Geração Z e o Movimento Feed Zero: Autenticidade e Saúde Mental na Era Digital
A Geração Z, composta por pessoas nascidas entre o final da década de 1990 e o início de 2010, está moldando a forma como nos relacionamos com o mundo digital. Uma das características mais marcantes dessa geração é a familiaridade com a tecnologia: enquanto os millennials testemunharam o crescimento da internet, a Geração Z já cresceu imersa em um mundo digital. Essa diferença faz com que suas preferências e comportamentos nas redes sociais sejam bem particulares, e uma das tendências mais curiosas é o “feed zero”, um conceito que reflete tanto o desejo por autenticidade quanto uma reação à hiperexposição nas redes sociais.
O “feed zero” refere-se a perfis no Instagram ou em outras redes que mantêm o feed completamente vazio ou com pouquíssimas postagens, ou então postagens que são apagadas após algum tempo. Essa prática, que antes poderia parecer contraditória em um ambiente construído para compartilhar, revela muito sobre os valores e os desafios enfrentados pela Geração Z. Para essa geração, que lida com redes sociais de forma quase orgânica, o feed zero funciona como uma estratégia de preservação da própria imagem e saúde mental em meio ao ruído digital.
Uma das principais razões para o crescimento do feed zero é a busca pela autenticidade. A Geração Z valoriza a individualidade e preza por experiências autênticas. Eles estão cada vez mais conscientes dos efeitos negativos das redes sociais, como a pressão pela perfeição, a comparação constante e os impactos na autoestima. Diferentemente das gerações anteriores, que tinham o hábito de acumular fotos e postar com frequência, essa geração se recusa a ceder à ideia de que precisa estar sempre “disponível” ou “compartilhando”.
Outro ponto relevante é o conceito de “curadoria” de identidade digital. Para a Geração Z, a imagem transmitida nas redes não é apenas uma expressão de estilo, mas uma declaração de valores e até uma forma de se proteger. Com o feed zero, eles conseguem manter o controle sobre o que querem mostrar e, muitas vezes, limitam essas postagens a momentos específicos. Isso evita o acúmulo de informações sobre suas vidas e oferece uma certa privacidade em meio à exposição quase inescapável do ambiente digital.
O fenômeno do feed zero também tem a ver com a ansiedade e a fadiga digital, que são questões crescentes. A Geração Z experimenta uma sobrecarga de informações e imagens todos os dias, e essa superexposição pode se tornar exaustiva. Manter o feed “limpo” ajuda a reduzir o estresse e a pressão por estar sempre acompanhando as últimas tendências. É uma forma de subverter o próprio propósito das redes, usando-as de maneira mais seletiva, sem a necessidade de compartilhar continuamente.
A escolha pelo feed zero também está relacionada ao consumo de conteúdos efêmeros, como os Stories e os Reels, que desaparecem depois de 24 horas. Esses formatos permitem que a Geração Z compartilhe momentos de maneira menos permanente e com menor pressão. A transitoriedade desses conteúdos está mais alinhada com a forma como essa geração deseja se expressar: algo espontâneo, mas sem a obrigação de “eternizar” cada momento no feed.
Além disso, a Geração Z é uma das mais politizadas e engajadas em temas como saúde mental, sustentabilidade e justiça social. Por isso, muitas vezes utilizam o feed zero como uma forma de protesto ou de manter um perfil mais minimalista em oposição ao consumo desenfreado e à cultura da comparação. A ausência de um feed preenchido também evita uma imagem de vida “perfeita” que costuma ser comum nas redes, promovendo, em vez disso, uma sensação de realidade e de honestidade, ao mesmo tempo em que libera o usuário da constante necessidade de aprovação social, representada pelas curtidas e comentários.
No mercado de trabalho e no campo do marketing, o comportamento da Geração Z também está influenciando as tendências. Cada vez mais, marcas e empresas precisam adaptar suas estratégias para atrair essa geração, que já não responde mais a anúncios chamativos ou ao marketing de influenciadores “perfeitos”. A autenticidade é a chave para se comunicar com a Geração Z, e o feed zero torna-se um símbolo dessa demanda: eles valorizam experiências reais, interações genuínas e transparência. Marcas que tentam transmitir um ideal de perfeição acabam muitas vezes distantes dessa geração, que prefere ver o lado humano e as falhas ao invés de uma imagem idealizada.
Portanto, o feed zero reflete não só uma forma de se adaptar ao ambiente digital, mas também uma resposta consciente da Geração Z aos desafios do mundo virtual. Essa prática questiona o próprio modelo das redes sociais e o impacto que elas têm na vida das pessoas, indicando que, mais do que nunca, a nova geração está em busca de uma relação mais saudável e autêntica com o mundo online. Ao evitar o acúmulo de informações e promover um distanciamento controlado da exposição, o feed zero não representa uma ausência, mas sim uma escolha cuidadosa e significativa sobre o que realmente merece ser compartilhado.
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Diego Oliveira
Colunista
CEO da Youpper Insights, professor universitário da ESPM, mestre em comunicação pela Cásper Líbero, publicitário e, principalmente, provocador de mudanças e aceleração social.
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