvard e publicada no ano passado, ouviu cerca de sete mil pessoas com mais de 50 anos nos EUA. Do total de participantes, os que são voluntários se mostraram mais preocupados com a própria saúde e, portanto, mais propensos a fazerem exames preventivos, o que resulta em menos casos de adoecimento. Além disso, quando estão doentes, os voluntários passam 38% menos tempo em hospitais que o resto da população.

Os pesquisadores envolvidos no levantamento concluíram também que o voluntariado diminui o estresse e melhora as condições de vida de quem o faz, pois ao entrar em contato com pessoas com diferentes problemas, aumenta consciência da necessidade do auto cuidado. Os voluntários tendem ainda a desenvolver uma compreensão de que suas vidas têm um objetivo maior e por isso sentem uma sensação de bem-estar mais acentuada. Em última análise, os estudiosos afirmam que desenvolver atividades voluntárias melhora a autoestima, a consciência social e fortalece os laços sociais. Fatores que, somados, ajudam a melhorar os indicadores individuais de qualidade de vida e longevidade.

Em tempos de instabilidades políticas e financeiras, em que as instituições sociais cumprem um papel ainda mais decisivo para população, a empatia gerada através da solidariedade ganha uma nova dimensão. Contribui significativamente para a manutenção de serviços filantrópicos e, em uma escala macro, melhora as relações sociais de forma orgânica. Uma situação de benefício mútuo e que, sem dúvidas, nos faz avançar no sentido de uma sociedade mais consciente, mais civilizada e mais preparada para lidar com situações de adversidade. Afinal, praticar a caridade e o cuidado ao próximo fortalece tudo que temos de mais precioso, tudo que nos torna verdadeiramente humanos.

Roberto Sá Menezes

Roberto Sá Menezes

Colunista

Provedor da Santa Casa da Bahia, fundador e presidente do Grupo de Apoio à Criança com Câncer da Bahia (GACC-BA), membro do Conselho Fiscal da Associação Obras Sociais Irmã Dulce (AOSID) e do Conselho Consultivo da Confederação das Santas Casas de Misericórdia do Brasil (CMB).

 

Mais artigos

Ansiedade, estresse e correria – entre Chronos e Kairós

A experiência da ansiedade só é “divertidamente” nos filmes da Disney. Na vida real, cobra um pedágio altíssimo e requer maturidade emocional e resiliência. É sintomático que a animação “Divertidamente 2”, do estudio Pixar, tenha atingido um estrondoso êxito e muitos...

ler mais

“Não espere ficar tudo bem pra ser feliz!”

Você já pensou o quanto de autorização pessoal pra ser feliz você se oferece? Quando é que, finalmente, você vai poder dizer: “Ah! Agora eu posso!” Se você ficar esperando estar tudo bem na sua vida pra poder celebrar, sorrir, curtir e agradecer, vai passar parte dela...

ler mais

Marca: Porto.

Há cerca de dois meses, deixei o Brasil e vim para a Europa, trazendo comigo a curiosidade de um estudante de marcas e estratégia. Foi assim que Porto me capturou, não só pela riqueza cultural, mas pelo seu posicionamento tão marcante. Este texto difere dos...

ler mais

Brasil, país dos influencers!

Não somos mais só o país do futebol ou do samba; somos, também, o país dos influenciadores e das redes sociais.  Atente-se aos dados: de acordo com relatório do Influency.me – 84% das pessoas contam com as mídias sociais no momento da decisão de compra (fonte: ODM...

ler mais

Consumo insustentável na sociedade do excesso

Recentemente, fui convidado pelo Instituto Multiversidad Popular, em Posadas, na capital da Província de Missiones, na Argentina, para falar para os alunos de curso de pós-graduação. A missão da “Multi”, como a instituição é carinhosamente conhecida, é difundir...

ler mais

junte-se ao mercado