As pessoas constróem os inícios, mas não se importam com a construção dos finais.
Os relacionamentos contemporâneos são marcados por muitos rótulos e a decisão do momento de usá-los, ou não. Vocês já conhecem os termos “olhantes”, “curtantes”, “conversantes”, “contatinhos”, “ficantes”, “ficante premium”, “ficante premium plus”, “p. amigo”, “b. amiga”? Pois é, eles representam tudo que vocês podem ser, antes de assumirem um namoro!
Na prática, testemunho muitos casais preocupados com a nomenclatura que irão atribuir à relação, e pouco dedicados à qualidade do vínculo, ao bem-estar dos parceiros e à construção dos planos do casal. A grande maioria das pessoas já vivendo um casamento, e ainda preocupados com qual rótulo lhes cabe. Quem vai contar primeiro a eles que o que vivem, na prática, já é muito mais do que o que eles tanto temem viver num namoro? Só eles não perceberam que já se trata de um casamento? Casais namorando há meses, e com medo de se chamarem de namorados! São ficantes? Pra quem, mesmo?
Enfim, é tanta ‘pré-ocupação’ com essa fase inicial, que, no cotidiano que se anuncia, os recebo, no consultório, extremamente desanimados, cansados de se ocuparem com o que é do outro; com o que a sociedade espera deles, enquanto casal; com o que vão achar coerente, ou não, juntos, fazerem.
Tantos conflitos conjugais originados da dificuldade de comunicação; da falta de construção de intimidade; ou do excesso de intimidade que afastou ambos do erotismo! Muitos meses, ou anos, procurando uma forma de funcionamento ideal, sem deixarem a leveza conduzir a rotina, e convivendo com os pesos da dureza que é a realidade das vidas. Logo, em contextos assim, ocorre o afastamento, do casal, de seus propósitos enquanto par, dando vazão à existência de um casal onde não se enxerga mais um casamento: existe o casal, repleto de deveres com a casa e os filhos, mas não existe mais a relação conjugal, em que comungam a vida.
E é nessa hora que, se não se reinventam, não sobrevivem. A pequena parcela busca alguma ajuda terapêutica quando a relação está agonizando, mas, a grande maioria, hoje, sabe a importância do trabalho dos terapeutas de casais, no sentido de lhes auxiliar a recomeçar. A proposta de trabalho é sempre essa: promover o reencontro do casal com o compromisso amoroso que lhes uniu, porém, nesse percurso, podem descobrir que o desejo os leva para a construção de um final harmonioso, um término respeitoso, que pouquíssimos casais julgam necessários, tomando consciência disso apenas quando os filhos apresentam alguns sintomas, que denunciam o quanto o casal ainda têm aspectos importantes para serem vistos, já que continuam sendo um par parental, quando o par conjugal deixou de existir.
Quantos casais, vocês conhecem, que continuam presos numa teia de raiva, rancor e mágoas pelo ex, que os impede de seguir a vida amorosa? Quantos amigos, vocês identificam, que se alimentam dos fantasmas que seus ex se tornaram em suas vidas? Quanta energia, que poderia estar sendo deslocada para o seu bem-estar e planejamento do seu futuro, você tem gasto, se preocupando com o que já passou?
Assim como os inícios, finais também devem ser construídos. Isso é imprescindível para o fluxo da sua vida amorosa, para que novos caminhos possam ser reconhecidos por você, para que sua consciência fique em paz, por você ter sido cuidadoso com sua relação do começo ao fim.
Pense nisso! Peça ajuda! Procure sair pela porta que entrou. Afinal, vocês continuam existindo enquanto pessoas…e merecem seguir em paz, sem tanta ‘pré-ocupação’… Há um futuro incrível, esperando só que você possa se ocupar logo dele!
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O conteúdo e opinião publicados neste artigo são de inteira responsabilidade do autor ou autora.

Sinara Dantas Neves
Colunista
@acuradoraferida
Doutora e pós doutoranda em Família na Sociedade Contemporânea (UCSaL-BR/ ICS- Universidade de Lisboa – PT);
Mestre em Psicologia (USP); Psicoterapeuta sistêmica (ABRATEF 206-BA); Professora universitária há 23 anos;
Pesquisadora da Conjugalidade; Escritora; Palestrante;
Mãe, amante da sua profissão e apaixonada por gente!
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