Entrevista: Daniel Ribeiro – Publicitário

jan/2024

“A premissa básica é trabalhar com a verdade e manter a equipe preparada para essa comunicação de mão-dupla que o digital permite. Ou seja, entender que o meio digital, mais do que ser uma janela para falar, é um local para se ouvir “                                                                                                                                                                                           

 

Publicitário (UCSal 2000), com mais de 20 anos de experiência como Redator e Diretor de Criação em agências de publicidade e campanhas eleitorais. Foi Sócio-diretor do EstúdioMundo Audiovisual. Nos últimos 10 anos, atuou como professor universitário nos cursos de Comunicação Social, em disciplinas de Redação, Criação e Audiovisual (UNIJORGE e UNIME). Atualmente é Coordenador Geral de Mídias Digitais na Secretaria de Comunicação do Governo da Bahia (SECOM).

ABMP: Como a sua formação em Publicidade e a experiência em agências contribuíram para a sua trajetória profissional até se tornar Coordenador Geral de Mídias Digitais da SECOM?

DR: Comunicação é algo em constante transformação. A publicidade que estudei durante a minha graduação, no final do século XX e início do século XXI, tem muitas diferenças da que tenho compartilhado com meus alunos nos últimos 10 anos. Mas algumas coisas não mudaram: o caráter multidisciplinar e a necessidade de se atualizar e acompanhar as tendências. Esse, talvez, tenha sido o maior aprendizado tanto na minha formação acadêmica quanto na minha trajetória profissional: estar atento às mudanças e se manter interessado em trabalhar com uma diversidade de pessoas e competências que nos levam a experiências sempre coletivas. Acredito que esse caminho me levou a adquirir repertório e capacidade de gestão de equipe para que, hoje, eu possa contribuir na transformação digital da comunicação e dos serviços públicos da Bahia através da integração de diversas áreas diferentes, inclusive fora do âmbito da comunicação.

ABMP: Você é conhecido por estar presente nos times de comunicação de campanhas eleitorais nacionais e internacionais. Poderia compartilhar um pouco sobre os desafios enfrentados e as oportunidades encontradas ao trabalhar neste ramo?

DR: Minha relação com a comunicação política vem desde quando estagiei na Câmara Municipal de Salvador, no final da década de 90, incluindo os períodos eleitorais dessa época. Claro que, à medida que os anos passavam e as campanhas se intensificavam, aumentava também a minha responsabilidade dentro das estruturas. Tive oportunidade de atuar em campanhas proporcionais e majoritárias em todas as instâncias: municipal, estadual e federal, atuando sempre como Redator Publicitário e, com o tempo, Diretor de Criação e Coordenador de Campanha. Durante esse tempo, vivi as mudanças nas ferramentas, estratégias e, até mesmo, na legislação, acompanhando as transformações sociais e tecnológicas, especialmente com o surgimento e fortalecimento da comunicação digital. Hoje, não dá para assimilar uma campanha eleitoral que não tenha no digital uma grande fonte de informação e conhecimento acerca do eleitorado, seus hábitos e anseios, além da sua função como meio de comunicação com potencial de entregar mensagens altamente segmentadas e com grande poder de viralização e conversão. Claro que os meios tradicionais como TV e Rádio, bem como toda a mobilização de rua, ainda são peças fundamentais para o sucesso de uma campanha eleitoral. Mas o que vimos nos últimos anos é uma ampliação do uso e dos recursos destinados às mais diversas ferramentas digitais.

ABMP: Diante do cenário digital em constante evolução, quais são os maiores desafios que você enxerga na promoção da publicidade governamental online?

DR: Um desafio fundamental é perceber que a publicidade governamental no ambiente digital, especialmente nas plataformas de redes sociais, precisa se apresentar mais como conteúdo do que como uma adaptação da publicidade tradicional (offline). Falamos muito sobre isso no dia a dia, tanto na Academia quanto na SECOM e nas agências de publicidade: não dá para querer, apenas, adaptar peças e estratégias publicitárias dos meios tradicionais, é preciso entender a linguagem orgânica e pessoal do digital, e se apropriar dessa linguagem. A verdade é que as pessoas não entram nos ambientes digitais para ver publicidade, elas querem conteúdos interessantes e estabelecer conexão com outras pessoas. Eles querem ver histórias que sejam capazes de gerar identificação e engajamento (palavra muito cara na comunicação digital). Inclusive, em muitos casos, as pessoas pagam para não ver publicidade. Então, uma premissa fundamental é “menos publicidade e mais conteúdo”, no sentido de desenvolvermos ações de comunicação que dialoguem com o público na rede de uma maneira mais natural, mais alinhada com os hábitos de uso dos meios digitais. Estratégias de micro-segmentação, uso de influenciadores e produtores de conteúdo, compreender e acompanhar as trends do momento e, claro, estar atento às novas ferramentas que estão sempre surgindo. Mesmo com todas as mudanças, o objetivo segue sendo o de levar comunicação de qualidade para as pessoas. O que precisamos fazer, mais do que nunca, é adaptar a mensagem ao meio. Inclusive, como sinalizou um dos mais importantes teóricos da comunicação, McLuhan, ainda na década de 1960, quando cunhou um dos conceitos mais difundidos no meio acadêmico da comunicação: o meio é a mensagem.

ABMP: Como você equilibra a necessidade de promover iniciativas governamentais de forma eficaz nas mídias digitais, mantendo a transparência e a confiança do público?

DR: A premissa básica é trabalhar com a verdade e manter a equipe preparada para essa comunicação de mão-dupla que o digital permite. Ou seja, entender que o meio digital, mais do que ser uma janela para falar, é um local para se ouvir o que as pessoas estão falando. Com isso, é fundamental entender como e o que está sendo falado nas redes, quais as pautas relevantes, quais os pontos de vista e sentimentos sobre cada tema. Mais do que nunca, nós, que trabalhamos com comunicação pública e governamental, precisamos entender que não dá para fugir do debate: é fundamental estar pronto para dialogar. Afinal, diferente de um outdoor, por exemplo, em que a pessoa vê a peça mas não interage com ela, no digital as pessoas estão ávidas por interação (positiva ou negativa), e não se furtam a comentar em postagens que toquem em temas sensíveis para a opinião pública.

ABMP: Nesta gestão, a SECOM Federal criou a Secretária de Políticas Digitais, para criar normas e regras para a comunicação digital. Como você enxerga o papel das SECOMs estaduais nesse processo de normatização da comunicação no ambiente digital e quais temas você enxerga como prioritários.

DR: Um dos maiores desafios da atualidade no nosso setor é o combate à desinformação e às fakenews. Para isso, é fundamental a regulação das mídias digitias e o desenvolvimento de ações de educação midiática, ainda mais quando estamos falando de uma sociedade ainda tão desigual. Aqui na Bahia, o Secretário de Comunicação André Curvello está liderando um processo de diálogo com outras SECOMs estaduais, que culminou com a criação de um Conselho de Secretários Estaduais de Comunicação para fortalecer esses debates. Na nossa Coordenação Geral de Mídias Digitais, essas pautas também fazem parte do dia a dia da operação. Como todo processo de transformação, estamos trocando o pneu com o carro andando, como diz o conhecimento popular. É fundamental aproveitar o aprendizado acumulado nas últimas décadas e tentar adaptar para a nova realidade. Conhecer a comunicação digital tentando fugir dos estigmas e mitos, a partir do envolvimento de profissionais que conheçam as ferramentas, aproximando a academia e o mercado. Por exemplo, agora com o boom da pauta da IA (inteligência artificial), é importante que não entremos em um processo de congelamento e estagnação com receio da ferramenta. Ao contrário, precisamos entender que o que acontece hoje é o resultado do acúmulo de conhecimento e encarar o desafio de tornar o uso dessas ferramentas tecnológicas mais seguro e responsável.

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