Por que Diversidade?

abr/2022

A importância de fazer as perguntas certas

 

Diversidade se tornou um tema delicado, capaz de travar diálogos e cessar conversas. Muitos medos permeiam a temática, dentre eles – talvez o maior – o receio de uma fala equivocada gerar consequências, quase irreparáveis, de hostilização pública e repúdio coletivo – o famigerado “cancelamento”. Cada vez mais, este parece um assunto espinhoso e próprio a um grupo específico (ou grupos específicos, no plural), ao qual se atribui o que se chama “lugar de fala” – ainda que a grande maioria não saiba o que o termo significa – de modo que muitas pessoas preferem se anular no debate. Muitos conceitos, mudanças, novidades… muita informação. Diante disso, surgem inúmeros questionamentos. Para muitos, o dilema é o seguinte: se é tão arriscado, por que, então, devemos falar sobre diversidade?

Primeiro, porque é um fenômeno. Por mais que se tenha a impressão de que só existe diversidade quando ela é evocada, a realidade é que esse tema atravessa todas as pessoas e todas as relações… desde sempre, mesmo que não se perceba. Ela existe, por si só, e tem efeitos relevantes – mesmo que não se note (ou não se queira notar). E é importante pontuar que não é uma pauta inventada por grupos de militância a fim de “tornar o mundo mais chato” ou, ainda, “impor regras”, mas, sim, uma agenda que surge – e urge – a partir de reflexões e tomadas de consciência a respeito das dinâmicas sociais que são influenciadas por ela. Porque, sim, é objeto de estudo de ciências social, política e afins. É mais do que mera opinião. Demanda estudo, responsabilidade e engajamento. Ignorar a diversidade é muito mais arriscado do que conversar sobre ela. E o caminho é esse mesmo: entender que, para essa abordagem, os achismos são meras hipóteses que, normalmente, se provam superficiais e insustentáveis… porque aquilo que você “acha” costuma considerar apenas as suas experiências, mas a sua vivência no mundo não é a experiência do mundo. “Somos todos iguais”, afirmam os mais otimistas e/ou igualmente alienados. “Não somos todos humanos?”

Sim, somos todos humanos, porém, humanos diferentes, diversos. Nossas diferenças não são uma fraqueza, mas uma potência. Não há problema em sermos diferentes, o problema é se essas diferenças forem utilizadas para gerar desigualdade com base em preconceitos. Sendo assim, um primeiro passo para iniciar essa conversa necessária é não pressupor respostas. Dessa forma, abre-se espaço para escuta, aprendizado e transformação, nessa ordem… escuta é a primeira etapa. E essa é uma palavra-chave para uma das máximas do Marketing: entender para atender. E se as marcas ouvirem bem, essa é uma das principais demandas dos consumidores, não dá pra fugir. A busca é por personalização e, por consequência, busca-se identificação. Mas como conseguir fazer pessoas diversas se identificarem com uma mesma marca? É preciso que a própria marca seja diversa. Por isso, reitero: ignorar a diversidade é mais arriscado do que assimilá-la. Se a sua marca existe para as pessoas, por que ela não contempla esse aspecto absoluto que é a diversidade existente entre elas?

Para respostas satisfatórias, é necessário fazer as perguntas certas. Muitas marcas ainda estão se questionando “por que diversidade?” – mesmo diante de tantas respostas óbvias – quando deveriam se perguntar “para quê diversidade?” e se deixar moldar pelas respostas. É essencial saber questionar; fazer indagações assertivas é um diferencial; mas, mais do que isso, apreender as respostas é decisivo. Enquanto algumas marcas ainda se questionam, da maneira mais básica, o porquê de incluir a diversidade como pilar, outras, como consequência de uma tratativa séria sobre o tema, ampliam seu mercado e aumentam seus lucros. Este resultado é um validador que motiva… mas é este o fim ou o meio? Afinal, para quê diversidade?

Alan di Assis

Alan di Assis

Colunista Convidado

Comunicólogo/jornalista, MBA em Marketing Estratégico, gestor de comunidade, produtor e consultor em Diversidade

Mais artigos

Ansiedade, estresse e correria – entre Chronos e Kairós

A experiência da ansiedade só é “divertidamente” nos filmes da Disney. Na vida real, cobra um pedágio altíssimo e requer maturidade emocional e resiliência. É sintomático que a animação “Divertidamente 2”, do estudio Pixar, tenha atingido um estrondoso êxito e muitos...

ler mais

Consumo insustentável na sociedade do excesso

Recentemente, fui convidado pelo Instituto Multiversidad Popular, em Posadas, na capital da Província de Missiones, na Argentina, para falar para os alunos de curso de pós-graduação. A missão da “Multi”, como a instituição é carinhosamente conhecida, é difundir...

ler mais

A potência oculta dos ritos de passagem

Vocês já repararam quantos ritos celebramos nos meses do verão? A temporada começa antes do Natal. Sagrados ou profanos, eles estão presentes nas tradicionais confraternizações que demarcam o fim do ano laboral, com os lúdicos “amigos-secretos”, típicos ritos “de...

ler mais

Priorizar a saúde mental

Foi há uns tantos anos atrás, eu atuava em um RH do Polo Petroquímico de Camaçari, foi quando escutei um operário chamar um colega de chão de fábrica, de Tarja Preta. Rodrigo era seu nome e ele havia usado antidepressivos ao longo de um período da doença. O bastante...

ler mais

junte-se ao mercado