Seria o ChatGPT a chave para destravar o potencial do Metaverso?

fev/2023

O assunto do uso da inteligência artificial para realizar atividades humanas é bem polêmico e possibilita discussões diversas

 

A pergunta que trago no título deste artigo parte de uma fala de Satya Nadella, CEO da Microsoft, no World Economic Forum de 2023. O executivo reforçou sua visão sobre o potencial do metaverso para a sociedade, com impactos em diferentes setores, e destacou como fundamental para seu desenvolvimento o aumento do “senso de presença”, que pode ser alcançado com o uso de soluções de inteligência artificial, como o ChatGPT.

Vale entender um pouco melhor todos os elementos que estão nessa relação. O ChatGPT é uma aplicação gratuita e aberta que usa a chamada Inteligência Artificial Generativa (ou IA Gen). Isso quer dizer que se trata de um sistema que aprende ao consumir dados (o chamado aprendizado de máquina) e que é capaz de conceber textos, imagens, videos etc a partir de inputs externos. Ou seja, algo que o ser humano faz: nós passamos a vida acumulando informações e, quando estimulados, processamos esse repertório para conceber algo original. A Microsoft, liderada por Satya Nadella, está disposta a investir US$ 10 bilhões na Open AI, iniciativa que possibilitou o ChatGPT.

O assunto do uso da inteligência artificial para realizar atividades humanas é bem polêmico e possibilita discussões diversas. Entretanto, tenho me dedicado diligentemente a acompanhar o desenvolvimento dos metaversos, dada as projeções do tamanho desse mercado em 2030. Tem uma frase popular que diz que “são necessários muitos anos de esforço para ser bem sucedido de um dia para o outro”. Com tendências futuristas é o mesmo: uma tecnologia demanda anos de desenvolvimento, tentativas, erros e acertos para dar certo de uma hora para outra. Tenho mantido o olho fixo nessa bola (o metaverso), e, por isso, vou analisar aqui os ganhos que uma ferramenta como o ChatGPT traz para os metaversos.

A aplicação mais imediata tende a ser no aprimoramento dos personagens virtuais. Diferentes marcas têm usado avatares para as personificarem em ambientes digitais. A Lu, do Magazine Luíza, é um grande exemplo. Entretanto, a atuação desses avatares hoje ainda é limitada pela capacidade de um ser humano definir o que ele vai fazer ou falar; ou por soluções de automação que oferecem experiências truncadas (quem nunca teve uma experiência ruim com um chatbot?). A IA Generativa, como o ChatGPT, oferece uma experiência similar a de interagir com um humano. Por isso, com certeza, marcas devem absorvê-la e aplicá-la nos avatares que interagem com o público nos metaversos.

Outra aplicação muito provável é usar a capacidade criativa de aplicações como ChatGPT para conceber e executar experiências imersivas personalizadas. Quando vamos para metaversos como o Descentraland ou o Roblox, a etapa de criar ambientes drena tempo e demanda uma curva de aprendizado. Usar a IA Gen permite criar ambientes e experiências muito rapidamente, de acordo com o interesse dos usuários, melhorando a experiência nos metaversos inclusive para pessoas com baixo conhecimento técnico.

Retomando a fala de Nadella, a Inteligência Artificial Generativa é capaz de criar experiências que aumentem o sentimento de presença das pessoas nos ambientes virtuais, possibilitando um maior e melhor uso dos metaversos, que permite a interação social e a colaboração entre pessoas driblando as limitações físicas. Nas palavras do CEO da Microsoft, o papel da IA Gen neste caso é como o de um co-piloto: agindo nos bastidores, preenchendo lacunas, corrigindo falhas, antecipando demandas etc, mas sem assumir o controle e ditar as regras.

 

 

Publicado originalmente no site Meio e Mensagem

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Lucas Reis

Lucas Reis

Colunista

Presidente da ABMP, CEO da Zygon e Doutor em Comunicação pela Universidade Federal da Bahia

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