Entrevista: Armando Avena – Economista, jornalista e escritor
“A recessão foi uma das piores do Brasil, mas já está passando. Na verdade, o primeiro trimestre de 2017 mostra que o país já começou a sair da recessão, mas de forma lenta. O problema do Brasil, neste momento, é muito mais de caráter político do que econômico.”
ABMP: O Brasil passa, atualmente, por uma das piores recessões da sua história. Só de desempregados já são mais de 14 milhões, segundo o IBGE. Quais outros impactos desta crise afetaram a economia no primeiro semestre de 2017? Houve algum avanço em relação ao segundo semestre de 2016?
A.A: A recessão foi uma das piores do Brasil, mas já está passando. Na verdade, o primeiro trimestre de 2017 mostra que o país já começou a sair da recessão, mas de forma lenta. O problema do Brasil, neste momento, é muito mais de caráter político do que econômico. Prova disso é que o PIB cresceu 1% no primeiro trimestre em relação ao último trimestre do ano passado. Ou seja, a economia voltou a crescer.
Além disso, as vendas no comércio, em maio, cresceram mais de 2% em relação a abril, mostrando que o varejo já está se recuperando. Poucas vezes se viu um ambiente tão bom no país em termos econômicos, pois a inflação vai fechar o ano abaixo da meta, em cerca de 4%. A taxa de juros está em tendência decrescente e já atingiu 10,2%, que é o menor patamar desde 2013.
Isso significa que o Brasil está pronto para dar um salto de crescimento, bastando, para isso, que o Congresso aprove a Reforma Trabalhista e, pelo menos, a idade mínima da Previdência Social. Se isso for feito, o país vai entrar num ciclo de crescimento econômico e os índices de desemprego, que são os últimos que tradicionalmente apresentam recuperação, vão começar a cair. Aliás, já há sinais de que alguns setores, como a agropecuária e indústria, voltaram a contratar.
Então o grande problema do Brasil, neste momento, é a crise política, que, se for agravada, prejudicará a economia. Não importa o desfecho político, só não pode haver ruptura na política econômica brasileira.
ABMP: Neste cenário, qual sua análise sobre o desempenho da Bahia?
A.A: A Bahia é um caso à parte, primeiro porque, tradicionalmente, os estados do Nordeste demoram mais a responder ao crescimento econômico por conta de suas deficiências, inclusive de infraestrutura. A Bahia, por exemplo, cresceu menos que o Brasil no primeiro trimestre, com seu PIB aumentando apenas 0,3%. Mas o setor agropecuário já apresentou um crescimento significativo de 30% e a indústria começa a dar sinais de crescimento. Como o estado é pobre, o setor de comércio demora mais a responder, até porque tem uma vinculação mais estreita com a taxa de desemprego.
Agora, a Bahia tem dois setores fundamentais que precisam, urgentemente, de políticas, tanto do governo estadual quanto do municipal, que são o turismo e a construção civil e que estão num dos piores períodos de recessão de sua história. O turismo precisa resolver o problema do Centro de Convenções e a construção civil, que, finalmente, tem um PDDU (Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano) e uma LOUS (Lei de Ordenamento do Uso e da Ocupação do Solo) adequada, precisa sair do seu marasmo, deixar de ficar esperando os juros caírem mais, e voltar a investir em novos projetos. Também aí é fundamental uma política de estímulo relacionada, por exemplo, ao ITIV (Imposto Sobre a Transmissão Intervivos) e à redução da burocracia para construir em Salvador.
Mas, apesar disso, se o Brasil retomar o crescimento econômico, a Bahia vai atrás, já que poderá notar tanto no setor de serviço quanto no comércio sinais de crescimento.
ABMP: Sobre as reformas trabalhista e previdenciária, quais as vantagens e desvantagens para o trabalhador e empresário?
A.A: O Brasil está pronto para o crescimento, mas ele só será sustentável se as reformas forem aprovadas. A Trabalhista é urgente, mas a Previdenciária pode ser feita gradativamente, à medida que o país for se estabilizando politicamente.
A Reforma Trabalhista é boa para empresários e trabalhadores, porque grande parte dos trabalhadores que está fora do mercado, com as novas regras, vai poder entrar no mercado. E os que já estão e que podem perder um benefício ou outro, pelo menos terão o consolo de manter seus empregos. O que não pode é um sistema trabalhista tão caro, que o empresário, após dois ou três anos, quando o trabalhador está pronto do ponto de vista da qualidade, tem que trocá-lo por outro mais “barato”, porque os benefícios sociais crescem exponencialmente. A Espanha fez uma reforma semelhante à brasileira e é um dos países da Europa que mais crescem.
Já a Previdenciária é mais complicada. Não se pode tirar direito de quem contribuiu a vida toda. Por isso é preciso fazer a reforma lentamente, aprovando, em primeiro lugar, o novo limite de idade e, depois, discutindo, após as eleições de 2018, um novo modelo previdenciário para o país.
ABMP: Qual será, então, a direção a ser seguida pelo país nos próximos meses? Em quanto tempo a economia voltará a crescer, caso sejam aprovadas as reformas?
A.A: O futuro do Brasil está nas eleições de 2018, nas quais se espera que venha “o novo”, a exemplo do que aconteceu na França. Até lá, o país tem que passar a “pinguela” sem a ruptura da política econômica, seja com Temer, Rodrigo Maia, Tasso ou quem quer que seja.
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