Entrevista: Vico Barbosa – Head of Production na Jack the Maker
“Por muito tempo, os projetos de inovação dos criativos das agências ficavam no papel e acabavam na gaveta. O mundo agora pede e provoca para que eles coloquem em prática essas ideias inovadoras”
Vico Barbosa
Ele estudou arquitetura, mas entrou no hall da fama dos profissionais baianos trabalhando como designer e publicitário, profissões que exerce há cerca de 10 anos e que acabaram de lhe render três grandes prêmios internacionais, os mais cobiçados do mundo criativo. Vico conquistou dois Leões de prata e um de bronze no Festival Internacional de Criatividade de Cannes, realizado no mês passado, na França, com a campanha “Follow the ball” (vídeo abaixo), para a montadora Nissan, realizada pelas agências Lew Lara TBWA (Brasil) e Jake The Maker (Portugal).
Vico trabalha entre Salvador e São Paulo na gestão estratégica e planejamento de ações de marcas e projetos. No currículo soma parcerias com agências e marcas como Grey, Fischer, Ivete Sangalo, Campari, Avon, Gillette, Youtube, Bradesco, entre outros.
Entrevista
ABMP: Pra começar, parabéns pelos prêmios nacionais e internacionais conquistados com esta campanha. Já dá pra acreditar nesta vitória e perceber que premiações do porte dos leões de Cannes abrem mais portas?
V.B: Obrigado! Dá para acreditar sim, quanto mais no meu caso que sempre considero prêmios como uma consequência de um bom trabalho realizado e não como um objetivo, sabe? Aí quando acontecem os prêmios, a gente recebe uma boa surpresa e o reconhecimento das pessoas de que está no caminho certo. Portas novas já começaram a se abrir.
ABMP: Conte pra gente como foi o processo de construção desta campanha e o que deu mais certo nela. Qual era o principal objetivo? Como foi consolidado, desde a ideia à execução?
V.B: O objetivo dessa campanha/projeto foi um desafio da agência LewLara (agência da Nissan no Brasil), onde eles queriam divulgar um carro que tem diversas funções tecnológicas, e a ideia era que o carro tivesse alguma interação com o jogo. A mídia da campanha era através de inserções nos painéis de LED da lateral do campo e o objetivo era criar algo que chamasse atenção do público para o carro de uma forma curiosa. O nosso desafio era que, de alguma forma, o carro interagisse com o jogo em tempo real. A parte mais desafiadora foi desenvolver uma tecnologia de “trackeamento” da bola em jogo sem atrapalhar nada em campo. Isso significa que não tem chip nem sensores na bola, nos jogadores ou no campo. Tudo foi feito à distância com câmeras especiais e um sistema que foi desenvolvido para isso. Esse projeto levou mais ou menos seis meses desde a primeira reunião, ajustes de ideia até a execução que aconteceu nos dois jogos da final do Campeonato Paulista 2018, em abril desde ano, em São Paulo.
ABMP: Ao ver a transmissão do jogo, fosse no estádio, na TV ou plataformas mobile, em muitos momentos o carro chamava mais atenção que a bola, protagonista de qualquer partida de futebol. Este era o propósito?
V.B: A ideia era mais ou menos essa! Na verdade, esse sempre foi o nosso objetivo. A gente sabia que se isso acontecesse era porque o projeto deu certo! A intenção era chamar atenção dos torcedores que estavam no estádio ou assistindo pela TV, celular para uma mídia (LEDs do campo) que durante uma partida acaba exibindo diversas marcas, mas nada interage com o jogo ou com o torcedor. E era isso que a gente queria fazer de diferente. A reação das pessoas no primeiro momento era de curiosidade e logo em seguida eles percebiam que o carro estava seguindo a bola em tempo real. Fizemos um making of do projeto e a reação do público foi sensacional.
ABMP: Houve alguma crítica negativa expressiva por causa dessa “distração”?
V.B: De jeito nenhum. Afinal, como a ação não atrapalhava os jogadores ou o juiz, os comentários foram sempre os melhores possíveis. Acredito até que, como foram inserções intercaladas na mídia do LED, até ajudavam os torcedores a se distraírem um pouco da tensão de um jogo de final de campeonato. Não chegou nenhuma reclamação para gente.
ABMP: Foi uma ação além do campo físico do estádio, que alcançou diversas plataformas de conteúdo. Qual foi o resultado de alcance de público? Como reverberou nas vendas do veículo anunciado?
V.B: A reverberação do projeto foi incrível. Inclusive durante o jogo. Diversos torcedores que estavam no estádio, as pessoas que estavam assistindo em casa, nos bares e até os profissionais de imprensa esportiva que estavam acompanhando o jogo quando percebiam a ação, filmavam, postavam, etc. A amplificação do projeto durante e logo após o jogo foi maior do que a gente esperava.
A procura pelo veículo também teve um crescimento bem bacana e o mais engraçado é ver as pessoas chegarem nas concessionárias da marca procurando pelo “carro que segue a bola”. O cliente está bem feliz com o resultado.
ABMP: Trazendo para a Bahia, acredita que os anunciantes locais estão abertos para ações inovadoras como esta? E as agências, preparadas para atender?
V.B: Projetos de inovação como esse sempre exigem uma cabeça mais aberta ao novo, ao inédito e para algo que nunca foi feito. E fazer o novo tem um preço (do risco). Com isso, percebo que muitas vezes os anunciantes ainda têm uma grade resistência em fazer projetos assim, pelo risco de deixar de fazer uma ação tradicional (que já deu certo) para tentar chamar atenção numa ação inovadora. Tenho visto que tem algumas (poucas) empresas buscando sair do óbvio e fazer ações e experiências relevantes como essa para chamar atenção do seu cliente. Afinal, com todas as mudanças que temos por aí o desafio é que ocupa o famoso ‘share of heart’ do cliente. Posso dizer que com inovação isso fica mais fácil.
Em relação às agências, acho que elas estão num processo de evolução e transformação do negócio, do formato e de como vão se adaptar ao futuro. De repensar o método. E aí é que vem a oportunidade de abrir a cabeça para fazer novas coisas. Por muito tempo, os projetos de inovação dos criativos das agências ficavam no papel e acabavam na gaveta. O mundo agora pede e provoca para que eles coloquem em prática essas ideias inovadoras, e essa é a hora deles abrirem as gavetas e chamar a gente para conversar, para tirar essas ideias do papel.
Foto: Acervo Pessoal
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