De olho em 2020
Enquanto costuras políticas desenham o quadro de candidaturas para 2020, profissionais envolvidos com as eleições ainda batem a poeira das roupas por conta da rasteira de 2018. Afinal, “nunca antes na história desse país” certezas convencionadas estiveram tão na berlinda. Só para refrescar a memória, um exemplo emblemático: Alckmin com a metade de todo o tempo disponível na TV e atendido por uma equipe experiente, acabou quase atrás do Cabo Daciolo. E assim foi pelo Brasil inteiro, surpresa atrás de surpresa.
O ano que vem promete. Vai ser a nossa primeira eleição depois de uma dolorosa quebra de paradigma. A se confirmar a promessa do Big Data, tudo se resolverá nos algoritmos e nas redes sociais. Robôs vão decidir o destino das candidaturas em mais de 5 mil municípios. Vamos precisar de pesquisas qualitativas? Para quê? Basta varrer os grupamentos de interesse nas redes e teremos um panorama do pensamento do eleitor. Tudo num clic, muito mais barato do que bancar o deslocamento de equipes por esses rincões afora. Com a vantagem de que essas mesmas pessoas receberão diretamente as nossas mensagens, “conversando” especificamente com seus posicionamentos.
Perfeito. Profissionais de marketing e de pesquisa estão todos dispensados. Inclusive, os redatores, pois os robôs já estarão programados com o texto exato para quebrar a resistência de qualquer argumento contrário. Tudo com uma precisão matemática. Enfim, o sonho dourado de qualquer candidato. Só uma perguntinha: e se todos os candidatos de todos os partidos contratarem esses robôs, o que acontece? Tudo indica que teremos o mais espetacular empate da história das eleições.
Esse panorama ficcional não é novo, apenas se sofisticou. Mas o princípio que rege seu apelo não é muito diferente das fitas VHS que eram vendidas pra gente fazer ginástica em casa. Em tese, decretariam o fim das academias e o desemprego dos personal trainers. Só que não. Pois quanto mais absolutos tentamos ser na compreensão da diversidade humana, paradoxalmente mais limitados nos tornamos em termos de informação. Por uma razão muito simples: o robô identifica valores passíveis de se converter em dados precisos, descartando (por não “enxergar”) os meios tons e as instabilidades do pensamento. Em momentos como em 2018, em que se estabeleceu uma polarização radical, pode funcionar por ser uma circunstância à feição da “matemática”: esquerda ou direita, preto ou branco, Bahia ou Vitória. 2020 deve ser diferente.
O radicalismo já terá sido avaliado. Algum bom senso voltará à tona. Só uma conversa olho no olho, portanto, será capaz de identificar o padrão das pré-disposições e todas as suas nuances. E, quem sabe, a máxima da pensadora alemã Hanna Harendt, será lembrada: “a única coisa que todos temos em comum é sermos todos diferentes uns dos outros”.
Karin Koshima
karin@recomendapesquisas.com.br
Karin Koshima
Colunista
Se formou em psicologia na UFBA, é psicanalista com especialização em Psicologia pela USP (São Paulo), também Mestre em Administração pela Universidade Federal da Bahia.
Ansiedade, estresse e correria – entre Chronos e Kairós
A experiência da ansiedade só é “divertidamente” nos filmes da Disney. Na vida real, cobra um pedágio altíssimo e requer maturidade emocional e resiliência. É sintomático que a animação “Divertidamente 2”, do estudio Pixar, tenha atingido um estrondoso êxito e muitos...
Consumo insustentável na sociedade do excesso
Recentemente, fui convidado pelo Instituto Multiversidad Popular, em Posadas, na capital da Província de Missiones, na Argentina, para falar para os alunos de curso de pós-graduação. A missão da “Multi”, como a instituição é carinhosamente conhecida, é difundir...
A potência oculta dos ritos de passagem
Vocês já repararam quantos ritos celebramos nos meses do verão? A temporada começa antes do Natal. Sagrados ou profanos, eles estão presentes nas tradicionais confraternizações que demarcam o fim do ano laboral, com os lúdicos “amigos-secretos”, típicos ritos “de...
Priorizar a saúde mental
Foi há uns tantos anos atrás, eu atuava em um RH do Polo Petroquímico de Camaçari, foi quando escutei um operário chamar um colega de chão de fábrica, de Tarja Preta. Rodrigo era seu nome e ele havia usado antidepressivos ao longo de um período da doença. O bastante...
Não aperte a minha mente: saúde mental em tempo de urgência
O tempo está passando muito veloz, a velocidade é o novo valor, virou uma commodity, a regra do quanto mais rápido melhor se consolidou. Não apenas comemos fast food, como também escutamos música e recados no WhatsApp de forma acelerada. E há quem assista filmes em...
Economia da Atenção: como o universo das telas deteriora nossa saúde mental
Repare que a dama do meme que ilustra este texto mal consegue sustentar os coraçõezinhos vermelhos. A Deusa dos likes e das curtidas expressa contentamento e ar de triunfo, afinal recebeu o reconhecimento esperado e capturou a atenção de quem a curtiu. Ela não faz...
junte-se ao mercado