Entrevista: Luis Moreira – Gerente Executivo na Rede Bahia

jul/2022

“As pessoas não estão, elas são multiplataformas. A publicidade já entendeu isso e, cada vez mais, trabalha de forma transversal e complementar sua mensagem entre os diversos meios.”         

                                                                                                                                                                        

Rádio, muito mais que uma ferramenta de informação, uma indústria que nunca tem medo de mudar, redefinir e se renovar. Atualmente, por conta da internet e redes sociais, vem passando por uma grande transformação. Está cada vez mais multi, muito além do dial ou frequência AM, integrando com a TV, interagindo nos celulares.

Por conta desse universo aberto, em expansão e em constante ebulição, a ABMP conversa com Luis Moreira, que liderou por mais de cinco anos o Núcleo de Entretenimento do grupo, reunindo emissoras como GFM, Jovem Pan, Bahia FM e Bahia FM Sul, além do iBahia e iContent. Agora, à frente das Rádios e novamente tendo retornado ao iBahia, estrutura uma nova unidade de negócios que integra todos estes veículos e pavimenta o caminho para um novo ecossistema a partir daí.

Autoridade no assunto, Luis foi um dos responsáveis por trazer a Jovem Pan de volta a Salvador para ocupar o espaço no dial que era antes da CBN, conduziu a mudança de marca (que prefere chamar de “atualização”) da antiga Globo FM para GFM 90,1. A seguir, o que ele pensa e sabe sobre as mudanças do rádio, podcasts, streaming, desafios do setor comercial e muito mais sobre esse universo.

 

 

ABMP: Há tempos, quando se falava em rádio, pensávamos no AM, FM, com pessoas ouvindo canções e notícias no aparelho de som, carro ou celular. Hoje, com a internet, o modo de consumir esse tipo de conteúdo mudou. Hoje é possível ouvir um programa até na televisão aberta ou em serviços de streaming, como YouTube, Twitch e Globoplay. Pelo que vem acontecendo, para onde caminha o rádio?

LM: Com o avanço do digital sobre todos os aspectos da nossa vida pessoal e profissional, fica cada vez mais claro que o rádio como conhecíamos até então não é mais um meio. Caminha a passos largos para se tornar um publisher de conteúdo. Compreender isso é tão fundamental nos dias de hoje para nós profissionais do rádio quanto o fato de não existir mais ouvinte, não existir mais telespectador, leitor e até mesmo internauta. O que existe hoje é audiência. Assim, pura e simples. Afinal, quem hoje escuta rádio na web é ouvinte ou internauta? E quem assiste uma transmissão esportiva da TV no celular é telespectador ou o quê?

As pessoas não estão, elas são multiplataformas. A publicidade já entendeu isso e, cada vez mais, trabalha de forma transversal e complementar sua mensagem entre os diversos meios.

Então, nós, os meios, precisamos acompanhá-los nessa jornada atuando, de forma relevante e consistente, em todos os devices possíveis. É mandatório estar presente nesse ecossistema e ser eficaz conectando pessoas à conteúdos e marcas.

ABMP: Era comum ouvir, ao longo do século XX, que o rádio sempre esteve à beira da morte, pronto para acabar. Ia sucumbir aos jornais, depois televisão e, por fim, à internet. A ferramenta se adaptou aos novos tempos e segue viva, mais forte que nunca, apesar de diferente. A questão é que hoje temos os podcasts, que geram aquela dúvida: rival ou aliado? Diante disso, você acha que essa “novidade” vai se unir ou competir em torno de um único espaço?

LM: A internet é mais que um aliado do rádio. Primeiro é preciso entender que estamos falando de meios que são mais que complementares. Diria que são similares. Características como interatividade e imediatismo, por exemplo, já eram associadas ao rádio antes mesmo da web se tornar parte da nossa vida. Então, vejo como natural enxergar a internet não como um meio e sim como uma ferramenta que permite elevar todo o potencial do rádio e outras de suas características a um outro patamar, desconhecido até o momento.

Não existe mais a barreira geográfica para o rádio. Na web, você alcança sua audiência aonde ela estiver e não mais até onde a potência do seu transmissor lhe permite. Você hoje consegue expandir seu conteúdo para além das 24 horas do dial. Consegue ampliar seu portfólio para além da sua grade de programação.

Podcasts, playlists e até programas podem ser criados nesse ambiente web, seja como complemento do que já está disponível no dial, ou como oportunidade de atrair ou se apresentar a uma nova audiência que, certamente só está disponível neste ambiente e não em outro.

Isso sem contar que o digital vem se mostrando um excelente campo de teste e inovação para novas incursões que a briga pela audiência no dia acaba limitando.

ABMP: Quando pensamos em novidades, geralmente falamos de cases de São Paulo, como Jovem Pan, Rádio Bandeirantes e Band News FM, que possuem transmissões multiplataformas e modernos estúdios televisivos. Na Bahia, o que vem sendo feito de disruptivo?

LM: Assim como no resto do Brasil. Aqui também, na Bahia, vemos muitos movimentos que buscam aproveitar todo o potencial que a web tem a oferecer para o rádio.

Sempre digo que nós de rádio estamos numa maratona nessa questão do digital. E, nesse momento, particularmente, não vejo ninguém para além dos 100 metros. Uns ainda estão na largada se preparando para correr, outros escolhendo qual tênis usar. Há os que já largaram. Existem uns lentos, alguns se acostumando com o calçado e outros começando a pegar velocidade. Mas, no geral, ninguém ainda muito distante do pelotão.

No final, o que quero dizer é que não enxergo nenhum modelo “vencedor”, sabe? Não existe definido um jeito certo de se fazer isso. Evidentemente, há o “básico” que precisa ser feito: um streaming de qualidade, um site relevante para a audiência, uma presença digital nas redes sociais e nas principais plataformas de áudio – sempre na forma e conteúdo adequados para cada uma delas. E, claro, entender e usar o vídeo como um aliado nesse processo – e não simplesmente ligar uma câmera no estúdio e “plugar” na web.

Tudo isso exige dos profissionais do rádio uma mudança de mindset que não é algo que se faça da noite pro dia. Pede um mínimo de conhecimento e qualificação, paciência e planejamento. Isso sim é algo que já deve fazer parte do dia a dia das emissoras.

ABMP: Pensando no público, hoje o WhatsApp é um meio de contato muito utilizado entre a produção da rádio e o ouvinte. Tem ainda outras plataformas, como Instagram, TikTok, Twitter e Facebook, que motivam mais conteúdo, interações e engajamento dos programas. Qual a relevância dessa integração e interação de conteúdos na atração de espectadores e ações comerciais?

LM: Relevância total. Afinal, entendo como ferramentas imprescindíveis para que o rádio continue evoluindo e sendo um meio de destaque entre tantos outros, como sempre foi até aqui.

Se antes existia apenas o telefone como, praticamente, a única forma de interação com o ouvinte e numa única via, dele para a emissora, hoje temos nestas plataformas instrumentos de propagação de conteúdo, de posicionamento de marca e também de campo para novas oportunidades comerciais que nos faz alcançar uma verba no digital até então inexistente para uma emissora de rádio.

Engraçado pensar que antes de todo esse movimento que fez surgir os influenciadores, os locutores de rádio já ocupavam esse espaço junto às pessoas. Então, acaba sendo natural pensar as redes sociais como mais uma via de conexão das rádios com seu púbico.

Outro ponto interessante é perceber que plataformas como o Tik Tok proporcionaram ao rádio um campo vasto de pesquisa para entender de forma mais precisa o que é relevante para a população. Se antes, para montagem de uma grade de programação, você tinha acesso à recursos poucos e limitados, como os famosos pedidos musicais do ouvinte e as trilhas sonoras de novelas e filmes de sucesso, hoje você tem o Tik Tok, o Spotify, o Deezer que lhe apresentam o que as pessoas estão consumindo de música e demais conteúdos.

Inclusive, arrisco dizer que há até uma retroalimentação nesse processo: muitos dos artistas e playlists que fazem sucesso nas plataformas de música, invariavelmente, estão presentes nas rádios. Ao tomar conhecimento do artista ou do lançamento de seu novo “álbum”, as pessoas buscam conhecer sua discografia nestas plataformas. Outras músicas acabam caindo no gosto popular e se candidatam à grade musical das emissoras Brasil afora. É o exemplo claro daquela máxima famosa na Bahia: “Tostines vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?”

ABMP: Indo além da venda de anúncios e projetos comerciais, quais são os outros caminhos mais prósperos para diversificação das finanças?

LM: Primeiro é preciso compreender o que a “mídia X” é hoje, o que ela representa para o rádio e para onde ela caminha. Segundo, internalizar que o digital abriu inúmeras e novas oportunidades comerciais por meio de formatos antes inalcançáveis para uma emissora. Por fim, entender que o rádio como o conhecemos até então não é mais um meio. É sim um publisher de conteúdo – que pode ser tanto em áudio, em vídeo, em texto, quanto em qualquer outra forma existente até então.

O importante é seguir ofertando conteúdo relevante sem perder as premissas tão inerentes ao rádio que são a credibilidade, o imediatismo e a interação.

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