Entrevista: Renata Fernandes – Escritora

dez/2022

O mundo tem mudado com uma velocidade incrível, novas tecnologias aparecem todos os dias, e tem sido um desafio enorme para todos nós acompanharmos essa aceleração frenética e nada linear, seja qual for o nosso campo de atuação                                

                                                                                                                                                                         

 

A reinvenção do mercado literário

 

A Bahia é o lar de grandes escritores como Jorge Amado e Gregório de Matos. Mas engana-se quem pensa que o período de grandes escritores ficaram no passado. A literatura baiana está sempre em movimento e para falar sobre este novo momento, convidamos a escritora Renata Fernandes para compartilhar as suas percepções sobre o mercado literário e o novo leitor. 

 

ABMP: Nos últimos anos, a literatura baiana tem passado por um reaquecimento. E um reflexo disso, é o crescimento de eventos como Flica e Flipelô que recebe todos os anos inúmeros amantes da leitura. Como você tem percebido este mercado e o interesse do público?

RF: O mundo tem mudado com uma velocidade incrível, novas tecnologias aparecem todos os dias, e tem sido um desafio enorme para todos nós acompanharmos essa aceleração frenética e nada linear, seja qual for o nosso campo de atuação.

Essa nova geração já chega no ritmo dessas mudanças velozes e precisamos falar a linguagem desse novo leitor, que é totalmente interativo e tem apresentado dificuldades em atividades que exigem concentração, como a leitura.

Com essa percepção o mercado literário vem tentando conhecer e lidar com essa nova geração de leitores, já que a criança leitora de hoje não é a criança leitora que eu fui, por exemplo.

Precisamos distinguir isso ao mesmo tempo que tentamos trazer essa criança para o ritmo que a leitura necessita. Sim, a leitura deve ocupar esse lugar de imersão e introspecção para aguçar a imaginação e desenvolver a concentração.

Entender como conduzir o mercado leitor, desde o texto ao evento, é essencial para o sucesso dessa tarefa nada fácil, que é trazer a leitura para o lugar de desafio e encantamento, onde as crianças enxergam o livro como um amigo que dialoga com elas, mas sem perder a magia da imersão e introspecção que o momento da leitura exige.

Fácil? Claro que não, mas são novas páginas que precisamos aprender a escrever juntos.

 

ABMP: Renata, nós sabemos o quanto o incentivo à leitura gera impacto na educação e formação do indivíduo. Por isso gostaríamos de perguntar para você que escreve para o público infantil: de onde surgiu essa ideia e o que te motiva a continuar criando histórias para os pequenos?

RF: Surgiu do desejo de me reinventar mais uma vez. Um desejo que me acompanha desde sempre, não à toa passei por 5 faculdades, desde artes plásticas, publicidade, jornalismo, design gráfico – sempre com foco na criatividade – até gastronomia, onde transformar ingredientes aparentemente sem graça, como alho e cebola em comidas saborosas, me parece tão mágico quanto colocar as letras do alfabeto no lugar certo para criar histórias que desafiam a imaginação das crianças e as despertam para o aprendizado de forma lúdica.

Tanta coisa me serve como motivação, desde o sorriso sincero que só as crianças podem ofertar quando gostam verdadeiramente de algo, passando por depoimentos dos pais e professores que relatam o aumento da leitura dos pequenos depois que me conheceram pessoalmente – essa experiência de conhecer o escritor dá uma nova perspectiva dos livros para eles – como também a percepção de que o meu trabalho faz alguma diferença para o mundo, nem que seja com um livro de cada vez.

Mas nada se compara ao sentimento de que encontrei o meu lugar no mundo depois de tantas experimentações. A convicção de que tudo me trouxe para isso, para escrever para os pequenos e fazer seus olhinhos brilharem junto com os meus. É uma sensação maravilhosa de poder ser quem eu sou na minha essência, sem as máscaras que o mundo adulto muitas vezes exige de nós.

 

ABMP: A tecnologia sem sombra de dúvidas tem servido como uma excelente ferramenta para a propagação do conhecimento. Um bom exemplo disso é o uso das redes sociais para incentivar a leitura, divulgar novos livros e propagar conhecimento. Como você tem usado essas plataformas para divulgar os seus livros e quais são as suas percepções sobre o incentivo à leitura nas redes sociais?

RF: Hoje, a tecnologia e as redes sociais nos permitem fazer parte de pequenos clusters que escolhem o que querem e como querem consumir determinado serviço ou produto.

Por um lado, ganhamos em liberdade para oferecer conteúdo e ganhar admiradores sem precisar da mídia tradicional, que sempre direcionou os olhares do público consumidor. Mas por outro lado, as redes abriram espaço para conteúdos e produtos duvidosos sem muito filtro, o que acaba evidenciando muitas coisas sem um critério mínimo de qualidade e colocando todo mundo no mesmo caldeirão.

Falando especificamente dos meus livros, consigo manter uma relação de proximidade com o meu público, ou melhor, com os mediadores da leitura para o meu público (os pequenos não podem e nem devem frequentar redes sociais), ou seja, as famílias e as escolas em sua grande maioria.

As redes ajudam não só a aproximar, mas também a criar um vínculo de confiança que resulta muitas vezes na venda do produto, apesar de achar que as redes têm um papel muito mais institucional do que propriamente de varejo. A venda acaba sendo consequência dessa relação.

Uma vez criado este vínculo de confiança, o incentivo à leitura acaba acontecendo de forma orgânica.

 

ABMP: Por falar em redes sociais, você pode indicar perfis de outros escritores baianos que você admira?

RF: Indico as maravilhosas Emília Nuñez do perfil @maequele e Lulu Lima do perfil @milcaramiolas. Elas fazem um trabalho incrível como escritoras e empreendedoras. Porque, assim como eu, além de escreverem para o público infantil, também têm suas próprias editoras.

A literatura baiana vive e o mercado literário tem se reinventado. E, nós estamos de olho.

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