Entrevista: Antoine Tawil – Vice-presidente da FCDL Bahia

abr/2020

” Nossa torcida e nosso esforço é de superar essa crise rapidamente, de forma segura, e que nosso estado e nosso país recuperem a capacidade de crescimento.”                                                                                                                                                                    

                                                                                                                                                                          

 

 

Antoine Tawil é empresário, vice-presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas da Bahia, conselheiro do Sebrae-BA e cônsul honorário da Inglaterra em Salvador. Formado em Administração de Empresas pela Universidade de Oxford, atuou nos Estados Unidos e em outros países como executivo, até iniciar no varejo, trajetória de mais de 25 anos.

Naturalizado brasileiro, país onde vive há 37 anos, acumula participações ativas no mercado baiano. Foi presidente da CDL Salvador por dois mandatos, da FCDL, do Fórum Empresarial da Bahia e vice-presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas, além de prêmios pela liderança e empresariado, recebendo ainda o título de cidadão soteropolitano e baiano.

Dono de 10 lojas de grife na Bahia e Pernambuco, como muitos outros comerciantes e empresários no mundo, Tawil vive um momento tão inédito quanto crítico. Shoppings, lojas, escolas, academia e muitos outros setores estão de portas fechadas sem previsão de reabrir ao público, afetando toda uma cadeia produtiva. Nesta entrevista, o empresário ressalta a mobilização do setor e a importância da integração dos governos para a retomada da economia o mais rápido possível, ainda que o rápido seja mais lento que o necessário para poupar as empresas e seus funcionários.

 

 

ABMP: A pandemia do Covid-19 tem causado prejuízos ainda incalculáveis para a economia mundial, o que causa muita preocupação. Como a FCDL Bahia está dialogando com os empresários e associados nesse momento? É possível afirmar que 2020 foi um ano perdido para a economia?

AT: Realmente, é uma situação nunca vista antes, uma guerra contra um inimigo invisível, nem os técnicos em saúde pública, muito menos os economistas, sabem como lidar com a crise. E temos tido pouca margem de ação, pela falta de equipamentos hospitalares e medicamento eficaz. Sabemos que o que estamos passando é muito sério, que deixará sérias consequências econômicas e sociais. Temos conversado com empresários e lideranças todos os dias, e também com os governantes, buscando informações, propondo ações e cobrando medidas de proteção, para o micro, pequeno e médio empresário. O Estado é quem tem a melhor condição de atuar para minimizar os impactos na economia, minimizando assim os efeitos sobre seus cidadãos. Numa crise desta, todos são impactados, a indústria, a agricultura, o comércio e serviços, os MEIs (microempreendedores individuais), enfim, a nação inteira.

 

ABMP: Como lojista e representante de uma instituição varejista que abrange toda a Bahia, quais são hoje os principais medos e anseios da classe empresarial baiana diante da crise econômica em andamento?

AT: Da parte do comércio, o maior medo se tornou realidade, com a obrigatoriedade de fechar as lojas. Uma das armas para reduzir o contágio pelo vírus é o isolamento social, que apoiamos porque não há muito o que fazer, entretanto, é uma medida amarga e que impacta imediatamente o comércio. Significa deixar de vender, perder receita de forma repentina, e desequilibrar o caixa das empresas. E sabemos que os compromissos financeiros não desaparecem junto com a receita. Nossa obrigação com as contas a pagar, aluguéis, folhas de salário, entre outros, permanecem.

 

ABMP: Para a economia da Bahia, a Páscoa, Dia das Mães e festas juninas são períodos importantes, que impulsionam e fazem girar a roda da economia. Por causa do Covid-19, essas datas devem sofrer grandes impactos e os índices de desempenho serão menores, comparando com 2019. Como a FCDL Bahia pretende auxiliar os lojistas e empresários diante desse prejuízo iminente?

AT: Os próximos meses serão muito difíceis. Tem razão quando diz que as datas comemorativas ajudam a impulsionar o movimento do comércio. E nem é preciso fazer uma avaliação muito profunda para constatar que serão seriamente prejudicadas. Nossa orientação em conversa com os lojistas é de ficar sempre atento às iniciativas do poder público, em todas as suas esferas, que precisa responder com corte de impostos, postergação dos prazos de recolhimentos, auxílio na folha de pagamento. E pelos bancos federais e comercias, é importante a agilidade de liberação das linhas de crédito, taxas de juros mais humanas, exigências de garantias mais factíveis. Entre nós, temos feito uma grande alimentação nos grupos de conversa, repassando informações confiáveis e úteis, dando orientações, indicando cursos de aperfeiçoamento e atualização. Sabemos que a margem de ação é limitada, mas estamos fazendo o que é possível para atravessar esse momento da melhor forma possível.

 

ABMP: Na Alemanha, cerca de 750 bilhões de euros serão utilizados no combate ao Covid-19 e manutenção da economia, objetivando o freio da dívida e fundo de estabilização, além de outros benefícios. Trata-se de medidas que não resolvem o problema, mas que diminuem o impacto da crise. O Governo Federal vem anunciando liberação de recursos para os estados municípios, além de auxílio de R$600 para pessoas de baixa renda. Acredita que estas ações são a solução para dirimir a crise econômica e manter o dinheiro circulando?

AT: Sim, a atuação do Estado é fundamental neste momento. Em todo o mundo, os governos estão injetando recursos na economia para salvaguardar e proteger as empresas, visando manter a atividade econômica, garantir os empregos e evitar um colapso, um problema social de maiores consequências. Nossa posição é que é preciso mais agilidade nessas liberações, uma ação mais forte para reduzir o peso de impostos e facilitar o máximo possível com ações de desburocratização. Para dar espaço para as autoridades de saúde conseguirem combater o vírus e controlar sua disseminação, é preciso essa rede de proteção à economia, não tem outro caminho. Esperamos que as medidas surtam efeito e possamos voltar a alguma normalidade o mais breve, ainda que seja aos poucos.

 

ABMP: Projetando um cenário pós-quarentena, como vê a Bahia economicamente? Acredita numa retomada imediata do mercado?

AT: Esperamos que a retomada seja a mais breve possível. Para isso, também vamos precisar contar com a efetividade e duração das medidas que estão sendo formuladas e apresentadas hoje. O entendimento entre o Governo do Estado e a Prefeitura de Salvador, juntos, contra um só inimigo, o Covid-19, deixando de lado as divergências partidárias, nos deixa ainda mais esperançosos. A Bahia sairá dessa, muito mais rápido e com menos prejuízos e sempre com as benções do Senhor do Bonfim e da nossa Santa Dulce. Por isso, temos acompanhado tudo de perto e estamos intervindo, propondo, cobrando, porque sabemos que é uma crise que deixará a suas marcas e suas vítimas.

 

 

ABMP: Em tempos de crise como esta quarentena, empresas estão usando a criatividade para manter a produtividade ou, ao menos, diminuir os prejuízos. Alternativas como home office, e-commerce, delivery e até novos produtos são lançados. Diante do que estamos vivendo, é possível ver um lado positivo e entender que situações como essa são um convite para se reinventar e conquistar novos mercados?

AT: Um mundo ideal é um mundo sem crises epidêmicas de grande escala, que obrigam as pessoas ao isolamento. Claro, na vida há o imprevisível, há países que convivem com situações críticas e precisam se reinventar ante catástrofes inesperadas. As alternativas que empresários baianos e brasileiros têm usado nesta crise agora é o caminho da criatividade que o momento exige, mas, mesmo nisso, há uma limitação e não contempla todos os setores. Precisamos da normalidade até para exercitar a busca de novos negócios e novos mercados. Nossa torcida e nosso esforço é de superar essa crise rapidamente, de forma segura, e que nosso estado e nosso país recuperem a capacidade de crescimento.

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