Entrevista: Georgia Nunes – Idealizadora da Amora Brinquedos Afirmativos
“Nosso objetivo é construir uma educação antirracista por por meio de brinquedos, e por isso idealizamos e trazemos para o mundo brinquedos que suscitam o diálogo sobre representatividade, autoestima e identidade.”
Empreendedora social e especialista em design estratégico e docência, Geórgia Nunes é idealizadora da Amora Brinquedos Afirmativos @amorabrinquedos, negócio social que possui o propósito de promover uma educação antirracista por meio de brinquedos. Nesta entrevista, ela reflete sobre a origem da empresa e os impactos que o negócio causou nas crianças, principalmente no que diz respeito a sensação de pertencimento das crianças negras.
ABMP: Para quem são os brinquedos da Amora?
GN: Os brinquedos Amora são para todo mundo. Para todas as crianças, negras e não negras. Nosso objetivo é construir uma educação antirracista por por meio de brinquedos, e por isso idealizamos e trazemos para o mundo brinquedos que suscitam o diálogo sobre representatividade, autoestima e identidade.
ABMP: A Amora Brinquedos Afirmativos, sua empresa, é inovadora por levar para as crianças peças lúdicas de cunho antirracista. Algum fato específico motivou a abertura do negócio ou a inspiração veio da demanda social que segue ainda latente?
GN: O que motivou a criação da Amora foi a ausência de bonecas pretas no mercado quando busquei comprá-las para uma ação social da qual participaria em 2015. Essa ausência me levou a criar o que iniciou como um projeto social de doação de bonecas negras e virou o que somos hoje: um negócio social que produz não apenas mais bonecas pretas, mas diversos outros brinquedos, tais como quebra cabeça, livros de colorir, giz tons de pele, canecas e até jogos digitais!
ABMP: As bonecas de pano são um case de sucesso da empresa que trazem pertencimento também nos acessórios. Os turbantes e roupas estampadas tem identidade com a ancestralidade e cultura negra. Qual é o propósito real disto?
GN: Todas as roupas das bonecas ebonecos Amora são confeccionadas com tecido africano, que além de serem bastante coloridos, carregam em si toda essa história e cultura africana, que também fazem parte de nossa história.
ABMP: A caixa de giz de cera que substitui a aquarela convencional por 12 tons de pele, já aparece em algumas listas de material escolar, levando representatividade e senso de pertencimento a milhares de crianças pretas. Qual é impacto disso na vida e autoestima na infância dessas pessoas?
GN: Eu acredito que todos as pessoas da minha geração, e das gerações anteriores, foram ensinados nas escolas que o “lápis cor da pele” era aquele tom rosinha, que se a gente parar pra pensar bem, não representa a cor da pele de ninguém aqui no Brasil, nem das pessoas não negras. O Giz Amora Tons de pele foi um produto pensado para estar em todas asescolas desse país para que a gente não reproduza o racismo linguístico que aprendemos, ele vem para mostrar para as crianças que todas elas tem direito a ter uma pele, que não existe uma cor universal para representar toda a diversidade do nosso país. Desde que foi lançado, no final do ano passado, a gente já recebeu diversos depoimentos emocionantes de várias pessoas que contavam histórias das suas infâncias, onde elas não se viam representadas, e esses depoimentos só fortalecem o quanto a gente precisa construir um mundo antirracista.
ABMP: Como esses produtos chegam às escolas?
GN: Os produtos Amora chegam às Escolas de diversas formas. O Giz Tons de Pele, por exemplo: como foi um produto pensado para estar no ambiente escolar, tem 30% de desconto para escolas (professores e professoras). Mas além disso, realizamos um trabalho de doação de brinquedos Amora para Escolas públicas: esses brinquedos são doados de forma avulsa ou através dos eventos gratuitos que realizamos, chamados de Eu Brinco, Eu existo! Nesses eventos,além da doação dos brinquedos, acontecem também as contações de histórias realizadas por uma Boneca Amora que vira gente; dessa forma a gente consegue falar pras crianças, dentro do universo lúdico, sobre história e cultura africana e afrobrasileira. E essas doações só são possíveis porque cadaboneca Amora vendida gera outro brinquedo, que é doado.
ABMP: A Amora é um negócio social, ou seja, o lucro só vem se o ganho social vier acompanhado. Uma das ações do seu negócio é doar um brinquedo a uma escola pública a cada produto vendido. Qual sua estratégia dentro do marketing social para equilibrar despesas, lucro e solidariedade?
GN:É bem simples, a gente utiliza a tecnologia social One for One: a cada Boneca Amora vendida, outro brinquedo é doado. Assim todo mundo que compra uma Boneca Amora sabe na hora que compra que está gerando diretamente um impacto para crianças da rede pública de ensino.
Crédito da imagem: Cristóbal Fraga
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