Entrevista: Cleber Paradela – Vice-Presidente de Planejamento da Sunset Comunicação

“No Brasil, existem iniciativas fantásticas em tecnologias como inteligência artificial, data science, VR/AR, edu tech etc. E já vi brasileiros dando palestras e aulas nos EUA sobre esses temas.”                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                        

capa_cleberNascido no interior de Minas Gerais, o criador do blog “Canalhinhas” e do badalado bloco de carnaval paulistano “Vem ni mim que eu tô com Tudo”, Cleber Paradela, foi sócio e head por 12 anos da agência TUDO, uma das marcas mais bem avaliadas por anunciantes no ranking global Agency Scope. Além disso, já atuou como professor no curso Bootcamp da Miami Ad School e optou por passar uma temporada em São Francisco e Palo Alto, nos Estados Unidos, onde desenvolveu novos estudos e experiências na área de tecnologia. Atualmente vice-presidente de planejamento, ficando responsável pelo direcionamento estratégico e criativo da empresa Sunset Comunicação, elabora ações para marcas como Itaú, Johnson&Johnson, Seara, Fiat, Jeep e Óticas Carol.

ABMP: Seria possível trazer um panorama do atual momento do mercado publicitário no Brasil? E em relação a Bahia, qual momento estamos vivendo e qual o seu olhar sobre nosso mercado?

C.P: O mercado brasileiro represou o quanto pôde a inovação. O modelo de remuneração aqui não tornou a digitalização um assunto prioritário e agora chegamos no limite do modelo de negócio. Não dá mais para esticar a corda. O cliente percebeu esse movimento há alguns anos e aos poucos foi rejuvenescendo, se preparando, estudando, estruturando e passou a conduzir a carruagem, ao invés de ser conduzido pela agência. O resultado disso é a perda da relevância das agências de propaganda dentro das estruturas das empresas. Em paralelo, as consultorias (Accenture, IBM, McKinsey, etc) expandiram a atuação dentro dos clientes e passaram a ocupar um espaço ainda mais estratégico. E se isso acontece em São Paulo, onde as grandes verbas de mídia estão concentradas, em breve também poderá acontecer em mercados regionais. Precisamos redefinir nossos super poderes, pois o modelo antigo não cabe mais.

ABMP: Em certo momento da carreira você tirou um ano sabático para estudar no Vale do Silício. Poderia falar um pouco sobre essa experiência e quais os maiores ensinamentos você adquiriu nesse período?

C.P: Batizei de nanosabático, porque acabei sendo convidado para uma nova oportunidade de trabalho e precisei encurtar o meu período para dois meses. Sempre trabalhei muito, desde muito novo, e me dei poucas oportunidades na vida de não fazer nada. O plano inicial era passar uma temporada de autoconhecimento e também de muitos estudos. Com a nova configuração, resolvi dedicar dois meses de forma integral aos estudos. Visitei startups e gigantes de tecnologia, participei de diversos bootcamps e meet ups de data sciencestrategy contentux strategyartificial intelligence, entre outros, e dediquei muitas e muitas horas a leituras e filmes sobre inovação e tecnologia. Me senti um concurseiro geek. Mas também fiz coisas divertidas, como correr a Maratona de São Francisco (42km) sem treinar (não tentem isso em casa). Mas voltando aos estudos, em geral o profissional médio de propaganda se forma, emenda numa pós-graduação e depois cresce na “escola da vida”, e deixa os estudos para os novos entrantes. Eu tenho aprendido cada vez mais que devemos ser como médicos, que precisam se atualizar a vida inteira, afinal, as doenças também mudam. Desde que entendi isso, coloquei os estudos na minha rotina diária, mas como tarefa de prazer e não de obrigação. Há dois anos não tenho mais carro e uso as cinco horas semanais que passo no táxi indo e voltando do trabalho, estudando. O maior ensinamento é que não existe aprendizado sem muita dedicação e suor.

ABMP: Durante sua estadia no Vale do Silício foi possível perceber diferenças entre o Brasil e Estados Unidos no aspecto publicitário e de busca por novidades na tecnologia?

C.P: No Brasil, existem iniciativas fantásticas em tecnologias como inteligência artificial, data science, VR/AR, edu tech etc. E já vi brasileiros dando palestras e aulas nos EUA sobre esses temas. Existe gente boa, mas o maior gap é em relação ao incentivo que o país, como um todo, dá para a fomentação da cultura de empreendedorismo. Tanto nos campos sociais, tecnológicos, econômicos, de meio ambiente e políticos (STEEP Analisys). Além disso, a visão de longo prazo do americano consegue gerar um ambiente mais consistente para a inovação e o investimento nela. Tem também a questão da educação que muda tudo. As universidades americanas formam cidadãos globais com pensamento exponencial, focados em impactar bilhões de pessoas.

ABMP: Em pouco mais de um mês estaremos em 2018. O que podemos esperar para este ano no mercado publicitário? O fato de ter Copa do Mundo e Olimpíadas de Inverno influencia em algo?

C.P: 
Existe um filme franco-uruguaio-brasileiro sensacional chamado O Banheiro do Papa, que conta a história de uma população da cidade uruguaia de Melo, divisa com o Brasil, que investe todas as economias na expectativa de receber milhões de fiéis durante uma visita do papa. A expectativa acaba sendo muito maior que a realidade e no final todos acabam dando com os burros n’água (desculpem o spoiler!). O Brasil viveu recentemente os seus dois momentos de Banheiro do Papa com a Copa do Mundo e Olimpíadas. Diversas agências anunciaram divisões especiais de marketing esportivo, abriram sede no Rio, investiram em estudos e profissionais e, no final, tomou um 7×1. Os grandes eventos esportivos concentram os grandes investimentos na mão de poucos veículos, poucos clientes e pouquíssimas agências, e ainda é muito baseado em modelos de comissionamento. Portanto, se eu tivesse que dar uma dica para os empresários da comunicação seria: tente fazer em 2018 tudo o que você procrastinou na digitalização da sua empresa nos últimos 20 anos. Faz sem dó, top down. E só depois de conseguir essa façanha, anuncie pro mercado. Anunciar que está começando um processo de digitalização antes mesmo de começar é piegas e ninguém mais acredita.

 

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