Reflexões sobre Fake News e o poder

abr/2020

Informação é poder. Sempre foi. Até o século 20, quem detinha a informação detinha o poder. No século 21 o poder é de quem compartilha a informação. Isso está atrelado ao crescimento da internet e às redes sociais. Então, podemos afirmar que o fenômeno das fake news está intimamente ligado a uma questão de poder.

Não falo apenas do poder enquanto instituição política governamental. Mas também aos pequenos poderes. Toda pessoa bem informada é admirada e torna-se referência no grupo social em que vive. Daí que a fonte principal de disseminação de fake News sejam os grupos de WhatsApp. Em especial os grupos de família ou de amigos. Quanto mais restrito é o grupo, as pessoas se sentem mais à vontade para exercer os seus pequenos poderes.

Mas o poder hoje não está apenas no compartilhamento da informação, mas no controle das narrativas. Então, as fake news não são apenas notícias falsas, mas narrativas construídas a partir de crenças individuais ou de grupos para o exercício do poder. Existem muitos estudos psicológicos e sociológicos que indicam que as pessoas tem a tendência de acreditarem em informações que reforçam suas crenças pessoais. Daí o reforço em tantas teorias da conspiração: de que vacina prejudica a saúde e de que a terra é plana, etc. Como já dizia o escritor George Orwell (1984): “quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado”.

Hoje vivemos na era da pós-verdade, onde não prevalecem os fatos, mas as narrativas dos fatos. As pessoas vivem nas suas bolhas e entram nas suas redes sociais para confirmar suas crenças. Entretanto, as notícias falsas sempre existiram. Antes eram chamadas de boatos, rumores, fofoca de bastidores, boca-boca. Nas corporações eram chamadas de “rádio peão” ou “rádio corredor” e até, pejorativamente, de “imprensa marrom”.

E embora o presidente norte-americano Donald Trump tenha reivindicado para si a autoria do termo, o dicionário Merriam-Webster, que existe desde 1828, o desmentiu informando que a expressão é usada desde o final do século 19. O fato é que a expressão passou a ser usada com mais frequência durante a eleição americana de 2016, quando Trump se elegeu, sob fortes acusações de ter usado esse recurso para vencer seus opositores.

As fake news potencializadas pelas redes sociais causam um prejuízo incalculável para a sociedade. Um exemplo disso foi a sabotagem das campanhas de vacinação. E qual é a solução? Fake news tem remédio? Sim tem! O remédio é a informação bem apurada, cuidada por profissionais e a capacidade de saber separar uma coisa da outra.  

Antes de compartilhar uma informação é necessário checar a fonte. Não importa se a pessoa que tenha lhe enviado mereça sua confiança. E muito menos importa se aquilo faz sentido para você. Na dúvida, não compartilhe. E isso tem a ver com cultura e educação. É um longo processo. Mas pra começar, é importante valorizar o jornalismo sério. Em tempos de pandemia e de fake news, o jornalismo sério ganha ainda mais relevância. Por isso, fortalecer o chamado jornalismo tradicional veiculado através o rádio, os jornais e a tv, ainda é o melhor remédio para gerar o boca-boca real e seguro.

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O conteúdo e opinião publicados neste artigo são de inteira responsabilidade do autor ou autora.

Suely Temporal

Suely Temporal

Colunista Convidada

Jornalista, diretora da agência ATcom Comunicação Corporativa

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