Voluntariado e as relações humanas
Desde quando me envolvi com o mundo da filantropia, há mais de 30 anos, na fundação do GACC-BA, passei a compreender o real valor do trabalho desenvolvido por voluntários. De lá pra cá, sobretudo com o envolvimento com outras instituições, tenho a convicção do quão importante é este modelo de doação. O tempo, afinal, é o que temos de mais precioso. E se doar, voluntariamente, a uma causa é um dos gestos mais solidários e bonitos que existem.
A importância dos voluntários para as instituições é imensa. Sobretudo, quando estamos nos referindo a pessoas de fato comprometidas. A atuação em organizações do terceiro setor é muito importante para a sociedade. Afinal, são instituições sem fins lucrativos que contribuem com trabalhos de interesse público.
Tanto no GACC-BA, que atualmente conta com cerca de 300 voluntários ativos, quanto na Santa Casa da Bahia, que tem aproximadamente 200, o papel do voluntário é transformador. De aplicadores de reiki a contadores de história, passando pela tão importante e fundamental atuação voluntária de profissionais na gestão das instituições, seja enquanto dirigentes ou conselheiros. Os voluntários são indivíduos que reconhecem e acreditam no trabalhado desenvolvido, a ponto de se dedicarem com amor no exercício da solidariedade e o cuidado com o próximo.
E, apesar de serem atividades realizadas muitas vezes no anonimato, o que observamos é que o entusiasmo e o comprometimento com a tarefa não diminuem. Da mesma forma, também não são menores os resultados alcançados, pois, mesmo que intangíveis, são recompensas preciosas para quem exerce e quem recebe. Levar sorrisos para crianças em tratamento, acolhimento para famílias fragilizadas por uma doença ou o alívio lúdico para quem enfrenta uma batalha, é gratificante e renovador.
Neste sentido, diversos estudos realizados na última década demonstram os ganhos pessoais e sociais da atividade voluntária. Uma pesquisa desenvolvida pela Universidade de Harvard e publicada no ano passado, ouviu cerca de sete mil pessoas com mais de 50 anos nos EUA. Do total de participantes, os que são voluntários se mostraram mais preocupados com a própria saúde e, portanto, mais propensos a fazerem exames preventivos, o que resulta em menos casos de adoecimento. Além disso, quando estão doentes, os voluntários passam 38% menos tempo em hospitais que o resto da população.
Os pesquisadores envolvidos no levantamento concluíram também que o voluntariado diminui o estresse e melhora as condições de vida de quem o faz, pois ao entrar em contato com pessoas com diferentes problemas, aumenta consciência da necessidade do auto cuidado. Os voluntários tendem ainda a desenvolver uma compreensão de que suas vidas têm um objetivo maior e por isso sentem uma sensação de bem-estar mais acentuada. Em última análise, os estudiosos afirmam que desenvolver atividades voluntárias melhora a autoestima, a consciência social e fortalece os laços sociais. Fatores que, somados, ajudam a melhorar os indicadores individuais de qualidade de vida e longevidade.
Em tempos de instabilidades políticas e financeiras, em que as instituições sociais cumprem um papel ainda mais decisivo para população, a empatia gerada através da solidariedade ganha uma nova dimensão. Contribui significativamente para a manutenção de serviços filantrópicos e, em uma escala macro, melhora as relações sociais de forma orgânica. Uma situação de benefício mútuo e que, sem dúvidas, nos faz avançar no sentido de uma sociedade mais consciente, mais civilizada e mais preparada para lidar com situações de adversidade. Afinal, praticar a caridade e o cuidado ao próximo fortalece tudo que temos de mais precioso, tudo que nos torna verdadeiramente humanos.
Roberto Sá Menezes
Colunista
Provedor da Santa Casa da Bahia, fundador e presidente do Grupo de Apoio à Criança com Câncer da Bahia (GACC-BA), membro do Conselho Fiscal da Associação Obras Sociais Irmã Dulce (AOSID) e do Conselho Consultivo da Confederação das Santas Casas de Misericórdia do Brasil (CMB).
Mais artigos
“Na caverna que você teme entrar, encontra-se o tesouro que busca.”
Você já se perguntou o que torna um personagem um verdadeiro herói? A resposta pode estar em um padrão antigo, que atravessa culturas e épocas: a Jornada do Herói. De Luke Skywalker a Harry Potter, passando por Cinderela e além, todos eles compartilham uma trajetória...
Davi: um símbolo de representatividade e superação no BBB24
A vitória de Davi no Big Brother Brasil 24 representa um marco importante para a representatividade do país. Davi, um jovem negro, mostrou que é possível que pessoas de diferentes origens tenham espaço e voz na mídia e na sociedade. Sua vitória não apenas quebra...
Entre o subterrâneo e o submerso: o que está à mostra numa relação a dois?
Foi unânime a reação das pessoas, pelas redes sociais, diante da cena (humilhante de assistir), em que um participante de um reality show tem suas roupas jogadas na piscina, por outra participante. Não se tratava de um par amoroso, mas, vale a reflexão sobre quantas...
O conhecimento é inovador e ilimitado
Todos sabem o quanto sou apaixonada pela temática de inovação e empreendedorismo. Além disso, nos últimos anos me interesso cada vez mais em participar de eventos nessa área, a fim de buscar refletir sobre o estado da arte de todas as áreas. Um evento de inovação...
Desafios de branding para empreendedores
Eu sou consultar e empreendedor e por isso enfrento desafios grandes em relação à construção das minhas marcas (Objeto Dinâmico, essa não existe mais, a Branding Dinâmico – consultoria, a Baitech agência focada em tecnologia, e a Bait agência 360º). Obviamente, em...
O que é preciso saber sobre uso de IA na propaganda eleitoral em 2024
Em todo ano com eleições, é comum que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) lance normativas atualizando ou definindo as regras de tudo que concerne o período eleitoral. Entre os temas que são regrados, está o da propaganda eleitoral. A Resolução nº 23.732/2024...
junte-se ao mercado