Entrevista: Bob Wollheim – CEO & Partner da The B Network
“É pensar menos em veículo e mais em plataforma. É ter um jeito mais beta, mais lean e mais fast. Não é pouca coisa, de fato. Para nativos digitais ou para aqueles que conseguirem aprender, se reinventar, não haverá problema e as oportunidades são enormes.”
“Empreender é uma cachaça que vicia”
Em seu perfil no Twitter, o publicitário Bob Wollheim se descreve como “Empreendedor Cereal & Aventureiro”. A expressão denuncia um espírito ao mesmo tempo criativo, bem-humorado e com conteúdo, aspectos que aparecem nesta entrevista à ABMP. Bob Wollheim, um dos grandes nomes da publicidade atual, começou sua carreira num longínquo 1987, quando criou na garagem de casa a Publi/3, sua primeira empresa. A partir de então acumula uma intensa trajetória como empreendedor, que resultou até agora em dois livros sobre o tema, “Empreender não é brincadeira!” e “Nasce um Empreendedor”. Seu currículo é extenso. Wollheim é um dos fundadores da youPIX, plataforma focada em discutir a cultura da internet, e da Startupi, portal sobre mercado de startups e tecnologia. Presidiu a Starmedia no Brasil, a Ideia.com, foi head of digital do Grupo ABC, é autor de artigos. Atualmente, concilia sua atuação na The B Network, no CESAR Instituto de Inovação e na MuchMore. Isso quando não está rodando pela América do Sul com a família numa Kombi. Ele conta essa experiência a seguir, onde também fala sobre o futuro da publicidade, empreendedorismo no Brasil e sobre o Scream Festival, realizado pela ABMP, onde ele fez uma participação concorrida.
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ABMP: A expressão “Copo meio cheio da comunicação” – que foi tema de sua palestra no Scream Festival – pode ser entendida como uma maneira otimista com a qual o você vê o futuro em relação às mudanças que o mundo da comunicação está passando. Pode explicar um pouco o que pensa sobre isso?
B.W: Exato. Existe muita gente que acha que o segmento está em crise e essa gente só vê um copo “se esvaziando” e ainda acha que “os anos de ouro nunca mais voltarão”. Eu vejo o contrário, que teremos anos dourados novamente, pois a publicidade nunca foi tão assertiva, tão eficiente, e tão efetiva, como nos tempos digitais. O que concordamos, eu e quem vê o copo meio vazio, é que estamos vivendo um final de ciclo, onde muitas empresas e pessoas não participarão do novo ciclo, seja por despreparo, irrelevância ou ainda por simples miopia. Mudam meios, formatos e mindset. Portanto, muda muito. Não é sair da TV e ir pra Internet. É muito mais profundo do que isso. É sair de um mindset intuitivo, para um mindset data Lead (liderado por dados). É parar de pensar num mindset de mídia para pensar num de pessoas (clusters). É ter um mindset muito mais ROI (retorno sobre um investimento) do cliente do que da agência/plataforma. É pensar menos em veículo e mais em plataforma. É ter um jeito mais beta, mais lean e mais fast. Não é pouca coisa, de fato. Para nativos digitais ou para aqueles que conseguirem aprender, se reinventar, não haverá problema e as oportunidades são enormes. Estão aí as consultoras como Accenture para confirmar o que penso, não é?
ABMP: Ainda sobre sua participação no Scream, o que o você achou da iniciativa? Em sua avaliação, eventos como o Scream são importantes para o mercado de comunicação?
B.W: Passei quatro anos no Grupo ABC onde pude conviver com baianos incríveis, não só criativos, mas do negócio também. Não vou citar nomes para não deixar ninguém de fora injustamente. Sou também conselheiro do CESAR, centro de inovação do Recife, e sócio da MuchMore, uma empresa que nasceu em pleno Porto Digital no velho Recife – também não vou citar nomes para não esquecer algum. Portanto, tenho estado próximo da força de um Brasil fora do eixo Rio/São Paulo e vejo que a internet está permitindo uma transformação profunda em tudo, inclusive, permitindo que iniciativas fora dos centros “tradicionais” tenham chance de se desenvolver. Penso que empresas interessantes no segmento de comunicação nascerão fora do eixo, como já vemos acontecer com a In Loco, do Recife, apenas como um exemplo. A criatividade baiana é reconhecida mundialmente, acredito que o empreendedorismo baiano também será, cada vez mais. Há tudo para isso. Tudo isso para dizer que iniciativas como o Scream são fundamentais para impulsionar essas mudanças todas. Parabéns. Feliz em participar e levar minhas provocações.
ABMP: O senhor iniciou diversos empreendimentos e tem uma trajetória vinculada a esse tema, incluindo seus dois livros. Qual a sua avaliação sobre o empreendedorismo no Brasil? Mudou muito desde que o você abriu sua primeira empresa ainda em 1987?
B.W: Mudou muito e pra muito melhor. Muito Melhor. Hoje, as pessoas entendem o que é. Quando comecei, éramos os “desajustados”, aqueles que não se enquadravam no sistema. Hoje é diferente. Tem muito mais estrutura, apoio, incentivo e um ecossistema muito maior e mais desenvolvido. Agora, vale notar, as taxas de insucesso de empreender aqui e em qualquer lugar do mundo são muito altas. Empreender não é pra todo mundo, portanto, sempre será difícil, complexo e com mais fracassos dos que sucessos. É assim que é.
ABMP: Qual a principal dificuldade para quem quer empreender hoje no país? Especialmente para os jovens?
B.W: Acho que são duas: falta de capital, que ainda é pouco, apesar de muito melhor do que era, e burocracia, que segue sendo ainda muito grande, não só para abrir e fechar a empresa, mas para tocar o dia a dia. Somos um país complexo para tudo e para empreender não é diferente. Infelizmente. Mas essas também são as oportunidades. Temos problemas demais que podem ser resolvidos com startups.
ABMP: É preciso ter dinheiro para empreender? Em uma de suas declarações, você diz que investir parte do próprio dinheiro num negócio em que se acredita cria comprometimento. Pode falar um pouco sobre isso, por favor?
B.W: Arriscar o dinheiro dos outros é fácil, né? O empreendedor de verdade acredita tanto na ideia dele que aposta seu dinheiro ou seu ganho, seu salário. Não é questão de ser muito ou pouco dinheiro, é mais questão de “colocar o seu na reta”. Pode ser um salário mega baixo ou nenhum salário, pode ser apenas suas economias pessoais, mesmo que pequenas. Qualquer investidor irá sentir muito mais compromisso quando vir que o dono aportou seu próprio capital, penso. Quanto a ser preciso capital, sim, acho que para a maioria dos negócios é preciso algum capital. Dá pra começar com muito pouco na web, mas logo, logo algum capital será preciso. Nem que seja trabalhar por uns bons meses sem salário, no mínimo. Mas achar que dá pra empreender sem nada, é iludir as pessoas.
ABMP: O senhor tem uma trajetória rica em projetos, empresas, funções, muitas vezes simultâneos. Você se descreveria como um workaholic? É o destino de todos os que são inquietos em suas carreiras?
B.W: Não sei se sou workaholic, pois empreender é uma cachaça que vicia rs. Eu sou, sim, um inquieto. Acredito que quem quer, vai lá e faz. Acredito na força empreendedora de construir coisas, empresas, projetos, iniciativas. O sentido de workaholic vem com muita coisa que acho ruim, tipo abandonar a família, não criar os filhos, não curtir a vida e tudo em nome de um futuro que muitas vezes não chega. No meu caso, eu curto muito a trajetória, então não sou maluco por trabalho. Tenho, na real, pensado muito nisso desde que fui pai, buscando equilibrar a vida. Vi uma imagem outro dia que tenho usado muito com as pessoas e comigo mesmo: nenhum CNPJ vale um AVC rs.
ABMP: Ainda sobre a pergunta anterior: é possível fazer bem muitas coisas ao mesmo tempo e ter qualidade de vida num mundo tão competitivo?
B.W: É preciso ficar atento, ter um processo de autoconhecimento e exercitar a autocrítica constantemente. Ou seja, não é fácil. E a vida passa rápido e quando viu, já era. Pergunta excelente, muito relevante nos tempos atuais.
ABMP: Numa de suas entrevistas de 2015, perguntado qual era o futuro da publicidade, você falou que é promissor, que o negócio será muito diferente, e precisaríamos voltar às origens. Mudaria algo nessa resposta? Ainda pensa assim?
B.W: Olha só, acho que mesmo sem pretensões de profeta, três anos depois já dá pra dizer que está muito diferente, mesmo no Brasil, ainda tão concentrado em mídia TV Globo, não é? Nem a Globo é mais a mesma. Acho que não mudaria nada na resposta, de fato já está diferente. Se será um negócio futuro promissor, é minha forte impressão, pois não vejo a atividade com problemas. Quanto a volta às origens, acho que é meio o que está acontecendo, não? Voltar a emocionar pessoas por produtos, serviços, empresas, causas. A publicidade mega estruturada ficou um negócio que parece ser um negócio de fazer mídia, não? Mas não pode ser. E não é. É um negócio capaz de atrair atenção, gerar engajamento, simpatia e empatia.
ABMP: Há uma mudança acontecendo agora no perfil dos profissionais nas mais diferentes áreas. Na sua opinião, quais as preocupações (e habilidades) os jovens devem ter para se tornar grandes profissionais?
B.W: Há uma mudança radical. Se o negócio está em mudança, os profissionais também, totalmente. Não acho que se pode pensar em profissões com os desenhos atuais, de Atendimento, Mídia, Planejamento, Criação, Tráfego, Administração, e sim como novos desenhos: cientistas de dados, gestores de comunidade, gestores de clientes, analistas de ROI, analistas de investimentos, serão os perfis mais procurados e necessários. Os engenheiros invadirão a publicidades. Os matemáticos serão muito importantes. Os analistas de investimentos cada vez mais procurados. Não tem como reinventar um negócio com as mesmas ferramentas de sempre. Nem com as mesmas pessoas de sempre. Claro que algumas podem mudar, fazer um reboot, mas muitas ficarão pra traz e novas chegarão. E tudo em um ritmo acelerado. Acredito tanto nisso que investi numa empresa, a Tera, que faz exatamente o reboot de profissionais para esse novo mundo de comunicação.
ABMP: No início do ano, você fez uma viagem com a família de Kombi pelo Chile por 30 dias. E falou dos benefícios de ficar off, entre outros benefícios. Para um profissional contemporâneo é quase tarefa impossível “desplugar” hoje em dia, não?
B.W: Antes de mais nada, vale dizer que amo o mundo tecnológico. Muito. Fico lembrando da minha infância. Quão limitadas eras as coisas, não é? A Barsa? A Enciclopédia Britânica? A TV? Melhor nem começar a descrever o que se via na TV. E só. Quem sabe uma peça de teatro ou um cinema de vez em quando. E, hoje, observando meu filho e eu mesmo, que mundo maravilhoso está a um click de nós, não é? TEDs sensacionais, séries, estudos, pesquisa, séries infantis maravilhosas, cursos e mais cursos gratuitos, entretenimento que não acaba, ciência, história, biologia, tanta coisa sensacional. Não consigo achar que os tempos da Barsa e de brincar de bola na rua eram melhores. Eram apenas diferentes. Voltando à sua pergunta, essa viagem foi uma experiência. Tem um pouco a ver com a pergunta do equilíbrio, pois eu queria um tempo longo e intenso com a minha mulher e com meu filho de 4 anos. Foi absolutamente incrível. Menos porque desplugamos da internet, até porque nem fizemos isso, mas porque na Kombi o ritmo e a velocidade são outras e você despluga da ansiedade que a internet causa na nossa vida, mesmo que você continue plugado na internet. Queria lembranças emocionais profundas e conexões mais intensas. E consegui. Mas não desplugamos da internet ao longo dos 30 dias de viagem, desplugamos do ritmo que ela nos impõe. Ou, na real, nós nos impomos, pois ela não impõe nada. Acho que conseguimos que a internet trabalhasse por nós e não nós por ela, que é a provocação aqui. A grande busca. E que, acho, qualquer profissional deve buscar sim. Não é unplug it é command it.
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