O ESG vai morrer?
Alguns termos, quando muito utilizados, acabam se banalizando ou ainda se transmutando para um tom pejorativo. Desde que comecei a estudar “marketing”, várias décadas atrás, vi o termo sendo utilizado das formas mais diversas e interessantes. Porém, o que mais me desagradou foi quando começaram a falar dos “marketeiros” com um viés negativo. Principalmente quando fortaleceram a temática no mundo político e eleitoral. As pessoas que estão nesta jornada há mais tempo se lembrarão, ou para aqueles que não possuem esta memória é só perguntar para alguém mais velho ou buscar na internet.
O tema sustentabilidade também virou um jargão de tudo. E muitas vezes está sendo colocado somente com o viés ambiental, devido ao uso massivo nas redes sociais e na publicidade. Lembrando que este tema é muito mais do que reciclagem, resíduos ou “salvar” árvores. Já coloquei isso em vários artigos, vídeos e posts.
No mês de junho de 2023 ocorreu o mesmo com o ESG, este acrônimo que ganhou força nestes últimos anos e que muitas empresas começaram a buscar profissionais da área, criar departamentos, fazer treinamentos, desenvolver políticas, divulgar, enfim focar no planejamento, implementação e controle desta gestão.
Saíram várias matérias colocando que o presidente Larry Fink da BlackRock, um dos maiores fundos de investimento do mundo, parou de usar o termo ESG. Justo ele que pediu durante a pandemia para todas as empresas e fundos que a BlackRock investe, utilizarem a gestão do ESG, senão não haveria o investimento. Esta empresa seria o 3º PIB do mundo em ativos que gerenciam, ficaria só atrás da China e dos EUA se comparado em valores em dólares.
Para quem ainda não está acostumado com o termo, o ESG (Environmental, Social and Governance) ou ASG (em português) ganhou destaque colocando as questões Ambientais, Sociais e de Governança como um foco de atenção principalmente para os investidores. E este novo modelo mental de gerar valor começou a entrar nas estratégias de negócios das grandes empresas e influenciar os seus fornecedores.
Fink comentou que o termo ficou politicamente polarizado em grande parte do mundo ocidental, principalmente nos EUA. E que os políticos republicanos têm atacado as metas ESG pois acham que é uma agenda politicamente liberal. Fazendo com que os democratas reajam na defesa das práticas. Com isso algumas empresas também recuaram nos compromissos ESG, como o exemplo das seguradoras que abandonaram uma aliança climática apoiada pelas Nações Unidas.
Será que o ESG, então, vai morrer? Como sempre me perguntam nas palestras, nas consultorias e nas aulas: a moda passará?
Não, pois a BlackRock não mudou a sua posição sobre as questões ESG. E continuará conversando com suas empresas que possuem participação sobre as temáticas de aquecimento global, carbono, governança corporativa e temas sociais.
Anualmente, as cartas do CEO da Black Rock para os CEOs de outras empresas têm direcionado para as questões do ESG e essa avalanche cultural de gestão está afetando também as filiais das multinacionais, os investidores internacionais e as multinacionais brasileiras. Além de todo o mercado nacional e internacional.
E o reforço para a temática está vindo da parte técnica também, pois a IFRS Foundation, a organização que coloca as regras mundiais para o padrão contábil mais adotado pelas empresas de capital aberto do planeta acabou de lançar o padrão global para a sustentabilidade nos balanços. O International Sustainability Standards Board (ISSB) está trabalhando mais de um ano e meio com um conjunto de regras abrindo inclusive para consulta pública antes de “bater o martelo” para este padrão. No início não será obrigatório, mas vários países como o Brasil, Canadá, Reino Unido, Cingapura, Nigéria, Chile, entre outros estão estudando a viabilidade de implementação. Aqui no país os reguladores locais seriam a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e Banco Central. Assim fortalecendo ainda mais as práticas, criando padrões, indicadores e normas para combate ao greenwashing.
E para sedimentar ainda mais a sobrevida do tema, o Relatório Panorama ESG Brasil 2023, da AMCHAM e Humanizadas, apresentou que 82% dos empresários do país acreditam na liderança ativa dos CEOs na agenda. Nesta pesquisa realizada com 574 executivos e executivas de grandes e médias empresas apontou que há a necessidade ainda de capacitação de lideranças e colaboradores (48%), ações de conscientização (47%), entre outros. E 47% das empresas respondentes são referência de mercado na temática ou estão adotando práticas ESG, além 31% estão planejando implementar a agenda ESG.
Ou seja, está cada dia mais dentro da organização estes conjuntos de indicadores que precisam fazer parte das entregas das metas, além da lucratividade. Os riscos associados a estas três letrinhas também podem derrubar grandes empresas e esvaziar o valor da marca em alguns segundos nas bolsas se não bem cuidado. Estes são alguns dos argumentos que fazem com que o fortalecimento do ESG seja uma realidade.
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O conteúdo e opinião publicados neste artigo são de inteira responsabilidade do autor ou autora.
Marcus Nakagawa
Colunista
Professor doutor da ESPM; coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental (CEDS); idealizador e presidente da Abraps; idealizador da Plataforma Dias Mais Sustentáveis; e palestrante sobre sustentabilidade, empreendedorismo e estilo de vida. Autor dos livros: Marketing para Ambientes Disruptivos, Administração por Competências e 101 Dias com Ações Mais Sustentáveis para Mudar o Mundo (Prêmio Jabuti 2019)
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