Diversidade: abra suas asas sobre nós
É falar de diversidade e me vem à mente a Bahia, minha terra, com seus ecossistemas e ecologias ocupados por tão diferentes antropologias. Com um território maior do que o da França e a maior faixa de litoral atlântico do Brasil, o estado possui miríades de rostos, múltiplas floras e faunas e um espectro fascinante de manifestações culturais.
No Oeste, o universo mágico do rio São Francisco, da região de Juazeiro, com as barcas e suas carrancas, na região cacaueira, outro mundo, as Terras do Sem Fim, de Ilhéus e Itabuna. Em nada se assemelha à cultura do agronegócio, em Luiz Eduardo Magalhães, onde explodiu a riqueza dos grãos. A região histórica de Porto Seguro e sua cultura baseada no turismo é bem diversa da Chapada Diamantina, com seus cânions, trilhas e cachoeiras, etc., que por sua vez nada tem com a cultura dos sertões. E o que dizer de Salvador e do Recôncavo, lugares com personalidade forte, musicalidade exuberante e traços singulares.
A resposta é simples e direta: a diversidade é um valor, é positiva e necessário, é riqueza de sua população que, embora dessemelhante, fica orgulhosa por compartilhar essa pertença mítica a um mesmo território. Então, somos iguais, sendo plurais. A consequência lógica dessa constatação seria reconhecer, respeitar e compreender as diferenças engendradas por distintas razões: desde as geográficas às históricas, das culturais às psicológicas e sociais.
Saindo da analogia com a Bahia, passamos a sustentar que a diversidade é em si positiva e se constitui em um valor. Por que então o vírus da intolerância se alastra com tanto vigor, entre a gente? Quem está por trás, promovendo as polarizações, o fanatismo, a volta de discriminações arcaicas e patéticas, alimentando as comparações, os julgamentos e insuflando a usina de estereótipos e rótulos?
Cidadãos brasileiros sofremos com a falta de respeito e reconhecimento das diferenças. Mecanismos de inclusão frágeis favorecem as violências simbólicas engendradas pela transformação das diferenças em desigualdades. Como incluir e respeitar as mulheres, as pessoas do universo LGBTQ+, os negros, as pessoas com desabilidades, os moradores de periferias, os idosos, os indígenas e os ciganos, além de tantas outras, na cidadania e no direito à diferença? Como estancar a onda de ódio e intolerância religiosa no Brasil?
Por muito tempo, em diversos lugares do mundo, certas práticas comportamentais ou até traços corporais foram considerados como criminosas, desviantes ou patológicas. Pessoas canhotas, não faz muito tempo, deveriam se predispor a um adestramento, que significava condicionar a mão esquerda (sinistra) à destra, a mão direita, em latim. Hoje, esta percepção mudou. A diversidade de cada vida humana passou a ser vista como uma possibilidade legítima de cada um.
A violência e a intolerância continuam, todavia, presentes nos nossos dias. É preciso dar voz e vez ao direito de cada um a expressar sua identidade e sua diferença na existência, com responsabilidade e de comum acordo com a ética da instituição, precisa vigorar.
Atualmente, em escala mundial, crescem forças conservadoras de rejeição à diversidade e às políticas de reconhecimento. Uma onda populista homogenizadora nos ameaça, destilando o ódio à diferença, fortalecendo preconceitos e distorções, potencializada pelas redes sociais. Vivemos um tempo de regressão ao pensamento único, de intolerância à lógica e ao pensamento crítico e analítico. Gurus especializados em lavagem de cérebros são pagos a peso de ouro para transformar sujeitos humanos em ovelhas e comunidades em rebanhos, todos facilmente manipuláveis e sujeitados ao seu controle, criando religiões de medo & culpa para facilmente controlar cabeças.
O que nos leva a classificar e categorizar pessoas, produzir hierarquias, posições, lugares e promover discrepantes atribuições de valor? Discriminações e preconceitos estão arraigados e se reproduzem com um tipo de violência que transforma a diferença em desigualdade.
O preconceito é silencioso, dissimulado e cínico, se aproveita da “tolerância envergonhada”, tipo meia boca, o oposto da “tolerância ativa” que reconhece o valor da diversidade – seja em termos sociais, políticos e organizacionais – e busca reforçá-lo. Abraçar a diversidade exige vigilância contínua em relação à fermentação do preconceito e sua transformação em ódio fundamentalista.
Se o preconceito é calado e sonso, o ódio decorrente dele é insano, ruidoso e histérico. Chegou a hora de fazer barulho e declarar em alta voz o valor das diferenças.
Carlos Linhares
Colunista
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