O gosto e desgosto da mídia

jul/2017

Enxovalhar a mídia é uma das propostas e atitudes recorrentes dos internautas nas redes sociais, em especial no facebook. Parte-se do princípio de que se eu não gosto disso e não concordo com isso é por que o veículo que informa, ou, emite opinião, através de seus articulistas, faz parte de uma suposta conspiração, quando não é incompetente e outras adjetivações atribuídas. Não se assimila a informação pelo que ela diz, mas, através do filtro de “me agrada”, ou, “me incomoda”.

É que somos treinados para escolher e aderir a uma opinião na prateleira de manchetes que sites e blogs nos oferecem, renovadas a cada minuto. Amanhã a prateleira estará oferecendo-nos outra mercadoria e então uns irão adquirir o produto por afinidade da marca (simpatizo com uma suposta ideologia), enquanto outros optarão por ler o rótulo, inclusive a validade, para opinar com maior conhecimento de causa. O problema é que milhões de brasileiros não sabem ler o rótulo, que dirá interpretá-lo.

E esse quadro de “a mídia somos nós e o resto que se dane” que favorece essa atitude de depreciarmos a mídia, o equivalente de “a mídia não presta, salvo aquela que me agrada”. Em que pese esse pendor, ainda assim, o Brasil confia e muito nos seus veículos de comunicação, conforme recente pesquisa, realizada pelo Instituto Reuters para a Universidade de Oxford, com uma amostra de 70 mil consumidores de notícias em 36 países. O Brasil obteve um honroso segundo lugar, perdendo apenas para a Finlândia. A instituição imprensa brasileira ficou muito bem nessa fita do ranking de credibilidade.

Há contradição no resultado dessa enquete? Se confiamos tanto assim na mídia, por que falamos mal dela? Acho que não. Uma coisa é uma coisa. Outra coisa é outra coisa. Confiamos sim, mas isso não exclui a nossa afinidade, no consumo do conteúdo, com quem nos fornece o que queremos ver e ouvir. As redes sociais nos colocaram nessa armadilha ao facultar-nos a escolha de nossos seguidores e a possibilidade de excluí-los a qualquer momento. Formamos opinião através dos que pensam como nós queremos que pensem.

Avaliações aparte, que seria dos que disseminam o ódio nas redes sociais sem a mídia? É dela que se alimentam e sem ela não teriam como expressar seus sentimentos, em especial em relação à política, um campo fértil para as manifestações menos racionais e mais emotivas. Não atentamos para isso, mas, provavelmente, quando enxovalhamos a mídia, é de nós mesmos e de nossos piores sentimentos que nós queremos livrar. Os psicanalistas explicariam isso melhor.

Nelson Cadena

Nelson Cadena

Colunista

Escritor, jornalista e publicitário.

Mais artigos

Davi: um símbolo de representatividade e superação no BBB24

A vitória de Davi no Big Brother Brasil 24 representa um marco importante para a representatividade do país. Davi, um jovem negro, mostrou que é possível que pessoas de diferentes origens tenham espaço e voz na mídia e na sociedade. Sua vitória não apenas quebra...

ler mais

O conhecimento é inovador e ilimitado

Todos sabem o quanto sou apaixonada pela temática de inovação e empreendedorismo. Além disso, nos últimos anos me interesso cada vez mais em participar de eventos nessa área, a fim de buscar refletir sobre o estado da arte de todas as áreas. Um evento de inovação...

ler mais

Desafios de branding para empreendedores

Eu sou consultar e empreendedor e por isso enfrento desafios grandes em relação à construção das minhas marcas (Objeto Dinâmico, essa não existe mais, a Branding Dinâmico – consultoria, a Baitech agência focada em tecnologia, e a Bait agência 360º). Obviamente, em...

ler mais

junte-se ao mercado