40+ e a febre que custa a passar
A vida começa aos 40! Essa é a frase que eu ouvia quando mais jovem, quando eu achava que as pessoas de 30 anos eram coroas (termo utilizado na minha terra, lá no interior de São Paulo) e, diga-se de passagem, eu devia ter meus 20.
A questão é que o tempo passa e passa e passa e, quando percebemos, já somos coroas. Ops, temos mais que 30 ou mais que 40 ou tantos mais. Ao olhar para os anos que ficaram para trás, não acredito que nos consideremos coroas, mas maduros e experientes enquanto os bem mais jovens tentam se “encontrar” no mundo.
Quando estamos com mais de 30 ou 40 e trazemos uma bagagem grande nas malas, somos acessados constantemente para os direcionamentos pessoais e profissionais e exatamente por isso, fiz algumas reflexões recentes. Ao olhar para a Erika do passado, tenho um baita orgulho da história que vejo, de como foi construída, seja por conta própria ou por alavancas que me empurraram para os desafios e me fizeram crescer. Quando miro a Erika do futuro, penso em quantas coisas mais essa história terá para contar, quantos desafios ainda vai encontrar e superar e quantas colheitas lindas e frutíferas poderá colher para encher a casa, as malas e todas as cestas dos que estiverem por perto.
Só que mais do que olhar para trás ou para frente, tenho olhado no espelho e o reflexo que tenho visto me preocupa e me agrada. A preocupação se refere ao equilíbrio. Preciso dele para viver a vida, mas é quase impossível ter uma balança equilibrada quando se trabalha bastante, cuida do casamento e dos filhos em parceria com o marido, além de tudo o que a família primária e secundária traz com ela. Mesmo assim, assisti um vídeo há pouco tempo que me deixou mais em paz. Nesse vídeo, a pessoa falava sobre relacionamentos, onde não existe 50/50% e, sim, cada hora pende mais para um ou outro e, tudo bem. Transferi isso para minha vida e percebi que as vezes minha balança está mais pesada profissionalmente e sou insuficiente em casa, mas me esforço para equilibrá-la e fazer com que a “casa” pese mais na balança em outros momentos. O que me agrada quando vejo o reflexo é que todas as tentativas de equilíbrio não são em vão e, essa mulher de 40+ já se realizou em todos os campos da vida.
Aos 40, já não nos preocupamos com pequenos problemas. Eles passam! Não nos preocupamos com o que algumas pessoas pensam sobre nós. Elas passam! Estamos tão resolvidos do que somos que tudo isso é muito pequeno para incomodar. Sabe o que incomoda? A febre que não passa de um filho, o constrangimento que ele ou ela passaram na escola, as preocupações com eles, com o bem estar de quem amamos, seja família ou amigos, o descaso de alguns frente a outros menos favorecidos ou com dificuldades cognitivas, por exemplo.
Releia o que acabei de escrever e veja que o que importa são as relações entre pessoas, o que fizemos por alguém, fazemos ou pensamos em fazer. Por isso, quando sou consultada pelos mais jovens, recomendo tudo àquilo que eu gostaria que me tivessem recomendado ao longo da vida. Quem sabe isso ajude a fazer essas pessoas chegarem num ponto onde o que mais vai incomodá-la é a febre que custa a passar.
Se você está nos 20+, olhe para o espelho e converse com esse reflexo. Diga para essa pessoa que vê que seu futuro será brilhante, basta ter calma e equilíbrio, além de se preparar para os desafios que virão. Se você está nos 30+, faça o mesmo e já olhe para os anos que ficaram para trás. Talvez eles te mostrem algum Norte. Se você está com 50 ou 60+, nos dê algumas dicas. Vai demorar um pouquinho, mas trarei essa visão um dia, sem febre e com tudo o que a vida pessoal e profissional pode nos proporcionar.
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O conteúdo e opinião publicados neste artigo são de inteira responsabilidade do autor ou autora.

Erika Buzo Martins
Colunista
Doutora em Administração, Especialista em Marketing e Publicitária. É entusiasta dos estudos sobre comportamento humano/consumidor, trabalha com consultoria em Desenvolvimento Humano e Marketing. É Master Trainer em Programação Neurolinguística e Coach e, além de atuar como professora universitária há mais de 18 anos, é supervisora de Marketing do curso de Administração da ESPM-SP.
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