Entrevista: Lili Almeida – Chef
“Meu objetivo principal é comunicar de uma forma positiva com as pessoas. Sempre quis colocar no olho do outro um milésimo do brilho que a vida me empresta. Por isso quero sempre levar isso para as pessoas, através do melhor que puder. “
Foi na cozinha que Lili Almeida ganhou o mundo. Além dos pratos que ressaltam a culinária e sabores da Bahia, a chef baiana participa de programas de televisão, faz sucesso no Instagram e estrela campanhas publicitárias de grandes marcas.
O que muitos não sabem é que Lili possui uma carreira na comunicação. Formada na área, utiliza o que aprendeu em sala de aula para palestrar, prestar consultorias, ministrar aulas, gravar receitas e declamar provérbios inspiradores nas redes sociais.
Personagem de março da entrevista do mês da ABMP, a chef conta, nesta conversa, um pouco da sua trajetória e sobre como enveredou na gastronomia. Também no bate-papo, explica como utiliza as redes sociais ao seu favor, aprofunda as adaptações motivadas pela pandemia e antecipa novidades.
ABMP: Você contou que começou a cozinhar em São Paulo, no ano de 2005. O curioso é que você era de uma outra área, a comunicação. Por qual razão você resolveu se desbravar na gastronomia? O que inspirou você a entrar nesse universo?
LA: Quando migrei para a gastronomia, estava num processo de mudança de alimentação. Esse momento, inclusive, me fez reencontrar comigo e com a minha família. Pois, o estar ali no fogão, cozinhando, significava matar a saudade das pessoas que sentia falta. Tudo isso através da culinária.
Além disso, esse processo para mim foi de descoberta, de uma nova habilidade, de descobrir que, na realidade, eu cozinhava muito bem, o que me surpreendeu. E com o passar do tempo, isso foi ficando muito forte dentro de mim. E juntando isso com o ‘tapar o buraco da saudade’, vi uma oportunidade de seguir em algo que estava amando fazer. Olhando bem, vi que foi a escolha certa, e que me trouxe até aqui.
ABMP: Vivemos num tempo no qual as pessoas utilizam outras como espelho, como inspiração. Além disso, a sociedade busca insights a todo tempo, para desenvolver ideias e projetos. Você tem sido essa fonte que inspira pessoas e gera insights com seu trabalho e poder da voz. Como é para você estar desse lado, participando de eventos como o Scream Festival e TEDx São Paulo, e estrelando campanhas publicitárias?
LA: Para mim, ser referência para as pessoas é uma honra imensa. Todos ao redor percebem o quanto meus olhos brilham quando tenho a oportunidade de levar palavras para alguém. Fico sempre arrepiada quando recebo mensagens de agradecimento pelas coisas que digo. E isso me intriga muito, pois, na verdade, digo coisas óbvias. E com essa vivência aprendi que coisas óbvias precisam ser ditas, pois falo coisas que estão dentro de mim, e isso faz com que muitos se identifiquem.
Numa conversa com meu compadre, ele me disse que está muito feliz em ver que mais pessoas estão tendo acesso a pessoa que sempre fui. E é meio que verdade, desde criança sempre incentivei pessoas, sempre busquei as qualidades daqueles que estão ao meu redor. E isso sempre me aproximou de todos, inclusive as mais inesperadas, por conta do meu interesse em entender a história de vida de cada um. Portanto, é muito bom ter essa comunicabilidade, ser e poder ser referência para as pessoas.
ABMP: Você está no hall de chefs de cozinha que também são “artistas”, que ocupam espaço nas redes sociais, eventos, mercado publicitário e também na televisão. Como é estar no canal GNT, do Grupo Globo, um dos principais da TV por assinatura no Brasil? Pelo fato de você ter vindo da comunicação, o processo de adaptação foi mais tranquilo?
LA: Obrigada pelo ‘chefs que também são artistas’. Sempre fui da arte. Quando criança, tinha oito anos e apresentei o show de talentos do colégio que estudava. E isso para mais de 500 pessoas. Fecho os olhos e lembro perfeitamente desse dia, pois foi um dos momentos mais felizes da minha vida.
E hoje, sou totalmente derivada dessa Liliam criança. Uma pessoa apaixonada por palavras e que sempre sonhou em comunicar. Costumo dizer que certos desejos nossos são tão fortes que nem precisam ser verbalizados, basta pedir a Deus. E isso tudo me emociona, porquê sou uma grande fã do GNT e programa Saia Justa, que assisto desde o início. Por isso, é uma honra imensa escrever e fazer parte de um time tão sensacional, feitos por pessoas que sou fã. Essas coisas da vida me fazem acreditar mais em mim, além de me fazer ter mais apreço, carinho e cuidado pelas coisas que escrevo e falo. Quero sempre fazer melhor e o melhor, principalmente por ser mulher e negra. Preciso valorizar e fazer dessa oportunidade uma referência positiva para as pessoas.
ABMP: Durante a pandemia, você teve uma grande ideia: usou as redes sociais para declamar provérbios que aprendeu com sua avó. Isso ocasionou no aumento de sua popularidade, e consequentemente de seguidores. Conte como foi essa ideia e como você lida com o fato de ser uma pessoa pública.
LA: No início da pandemia, tinha terminado de reformar o meu restaurante, que fica na minha casa. Então, com a chegada da pandemia, não pude inaugurá-lo, por conta das medidas de isolamento. Fiquei muito mal e resolvi sentir essa tristeza e a abracei. Depois, joguei tudo para o universo e resolvi me mexer, pois sabia que isso ia ser revertido de maneira positiva, numa mudança de situação.
E quando me sinto perdida, no meio de um vazio, volto para a minha infância. E foi isso que fiz. Fiquei mais perto da minha família e fui buscar um caderno antigo de cozinha que eu tinha, do período que comecei a cozinhar em São Paulo. Curiosamente, minha avó sempre falou ditados, e nesse caderno de cozinha comecei a escrever tudo que ela falava, pois pensava que poderia fazer algo bacana com esse material. E na pandemia abri esse caderno e encontrei tudo aquilo que tinha escrito. Isso foi o que me tirou a tristeza e o que me deu a projeção. Acho incrível como o poder que uma simples frase possui. Um simples bom dia mudou a minha vida e o de tantas pessoas.
Observo muito a minha caminhada. Por essa razão, acredito que, se fazemos o bem, é o bem que segue a gente. Por isso minha vida está toda amarrada, pois a minha intenção e consciência é de sempre fazer o bem. Não só a mim, como todo o entorno. Uma vez uma amiga me falou: ‘o caminho que você fez lhe protegeu’. Claro, erro muito, como todo ser humano, mas as sementes escolhidas e plantadas com amor sempre germinam de uma forma positiva.
ABMP: Ainda sobre a pandemia, você também teve que se adaptar a uma nova forma de viver, agir, conviver e trabalhar. O Covid-19 ainda não faz parte do passado, mas está presente de uma outra maneira. Como foi para você esse período que exigiu uma reinvenção?
LA: Acho que para nós, mulheres, se reinventar é parte do cotidiano. Eu sempre falo que a mulher é uma das coisas mais incríveis que existem. Só de pensar que nós somos capazes de gerar uma outra pessoa, dá para perceber que isso é grande demais.
Por isso, não fiquei parada, sem me movimentar. Li muito, estudei muito, e refleti como poderia usar a internet para propor mudanças interessantes e positivas na minha vida, e foi o que rolou. Dou um exemplo: no dia 12 de outubro de 2020 decidi que iria levar minha família para morar numa casa melhor e hoje estou morando numa casa melhor, com minha mãe e com minha filha. E todos os meses, quando vejo um boleto no meu nome, explodo de alegria, de felicidade. Isso tudo é fruto do meu trabalho, principalmente na internet. Foi o que mudou a minha vida, pois falei e fiz. Procuro sempre pensar em não deixar os momentos ruins afetar a minha fé, pois a vida não é plana, não estamos em linha reta subindo e seguindo em frente o tempo todo. Às vezes não estamos bem, descemos, paramos, descansamos, regredimos. E eu sei que, quando não estou num bom momento, penso que aquilo vai mudar e que preciso me mexer para aquilo acontecer. Graças à vida, não fico paralisada. Sei que o movimento é o responsável pela mudança de vida.
ABMP: Trazendo um olhar sobre o futuro, 2022 ou até mesmo 2023, como planeja direcionar sua carreira?
LA: Meu objetivo principal é comunicar de uma forma positiva com as pessoas. Sempre quis colocar no olho do outro um milésimo do brilho que a vida me empresta. Por isso quero sempre levar isso para as pessoas, através do melhor que puder.
Para este ano, especificamente sobre gastronomia, meu maior projeto é falar sobre a culinária afro-brasileira num cenário nacional, para que eu possa ser uma mulher representativa dessa culinária em eventos, encontros, festivais e debates. Ao lado de outras pessoas, falando e abrindo portas para outras virem.
No que diz respeito a comunicação, meu intuito é fazer com que minhas habilidades apareçam cada vez mais, nos trazendo benefícios de vida e financeiros. E que eu seja mais vista cada vez mais como a bela comunicadora que sou.
Créditos:
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